O flagelo da fome
O Brasil também enfrenta esse drama
Editorial
O Estado de S. Paulo
Pandemia
aumentou a insegurança alimentar, que hoje atinge 174 milhões de pessoas em
todo o mundo
Embora a maior parte dos países afetados esteja na África, a fome deve recrudescer na maioria das regiões do mundo. Extremos climáticos resultantes do fenômeno La Niña devem continuar em abril e maio, provocando tanto a falta de chuvas, como no Afeganistão, quanto o excesso, como no Sudão. Nos próximos meses, a produção de grãos e os pastos no oeste da África podem ser dizimados por novas nuvens de gafanhotos.
Dentre os 20 focos mais graves, a FAO aponta alerta máximo em Burkina Faso, Nigéria, Iêmen e Sudão do Sul. No Iêmen, por exemplo, o contingente de pessoas em situação de catástrofe alimentar deve triplicar até junho, saltando de 16 mil para mais de 47 mil, e o número de pessoas em níveis agudos de insegurança alimentar deve crescer 3 milhões, chegando a 16,2 milhões (54% da população). Estes países são flagelados por uma combinação de fatores, mas o mais grave é o conflito armado.
A tragédia é especialmente ultrajante quando agravada pelos
desdobramentos da violência – ruptura do comércio e da agricultura,
deslocamentos ou confinamentos de comunidades, perdas de vidas e ativos –, que
ainda dificulta o acesso à assistência humanitária.
Os conflitos armados devem crescer em países como Afeganistão,
República da África Central, Nigéria, Moçambique, Somália e Sudão.
“A magnitude do sofrimento é alarmante”, disse o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu.
“Cabe a todos nós agir agora para salvar vidas, salvaguardar
suprimentos e evitar uma situação pior.”
Mas os países que subsidiam partes em conflito com armas e recursos têm uma responsabilidade redobrada.
Em termos econômicos, a América Latina foi a região mais impactada pela covid e deve ter a retomada mais lenta. Países que já lutavam contra a instabilidade política e mazelas socioeconômicas prolongadas, como o Haiti ou as repúblicas centro-americanas de Honduras, El Salvador, Guatemala e Nicarágua, devem sofrer as deteriorações econômicas mais agudas.
O Brasil tem uma responsabilidade humanitária especial para
com o povo venezuelano sob o jugo da ditadura chavista, alerta o relatório. A
hiperinflação e o recrudescimento das sanções internacionais, agravadas com as
restrições da covid-19, estão deteriorando as condições alimentares do país
vizinho a olhos vistos.
Já em 2019 a insegurança alimentar atingia 9,3 milhões de
venezuelanos. No fim de 2020, a inflação alimentar batia os 1.700%.
A degradação econômica deve desencadear novas ondas migratórias.
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Estes dados, acima, são de 2017-2018, hoje a situação piorou no Brasil! |
O Plano de Resposta Humanitária da ONU pede US$ 226 milhões para a segurança alimentar, suprimentos e intervenções nutricionais na Venezuela. Respostas emergenciais incluem garantir a alimentação de crianças e robustecer a assistência humanitária às necessidades mais urgentes.
Em termos globais, “precisamos urgentemente de três coisas
para impedir que milhões morram de fome”, disse o diretor executivo do
Programa Alimentar Mundial, David Beasley:
a) “As lutas precisam parar,
b) devemos ter acesso às comunidades
vulneráveis para fornecer ajuda vital e, acima de tudo,
c) precisamos de doadores para compor os US$ 5,5 bilhões que estamos pedindo este ano”.
Não estava em poder da humanidade impedir o surgimento de uma peste letal. Mas está em seu poder mitigar as suas repercussões mais catastróficas, como a fome. A resposta à atual crise alimentar definirá o status moral da atual geração pelo resto da história.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas & Informações – Domingo, 4 de abril de 2021 – Pág. A3 – Internet: clique aqui (acesso em: 04/04/2021).
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