UM FRAGELO: 28 milhões convivem com usuários de drogas
Lígia Formenti
Segundo levantamento, divulgado nesta terça-feira,
28 milhões de pessoas vivem com um viciado em drogas no Brasil
Pesquisa inédita feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que o tratamento de dependentes químicos é, na maioria das vezes, financiado pelos próprios familiares. O trabalho entrevistou 3.142 famílias de todo o País que tinham entre seus integrantes usuários em tratamento. Desse grupo, 58% pagavam do próprio bolso a internação dos pacientes.O trabalho revelou ainda que o impacto da terapia afetou de forma drástica ou fortemente quase metade dos entrevistados (45% deles). "Com o estudo, quisemos dar voz a essas famílias, que também sofrem com essa doença crônica, mas estão esquecidas, sobretudo pelos serviços públicos", afirmou o coordenador do trabalho, o psiquiatra da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas, Ronaldo Laranjeira.
Atualmente, 28 milhões de pessoas vivem no Brasil com um dependente químico. "É um problema muito próximo de todos nós. Mas, ao mesmo tempo, poucos dão a importância devida", completa.
O fato de a maior parte das famílias arcar com o pagamento é uma prova do abandono, avalia Laranjeira. "A informação é deficiente, os serviços, escassos", observou.
A lacuna, completa, está estampada na pesquisa. Dos familiares entrevistados, 50% não sabem o que são os Centros de Atendimento Psicossocial de Álcool e Drogas, unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento de dependentes químicos. E dos que conhecem, 46% nunca haviam procurado um CAPS.
"Os relatos impressionam: `as vezes familiares recorrem aos serviços, dizendo que o dependente está em casa descontrolado, ameaçando todos. A resposta que ouvem é que não há nada a ser feito, enquanto o usuário não comparecer, por conta própria, ao serviço de atendimento", relata Laranjeira. Ele avalia que o mínimo que poderia ser feito é um serviço de aconselhamento para familiares, mesmo que por telefone. "Atualmente, o serviço se limita a dar endereços sobre postos de atendimento. Isso não resolve", assegura.
A tensão se reflete na própria qualidade de vida dos familiares. De acordo com a pesquisa, esse grupo tem um risco maior para desenvolver problemas de saúde. "Eles apresentam significativamente mais sintomas físicos e psicológicos que a média da população", conta Laranjeira.
Dos entrevistados, 58% disseram que os problemas enfrentados com familiares usuários de drogas afetaram o trabalho ou estudos. Dos ouvidos, 47% relataram ainda que a vida social havia sido prejudicada em decorrência dos problemas enfrentados com o familiar usuário de drogas.
A maioria (80%) dos entrevistados era do sexo feminino. A maior parte das pessoas ouvidas (46,5%) eram mães dos usuários de drogas. "Geralmente são elas as grandes envolvidas. Elas que ficam à frente no tratamento", disse Laranjeira.
Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Saúde - 03 de dezembro de 2013 - 11h15 - Internet: clique aqui.
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"A família vive 24 horas em função do dependente"
Ligia Formenti e Fabiana Cambricoli
"O dependente vive 24 horas em função da droga. O familiar, 24 horas em função do dependente", resume a professora aposentada Sylvia Rocchi Rodrigues Marcolino. Ela soube que seu filho caçula era usuário de drogas em 2002, quando ele mesmo confessou, aos 17 anos.Sylvia procurou psicólogos e psiquiatras para o filho. Ele foi medicado e, um dia, tomou todos os remédios de uma só vez. "Nada estava dando certo. Procurei então o Amor Exigente, um grupo de ajuda mútua voltado para familiares de dependentes [para saber mais, clique aqui]." Sylvia conta que, a partir de então, ela e o marido mudaram de comportamento. Pararam de viver em função do menino. "Colocamos limites. Meu filho passou a sofrer a consequência de seus atos."
O menino também procurou ajuda. Deixou de usar drogas, retomou os estudos, se formou, e hoje trabalha em outra cidade. "Se você me perguntar se ele teve recaídas, não sei. Mas posso dizer é que o comportamento dele mudou. E o meu também."
Superação
Mãe de um ex-dependente de cocaína e crack, a professora Sonia Eli, de 71 anos, conta que teve de bancar o tratamento do filho e chegou a gastar, em uma internação, o valor de um carro. "Ele sempre sonhou em ter uma picape. Quando saiu da segunda internação, a funcionária da clínica mostrou o valor que gastamos e disse: 'sua picape ficou aqui'."
Aos 22 anos, o jovem, viciado há 5, se livrou das drogas e decidiu cursar Psicologia. "Meu marido, já aposentado, prestou o vestibular para dar apoio moral. Os dois passaram e se formaram juntos. Hoje, 20 anos depois, têm um consultório especializado em atender usuários de drogas", diz.
Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Notícias/São Paulo - 04 de dezembro de 2013- 02h06 - Internet: clique aqui.
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