«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 15 de dezembro de 2013

A juventude acordou para as ruas. E agora?

Felipe Resk, Juliana Diógenes, Marco Antônio Carvalho e Teresa Dias


Três em cada quatro jovens da capital paulista manifestaram-se pela primeira vez em 2013
Manifestações na Avenida Paulista, em São Paulo

De cada quatro jovens paulistanos que foram às manifestações deste ano, fenômeno que levou milhões às ruas e surpreendeu o País, três protestavam pela primeira vez. O dado surgiu de entrevistas com 420 pessoas entre 15 e 29 anos da cidade de São Paulo, realizadas entre 30 de novembro e 2 de dezembro, pela 24ª turma do Curso Estado de Jornalismo, com consultoria do Ibope. O suplemento Focas percorreu a maior cidade da América Latina para tentar entender o que pensam os jovens.

Foi em 2013 que a juventude quebrou a passividade, dizem cientistas políticos e sociólogos. Os protestos podem indicar o ressurgimento de uma atuação política contundente por parte dos jovens, que estavam “adormecidos”.

“Até 2012, parecia que a juventude estava relativamente cética, passiva e longe de qualquer mobilização”, diz o cientista político José Álvaro Moisés, coordenador do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP). “O ano de 2013, porém, apontou sinais de uma direção completamente diferente.”

A opinião é compartilhada pelo professor Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). “O mês de junho revela um mal-estar de parte da juventude, que parece disposta a se interessar e se envolver mais com a política.”

O levantamento revelou que a maioria dos jovens está insatisfeita com o sistema político brasileiro: 77% não se sentem representados por partidos.

Para especialistas, a crise de representação instaurada é ainda mais grave quando se considera a carência de novos líderes políticos. Na visão dos estudiosos, parte do problema está associada à falta de capacidade dos partidos políticos de acompanhar os novos rumos da sociedade. “Os partidos se organizam e têm uma dinâmica de sociedade velha, uma sociedade que não consegue conversar com o mundo novo. Os discursos são sempre os mesmos”, avalia Carlos Melo.

Esse anacronismo é ainda mais evidente entre os jovens. Os políticos atuais são “tema de caricatura” dos programas de televisão assistidos pela juventude, diz o cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele acredita que isso reforce a imagem da política como “um lugar de carcomidos”.

O surgimento de líderes capazes de reverter esse cenário político engessado, no entanto, pode não vir das ruas. Wagner Romão, cientista social da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é de opinião que se o desejo de mudança das massas não se converter em algum tipo de institucionalização, dificilmente haverá uma liderança influente. “As ruas sozinhas não produzem líderes. Claro que as lideranças tradicionais de movimentos sociais vão continuar aparecendo. Mas elas vão ter de estabelecer algum tipo de contato com essa massa que a gente tem dificuldade de identificar.”, afirma.

Redes sociais

O ativismo nas ruas também se reflete no ambiente virtual. O levantamento mostrou que jovens que participaram dos protestos têm ação mais intensa nas redes. Entre os manifestantes, 57% disseram sempre curtir ou compartilhar assuntos que consideram importante. O número cai para 34% entre os que não foram.

Apesar de não ter ido a nenhum protesto, o universitário Ismael Andrade, de 25 anos, também acabou intensificando postagens relacionadas a política. “Três vezes por semana, compartilho assuntos desse tipo. Todo dia é incômodo”, diz o estudante. “Durante as manifestações, postava minha opinião sobre o movimento, que eu acreditava ser mais uma manobra política do que qualquer outra coisa.”

Manifestações convocadas de maneira rápida, singular e “praticamente da noite para o dia”, segundo Nicolau, são inéditas no País. “Uma manifestação envolvia uma convocação que começava um mês antes e o processo era caro. Exigia trabalho individual, de pessoas saindo às ruas e chamando outras.”

O recifense Mano Ferreira, de 23 anos, estava em São Paulo quando explodiram as manifestações de junho. Nas duas semanas que passou na cidade, foi três vezes à Avenida Paulista para protestar. Mano diz que o desagrado com os partidos políticos e instituições tradicionais tem evoluído para uma insatisfação com o sistema político como um todo. “As pessoas já têm predisposição por causa desse descontentamento. Quando veem mais gente protestando, aproveitam para extravasar.”

Imagina na Copa

O ano da Copa do Mundo e de eleições presidenciais concentra incertezas, expectativas e prognósticos cautelosos de sociólogos. Já os jovens entrevistados parecem não ter dúvidas. A maioria absoluta (91%) acredita que as manifestações vão voltar durante a Copa. “O que não vai acontecer mais é o caráter espontâneo”, diz o cientista político Jairo Nicolau. “Aquilo foi um efeito fabuloso de contágio, imitação, criação. Mas isso não se repete.”

Para o também cientista político Antônio Flávio Testa, da Universidade de Brasília (UnB), é difícil pensar que haverá mudança no Brasil a médio prazo. Nas eleições, porém, Testa acredita que terá “um número significativo de abstenções e votos de protesto”. Diante de respostas pouco expressivas da administração pública aos anseios da população, 2014 colocará em prova a capacidade de mudança através das urnas.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Caderno Focas - Sábado, 14 de dezembro de 2013 - Pg. H2 - Internet: clique aqui.
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NOVAS GERAÇÕES DA VELHA GUARDA


Julia Affonso, Lorena Tabosa e Luísa Roig Martins


Mais da metade das alas jovens de partidos são comandadas por parentes de políticos
O ano de 2014 promete para um estudante de direito do Rio. Depois de o pai anunciar que renunciará em março ao governo do Estado, a candidatura a deputado federal de Marco Antônio Neves Cabral ganhou força e legalidade. Aos 22 anos, o filho do governador Sérgio Cabral tentará pela primeira vez se eleger para um cargo público. Hoje presidente da Juventude Nacional do PMDB, o estudante Marco Antônio faz parte de um grupo de líderes da base jovem dos partidos políticos no Brasil. Em sua maioria, esses jovens são parentes de políticos que exercem ou já exerceram mandato.

Marco Antônio é filho do governador Cabral e de Suzana Neves, prima do senador Aécio Neves, provável candidato do PSDB ao Planalto nas eleições de 2014, e sobrinha-neta do ex-presidente Tancredo Neves. O jovem começou a carreira política aos 11 anos, em 2002, ajudando na campanha do pai para o Senado. Aos 16, foi eleito presidente do grêmio de sua escola, na zona sul do Rio. “Todo fim de semana eu estava na campanha com meu pai. Já era uma coisa normal para uma criança de 11 anos fazer política”, lembra Cabral, o filho. “Ali, comecei a enxergar a política.”

Dono de sobrenomes conhecidos na política nacional, Marco Antônio foi eleito presidente da juventude estadual do partido em 2009, substituindo Clarissa Garotinho, outra jovem que começou a carreira acompanhando os pais em campanha. A deputada estadual Clarissa, filha dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho, deixou o PMDB e se filiou ao PR logo após a saída do pai da legenda. Hoje ela comanda a juventude do partido e é líder da bancada na Assembleia Legislativa.

Aos 31 anos, Clarissa está em seu segundo mandato no Legislativo. Em 2008, foi eleita vereadora da capital fluminense e, dois anos depois, chegou à Assembleia. “Sem dúvida tive votos de gratidão de quem gosta do Garotinho e da Rosinha, mas não apenas. Jovens votaram em mim por identificação, para ver uma jovem na política.”

Dos 32 partidos em atividade no Brasil, 21 têm um presidente da juventude partidária em cargo eletivo. Desses presidentes, mais da metade são filhos, sobrinhos ou netos de políticos: um total de 62%. Dos outros 11 partidos, três não têm ala jovem formalizada e os demais têm comissões sem presidência. Apesar de hoje ser difícil definir o que é direita ou esquerda partidária, observa-se a prevalência de jovens ligados a políticos em legendas de centro-direita.

“O sobrenome já traz um capital político simbólico e, principalmente, ativa uma rede de favores antiga. Faz partir de um patamar muito mais alto do que alguém ainda anônimo”, diz o cientista político Ricardo da Costa Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Em São Paulo, Frederico, de 21 anos, filho do prefeito Fernando Haddad, começa a dar os primeiros passos na política. Há um ano, o estudante de direito se filiou ao PT, partido do pai, e ajudou na campanha de Fernando para a Prefeitura. Mas o batismo de fogo viria em março, quando um protesto de ciclistas desembocou na porta do prédio onde Frederico mora com a família. O rapaz foi falar com a turma e ganhou notoriedade ao agendar uma reunião com o pai prefeito.

“A questão da juventude partidária faz parte do contexto familiar. A família ainda é a unidade social da política e das instituições no Brasil e tem um peso político extremamente importante devido ao caráter pré-moderno, ao clientelismo e à grande desigualdade social”, afirma Costa Oliveira. “O eleitor também entra no esquema, por suas carências e necessidades.”

Ter um sobrenome conhecido facilita a chegada de um líder jovem a um cargo eletivo. Mas a hereditariedade também pode representar um risco, adverte a consultora da Unesco para o Ministério da Justiça, Hingridy Fassarella Caliari. Jovens descendentes de deputados, senadores, prefeitos ou vereadores famosos têm grandes possibilidades de replicar um modo antiquado de fazer política. “Quando falamos em política para o jovem, a ideia não é manter o tradicionalismo. O que se espera é dar voz a quem nunca teve, não a famílias que sempre estiveram no poder”, diz Hingridy. “Não é por ser jovem que alguém levantará a bandeira da juventude.”

A pesquisadora lembra que, embora a legislação permita a qualquer um se candidatar, na prática é difícil se eleger, uma vez que os gastos com campanha são altos. E nessa selva de tigres, quem tem parentes conhecidos leva vantagem.


Mesmo que a maioria dos partidos brasileiros tenha ala jovem, a influência desse nicho nas decisões políticas ainda é pouca. Para o jovem, porém, alcançar o cargo de presidente da juventude de seu partido é importante: além de torná-lo mais visível entre os companheiros de sigla, os jovens líderes acabam conhecendo pessoas, acompanhando suas reivindicações e percebendo melhor o ambiente em que circulam. Aprendem a fazer política.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Caderno Focas - Sábado, 14 de dezembro de 2013 - Pg. H6 - Internet: clique aqui.

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