«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 24 de abril de 2021

4º Domingo da Páscoa – Ano B – HOMILIA

 Evangelho: João 10,11-18 

Naquele tempo, disse Jesus: 11 «Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. 12 O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. 13 Pois ele é apenas um mercenário e não se importa com as ovelhas. 14 Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15 assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. 16 Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 17 É por isso que o Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. 18 Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi do meu Pai». 

Alberto Maggi

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

Pastor verdadeiro é aquele que dá a vida 

A imagem de Jesus como o Bom Pastor é, sem dúvida, a mais conhecida e amada pelos cristãos, uma imagem carregada de muitos, muitos significados. No entanto, é estranho que, quando Jesus se apresenta como tal, como o Bom Pastor, os líderes judeus se zangam com ele, pensam que ele seja um louco e acabam por tentar apedrejá-lo.

Somos nós que entendemos tudo sobre esta imagem ou foram os judeus que entenderam e a rejeitaram?

Vamos ver o que o evangelista João nos diz. Em primeiro lugar, Jesus se apresenta reivindicando a plenitude da condição divina. Quando no Evangelho de João Jesus diz Eu sou, isso representa o nome divino. Quando Moisés, no famoso episódio da sarça ardente, perguntou àquela entidade que se manifestava, o nome, Deus não respondeu dando o nome, porque o nome delimita uma realidade, mas respondeu dando uma atividade que o torna reconhecível. Ele respondeu: Eu sou quem eu sou. 

E a tradição judaica sempre interpretou essa expressão, essa resposta do Senhor como alguém que está sempre perto de seu povo. No tempo de Jesus, portanto, a expressão Eu souindicava Deus. Então Jesus reivindica a condição divina. E ele diz: “Eu sou” - não o Bom Pastor - mas o Pastor Bom. Qual é a diferença? O evangelista não está falando sobre a bondade de Jesus, quando o evangelista deve se referir à bondade de Jesus ele usa o termo grego “agatos” (Agatos), daí o nome Ágata, que significa “bondade”. 

Aqui, porém, Jesus declara que é o Pastor, e usa o termo grego “kalos, do qual deriva caligrafia, bela escrita, que significa “o belo”, “o verdadeiro”. Portanto, Jesus não está apontando para sua bondade, mas está apontando para algo diferente, algo mais importante. O que significa o Pastor Verdadeiro? Houve uma profecia no livro de Ezequiel, no capítulo 34, onde...

... o Senhor repreendeu os pastores do povo, porque, em vez de cuidar do rebanho, eles pensavam apenas em si mesmos.

E então, o Senhor os ameaça, “chegará um tempo em que eu mesmo cuidarei do meu rebanho” [Ez 34,15]. Portanto, o Senhor será o único verdadeiro pastor do povo. Bem, Jesus declara que este momento chegou. Por isso, desperta a ira dos líderes religiosos, porque se sentem destituídos de seu poder por Jesus, que os chama de ladrões, se apoderaram do que não é deles, do rebanho e são assassinos. 

Portanto, o Pastor, o verdadeiro, aquele “por excelência” é identificado por Jesus na sua pessoa. E qual é a característica que o torna reconhecível como o Pastor Verdadeiro?

Jesus diz que “ele dá a vida pelas ovelhas”.

Portanto, aqui Jesus supera a profecia de Ezequiel. Enquanto para o Profeta Ezequiel o pastor protegia, ele cuidava de seu rebanho, com Jesus o pastor chega a dar a vida por suas ovelhas, portanto se supera. Então Jesus continua a figura do pastor ao que ele não considera um mau pastor, mas um mercenário. 

Quem é o mercenário? O mercenário é aquele que age em seu próprio benefício. O evangelista, sempre é bom lembrar, nestas páginas não entra em polêmica com o mundo judaico, do qual a comunidade cristã, agora, se separou irremediavelmente, se destacou, mas é uma advertência para que a comunidade cristã não repita os mesmos erros. 

Portanto, na comunidade cristã, quem age exclusivamente para seu próprio interesse, para seu próprio benefício, para seu próprio prestígio, Jesus não lhe reconhece nenhum título, nenhum cargo, a não ser o de mercenário. 

Esta expressão eu soué repetida neste Evangelho, nesta passagem, três vezes - o número três, de acordo com a simbologia hebraica, significava aquilo que é completo. Portanto, Jesus afirma a plenitude da condição divina e o fato de ser pastor. Por que Jesus pode afirmar ser um pastor? Porque ele é o Cordeiro.

Apenas quem está disposto a dar a vida pelos outros, pode ser o pastor do rebanho.

E, Jesus declara, que ele “conhece suas ovelhas e suas ovelhas o conhecem”. 

Qual é o significado desta expressão? Há uma comunicação íntima, crescente e transbordante de amor entre Jesus e seu rebanho, isto é, entre Jesus e seus discípulos, crentes, que é semelhante - diz Jesus - à do Pai com ele. Assim como o Pai me conhece, eu conheço o Pai e dou minha vida pelas ovelhas.” Existe uma dinâmica de amor recebido de Deus, que se transforma em amor comunicado aos outros. 

Quanto mais aumenta essa medida de amor recebido e comunicado, mais se chega a perceber uma única realidade de um Deus que não absorve as energias dos homens, mas que comunica as suas próprias a eles, um Deus que deseja fundir-se com o homem para expandir sua existência e torná-lo o único verdadeiro santuário. De fato, Jesus, daqui a pouco, declarará: As outras ovelhas que não vêm deste recinto ...” 

Jesus veio para libertar as pessoas, o que é essa cerca? A cerca é algo que lhe dá segurança, mas tira sua liberdade. Em seguida, Jesus declara que veio para realizar um processo de libertação crescente para a humanidade, que não diz respeito apenas às pessoas que estão encerradas no recinto da religião, mas em todos os recintos que impedem a liberdade. 

Então Jesus disse: Tenho outras ovelhas que não vêm deste redil, – ele veio para libertar as ovelhas do recinto da instituição judaica – essas também devo liderar. O verbo “dever” é um verbo técnico usado por evangelistas que indica o cumprimento da vontade divina. Portanto, é a vontade de Deus um processo de libertação.

A religião tem um encanto porque lhe dá segurança, mas tira sua liberdade.

Dá-lhe segurança porque, quando você entra na esfera da religião, você só tem que obedecer, só tem que observar, mas isso lhe mantém em uma condição infantil, de imaturidade; em vez disso...

... Jesus quer levar a pessoa à maturidade total, ao crescimento total. 

Elas ouvirão a minha voz, a voz do Senhor nunca se impõe, mas se propõe. Como se faz para distinguir a voz do Senhor? Enquanto as autoridades religiosas, por serem as primeiras a não crer na sua própria mensagem, devem impô-la, Jesus, que sabe que a sua mensagem é a resposta de Deus à necessidade de plenitude de vida que cada pessoa carrega dentro de si, basta-lhe oferecê-la, e as ovelhas, o rebanho, os crentes, entendam isso. 

E se tornarão um rebanho e um pastor”. No passado, devido a um erro próprio de tradução, por ter confundido o termo “cercado”, “redil”, provavelmente devido a São Jerônimo, a tradução latina era um só rebanho e um só pastor. Daí a reivindicação da Igreja por séculos, por muitos e muitos séculos, até o Concílio Vaticano II, de ser o único redil em que havia salvação. Daí o slogan “fora da Igreja não há salvação”.

Jesus não veio para tirar pessoas e ovelhas do redil, Israel, para encerrá-las em outro recinto mais sagrado e mais bonito. Não!

Jesus veio para dar plena liberdade: um rebanho, um pastor. O que Jesus quis dizer? O único verdadeiro santuário no qual a grandeza e o esplendor do amor de Deus se manifestarão, de agora em diante, será Jesus e sua comunidade. Enquanto no antigo santuário as pessoas tinham que ir e muitos eram excluídos, no novo santuário, é o próprio santuário que irá em busca dos excluídos da religião. 

Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

Jesus, no Evangelho deste domingo, apresenta-se, primeiramente, como aquele que tem a divindade plena em si mesmo (“Eu sou”) e, portanto, capaz de reivindicar para si o título de Pastor Verdadeiro.

Ele é o verdadeiro Pastor porque:

1) Dá a vida pelas suas ovelhas. Do lado oposto, ele põe os “mercenários”, que não são pastores verdadeiros, pois buscam seus próprios interesses e benefícios.

2) Ele conhece suas ovelhas e suas ovelhas o conhecem. E conhecer, aqui, tem o sentido de AMAR. Jesus amado pelo seu Pai, ama suas ovelhas, comunica-lhes esse amor recebido e vivido junto ao Pai. Do lado oposto, encontram-se, novamente, os “mercenários”, que não amam, mas pensam somente em si, são individualistas.

3) Jesus admite que tem outras ovelhas que não são deste redil. Ele vem para libertar os seres humanos, para ajudá-los a atingir a plenitude de vida, não para fechá-los em um novo curral! Do lado oposto, encontramos as autoridades judaicas do tempo de Jesus que queriam ser “donas das ovelhas”, ter e exercer PODER sobre elas e não serviço!

A meta de Jesus é fazer o ser humano compreender que o santuário verdadeiro e único de Deus não são os templos edificados por mãos humanas, por mais belos, portentosos e luxuosos que possam ser! Mas é o povo repleto de seu amor, capaz de viver esse amor em tudo aquilo que faz e que é!

Esse Evangelho, inevitavelmente, nos traz alguns questionamentos fundamentais, tais como:

a) Nós, os pastores de hoje, – bispos, padres, religiosos, lideranças leigas, – realizamos nossa função com o mesmo espírito de Jesus Cristo?

b) Tratamos o rebanho como se fosse nosso? Temos sede de poder, prazer em exercer o poder sobre o rebanho que nos foi confiado?

c) Estamos sabendo conduzir o rebanho para a LIBERDADE que Jesus veio trazer ou fechamos as ovelhas em um redil seguro, mas infantil, imaturo, que não promove uma vida plena para todas as pessoas?

d) Enfim, para que pastoreamos as ovelhas de Cristo? 

Fonte: CENTRO STUDI BIBLICI “G. VANNUCCI” – Videomelie e trascrizione – IV Domenica di Pasqua – 25 aprile 2021 – Internet: clique aqui (acesso em: 21/04/2021).

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