SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS - ANO A - HOMILIA

Evangelho: Mateus 2,13-15.19-23

13 Depois que os magos partiram, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: "Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar". 
14 José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito. 
15 Ali permaneceu até a morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: "Eu chamei do Egito meu filho". 
19 Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse: 
20 "Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino". 
21 José levantou-se, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel. 
22 Ao ouvir, porém, que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de seu pai Herodes, não ousou ir para lá. Avisado divinamente em sonhos, retirou-se para a província da Galileia 
23 e veio habitar na cidade de Nazaré para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas: "Será chamado Nazareno".

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
"Fuga para o Egito" - pintura de Rembrandt (1627)
UMA FAMÍLIA DE REFUGIADOS

Segundo o relato de Mateus, a família de Jesus viveu a experiência trágica dos refugiados, obrigados a fugir de seu lar para buscar asilo num país estranho. Com o nascimento de Jesus não chegou a paz à sua casa. Pelo contrário, imediatamente a Sagrada Família se viu envolvida por todo tipo de ameaças, intrigas e penalidades. 

Tudo começa quando sabem que Herodes busca o menino para acabar com ele. Como acontece tantas vezes, sob o aparente bem-estar daquele reinado poderoso, perfeitamente organizado, esconde-se muita violência e crueldade. A família de Jesus busca refúgio na província romana do Egito, fora do controle de Herodes, asilo bem conhecido para aqueles que fugiam de sua perseguição. À noite, de maneira precipitada e angustiada, começa sua odisseia. 

Por um momento, parece que poderão desfrutar de paz, pois "morreram os que atentavam contra o menino". A família volta para a Judeia, porém se inteira que ali reina Arquelau, conhecido pela sua "crueldade e tirania", segundo o historiador Flávio Josefo. Novamente, a angústia, a incerteza e a fuga para a Galileia, para esconder-se num povoado desconhecido na montanha, chamado Nazaré.

Podemos imaginar um relato mais contrário à cena ingênua e idílica do nascimento de Jesus nascendo entre cantos de paz entoados por coros de anjos, em meio de uma noite maravilhosamente iluminada? Qual é a mensagem de Mateus ao pintar com traços tão sombrios os primeiros passos de Jesus?

A primeira coisa é não sonhar. A paz que traz o Messias não é um presente caído do céu. A ação salvadora de Deus abre caminho em meio a ameaças e incertezas, distante do poder e da segurança. Aqueles que trabalham para um mundo melhor com o espírito deste Messias, o farão a partir da debilidade dos ameaçados, não a partir da segurança dos poderosos. 

Por isso, Mateus não chama Jesus de "Rei dos judeus", mas de "Deus-conosco". Devemos reconhecê-lo compartilhando a sorte de quem vive na insegurança e no medo, à mercê dos poderosos. Uma coisa é clara: somente haverá paz quando desaparecerem os que atentam contra os inocentes. Trabalhar pela paz é lutar contra abusos e injustiças.

Nesse esforço, muitas vezes penoso e incerto, temos de saber que a nossa vida é sustentada e guiada pela "presença invisível" de Deus ao qual devemos buscar na obscuridade da fé. Assim busca José, entre pesadelos e terrores noturnos, luz e força para defender Jesus e a sua mãe. Assim se defende a causa de Jesus.
"Fuga para o Egito" - afresco de Giotto (1305-1306)
ABERTAS AO PROJETO DE DEUS

Os relatos do Evangelho não oferecem dúvida alguma. Segundo Jesus, Deus tem um grande projeto: construir no mundo uma grande família humana. Atraído por este projeto, Jesus se dedica inteiramente para que todos sintam a Deus como Pai e todos aprendam a viver como irmãos. Este é o caminho que conduz à salvação do gênero humano.

Para alguns, a família atual está se arruinando porque perdeu o ideal tradicional de "família cristã". Para outros, qualquer novidade é um progresso para uma sociedade nova. Porém, como é uma família aberta ao projeto humanizador de Deus? Que características poderíamos destacar?

Amor entre os esposos. É a primeira característica. O lar está vivo quando os pais sabem querer-se, apoiar-se mutuamente, compartilhar dores e alegrias, perdoar-se, dialogar e confiar um no outro. A família começa a desumanizar quando cresce o egoísmo, as discussões e os mal-entendidos. 

Relação entre pais e filhos. Não basta o amor entre os esposos. Quando pais e filhos vivem enfrentando-se e sem nenhuma comunicação, a vida familiar se torna impossível, a alegria desaparece, todos sofrem. A família necessita de um clima de confiança mútua para pensar no bem de todos.

Atenção aos mais frágeis. Todos devem encontrar em seu lar acolhida, apoio e compreensão. Porém, a família se faz mais humana, sobretudo, quando nela se cuida com amor e carinho dos mais pequenos, quando se trata com amor e respeito aos maiores, quando há solicitude para os enfermos ou incapacitados, quando não se abandona quem está passando mal.

Abertura aos necessitados. Uma família trabalha para um mundo mais humano, quando não se fecha em seus problemas e interesses, mas vive aberta às necessidades de outras famílias: lares quebrados que vivem situações conflitivas e dolorosas, e necessitam de apoio e compreensão; famílias sem trabalho nem renda alguma, que necessitam ajuda material; famílias de imigrantes que pedem acolhida e amizade.

Crescimento da fé. Na família se aprende a viver as coisas mais importantes. Por isso, é o melhor lugar para aprender a crer nesse Deus bom, Pai de todos; para conhecer o estilo de vida de Jesus; para descobrir sua Boa Notícia; para rezar juntos entorno da mesa; para tomar parte na vida da comunidade de seguidores de Jesus. Estas famílias cristãs contribuem para construir esse mundo mais justo, digno e feliz desejado por Deus. São uma bênção para a sociedade.

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fontes: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia - Sopelana - Bizkaia (Espanha) - 26 de dezembro de 2010 - Internet: clique aqui. E MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Segunda-feira, 23 de dezembro de 2013 - 17h24 - Internet: clique aqui.

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