Origem do coronavírus

 Relatório da Organização Mundial da Saúde conclui que pandemia de covid-19 teve origem animal

 The New York Times 

Documento apresenta primeiras respostas de especialistas internacionais e chineses que foram até Wuhan investigar a origem da pandemia

WUHAN - cidade chinesa aonde se descobriu o novo coronavírus: Sars-Cov-2

A missão conjunta da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da China sobre as origens da covid-19 crê que o novo coronavírus muito provavelmente foi transmitido de morcegos para os humanos por meio de um outro animal. O relatório dá as primeiras respostas sobre o início da crise sanitária, tópico que continua a gerar tensão entre Pequim e o Ocidente. 

Com base nas conclusões de uma equipe de investigação da OMS que passou 27 dias em Wuhan, cidade no centro da China onde surgiram os primeiros casos de covid-19, o relatório só será divulgado na terça-feira, mas jornalistas da Associated Press e do New York Times tiveram acesso antecipadamente. A análise mais completa até o momento sobre a origem da pandemia, tópico essencial para evitar crises sanitárias futuras, não traz grandes surpresas e recomenda estudos mais aprofundados sobre várias, porém pouco prováveis, teorias. 

A única exceção é a hipótese de que o patógeno teria escapado do Instituto de Virologia de Wuhan — suposição promovida sem qualquer embasamento pelo ex-presidente americano Donald Trump. De acordo com a missão de especialistas é “extremamente improvável” que isso tenha acontecido. Incidentes deste tipo, ressalta o documento, são raros e sequer há registros de patógenos próximos ao coronavírus em laboratórios da cidade antes de dezembro de 2019. 

Todas as hipóteses estão sobre a mesa e merecem estudos mais aprofundados e abrangentes”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS, em uma coletiva em Genebra nesta segunda. Ele reconheceu que recebeu o relatório, mas se recusou a comentá-lo mais a fundo. 

As descobertas vêm à tona quase 14 meses após a notificação dos primeiros casos de covid-19 em Wuhan, na província central de Hubei. Desde então, a pandemia já infectou mais de 126 milhões de pessoas e matou 2,7 milhões. Apesar das vacinas desenvolvidas em tempo recorde, variantes mais contagiosas se alastram pelo planeta e levam diversas regiões a implementarem quarentenas. 

Composta por 17 especialistas internacionais e 17 especialistas chineses...

... a missão investigadora crê ser “entre provável e muito provável” que o vírus tenha pulado de um morcego para um animal intermediário e, então, para os humanos.

Vírus similares, afirmaram, foram encontrados em pangolins. 

PANGOLIN - poderia ter sido um dos vetores do novo coronavírus para o ser humano

Os especialistas recomendam ainda estudos adicionais sobre animais domesticáveis que possam ser suscetíveis ao Sars-CoV-2, o causador da covid-19, como gatos e visons. Segundo o relatório, também não está claro se o mercado central de Huanan foi o marco zero do vírus, ou apenas o lugar onde começou a circular em maior escala. O local, onde os primeiros pacientes frequentavam ou trabalhavam, vendia carnes exóticas e animais vivos. 

Além disso, o documento lista uma possível, mas “improvável”, cadeia de transmissão entre animais e humanos por meio de carnes congeladas. Isso havia sido descartado pela OMS, porém há vozes influentes na China que defendem que o vírus chegou a Wuhan por meio de embalagens contaminadas. A inclusão da hipótese aumentou ainda mais o ceticismo ao redor do relatório, já alvo de críticas antes mesmo dos especialistas desembarcarem em Wuhan. 

Funcionários do governo americano, cuja gestão atual e prévia travam disputas em várias frentes com Pequim, acusam a China de omitir informações sobre a pandemia, apontando para informações inicialmente escondidas pelas autoridades locais de Hubei. Washington afirma que os chineses tentam reescrever a história da pandemia, baseando-se no controle da pandemia em seu território — algo usado pelas autoridades para reforçar sua competência diante do caos global. 

Distribuição de casos da Covid-19 em 28 de fevereiro de 2020

Disputas políticas

Seguindo a onda dos americanos, outros governos ocidentais também acusam a OMS de ser demasiadamente mansa diante da China. O governo de Trump chegou a dar entrada no processo para sair do órgão sanitário argumentando que a agência era demasiadamente pró-Pequim, algo revertido pelo presidente Joe Biden já no dia da sua posse. A demanda por uma investigação independente sobre origem do vírus, por si só, foi fortemente impulsionada pelos americanos. 

Críticos também apontam para a falta de transparência e acusam Pequim de manipular o relatório, não divulgado dados brutos e sinalizando que vários dos cientistas chineses responsáveis pela coleta dos dados posteriormente analisados pela missão da OMS têm filiação com o governo. A divulgação do documento supostamente atrasou devido a negociações com o governo chinês que, por meses, pôs obstáculos para que a missão internacional chegasse à Wuhan. 

Em uma entrevista recente à CNN, o secretário de Estado de Biden, Antony Blinken, disse ter “preocupações reais com a metodologia e o processo aplicados no relatório da OMS”, incluindo o fato de que Pequim aparentemente ajudou a escrevê-lo. O governo chinês, que nega todas as acusações de negligência e omissão, respondeu na segunda: 

Os Estados Unidos estão falando sobre o relatório. Ao fazer isso, será que não são os americanos que estão tentando pressionar os integrantes do grupo de especialistas da OMS?”, indagou Zhao Lijian, porta-voz da Chancelaria. 

A missão da OMS nunca teve por finalidade identificar exatamente a origem do vírus, já que isso costuma levar anos. Até hoje, por exemplo, não se pode afirmar com acurácia qual espécie de morcego é responsável pelo ebola, algo estudado há 40 anos. Sabe-se, contudo, que os morcegos carregam coronavírus e, até hoje, o patógeno mais próximo do Sars-CoV-2 de que se tem conhecimento foi encontrado em morcegos. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional / Especial Coronavírus – Terça-feira, 30 de março de 2021 – Publicado às 08h30 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui (acesso em: 30/03/2021).

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