Domingo de Páscoa – Ano B – HOMILIA
Evangelho: João 20,1-9
No 1 primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. 2 Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: «Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram.»
3 Saíram,
então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. 4 Os dois corriam juntos, mas o outro
discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5 Olhando para dentro, viu as faixas de
linho no chão, mas não entrou. 6
Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as
faixas de linho deitadas no chão 7
e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas
enrolado num lugar à parte. 8 Então
entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu,
e acreditou.
9 De
fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia
ressuscitar dos mortos.
Alberto
Maggi
Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista
italiano
Como experimentar o Cristo vivo, ressuscitado?
«Se Cristo não ressuscitou, nossa pregação é vazia e vazia é também a nossa fé». Esta é a afirmação peremptória de São Paulo na primeira carta aos Coríntios. Mas, apesar dessa afirmação, é surpreendente que nenhum evangelista nos evangelhos descreva a ressurreição de Jesus. A imagem tradicional que conhecemos de Cristo saindo vitorioso com a bandeira da vitória da sepultura não está nos evangelhos, mas sim em um apócrifo, no evangelho de Pedro, um texto do segundo século. Mas se nenhum evangelista descreve a ressurreição de Jesus, todos eles dão indicações preciosas sobre como experimentá-lo ressuscitado no que era a experiência comum da Igreja primitiva. Como escreve Paulo, ainda aos coríntios, que «Jesus ressuscitado apareceu a Cefas», isto é, a Pedro, «aos doze e depois apareceu a mais de 500 irmãos».
No evangelho considerado o mais antigo, o de Marcos [Mc 16,1-8], há o anúncio da ressurreição, mas não o encontro com o ressuscitado que é enviado de volta à Galileia. De fato, o jovem no túmulo disse às mulheres: «Não tenhais medo, vós estais procurando Jesus Nazareno, o crucificado, ele ressuscitou, ele não está aqui». Esta será a mensagem constante de todos os evangelistas. É inútil procurar Jesus no lugar dos mortos. Ele diz: «Ele vai adiante de você para a Galileia, lá vós o vereis». Porém, alguém se pergunta, mas por que adiar a importante experiência do Cristo ressuscitado por três ou quatro dias? Jesus morreu em Jerusalém, foi sepultado em Jerusalém, depois ressuscitou em Jerusalém, os discípulos estão em Jerusalém, por que Jesus disse que se eles quiserem vê-lo, devem ir para a Galileia?
Descobrimos isso no Evangelho de Mateus [Mt 28,1-10], onde este encontro na Galileia é mencionado três vezes, quando o anjo repete o anúncio às mulheres: «Ele não está aqui, ressuscitou e vos precede na Galileia, aí o vereis». Esta mensagem é confirmada pelo próprio Jesus, que então disse às mulheres: «Ide e anunciai aos meus irmãos que vão para a Galileia, lá me verão».
Os discípulos partem, vão para a Galileia, mas o evangelista escreve que «os onze, entretanto, foram para a Galileia no monte que Jesus lhes indicara». Se três vezes há um convite para ir à Galileia para experimentar o Cristo ressuscitado, Jesus nunca indicou uma determinada montanha. Por que os onze sobem a montanha? Qual é essa montanha onde é possível experimentar o Cristo ressuscitado? A montanha em Mateus é o monte das bem-aventuranças. O que o evangelista quer dizer? Que a experiência de experimentar o Cristo ressuscitado não foi um privilégio concedido há dois mil anos a um pequeno grupo de pessoas, mas a todos os fiéis que viverão as bem-aventuranças. Vivendo as bem-aventuranças, experimenta-se o vivente [= Cristo].
Da mesma forma, no Evangelho de Lucas [Lc 24,1-8], há
a mensagem conhecida, quando as mulheres vão ao túmulo, encontram o caminho
bloqueado por alguns homens: «Por que procurais
entre os mortos aquele que está vivo?» e quando Jesus aparece? Ele
se manifesta aos discípulos de Emaús repetindo os gestos da Última Ceia [Lc
24,13-35]. O evangelista escreve que «quando estava
à mesa com eles, pegou o pão, recitou a bênção, partiu-o e deu-o a eles»,
igual à última ceia.
Na ceia, Jesus se faz pão, para que aqueles que o comem possam
fazer-se pão com os outros.
Nesta dinâmica do amor recebido e do amor comunicado experimenta-se a presença do Cristo ressuscitado. Na verdade, escreve o evangelista: «Então seus olhos se abriram e eles o reconheceram».
Da mesma forma, no Evangelho de João [Jo 20,1-9],
temos a figura de Maria Madalena chorando, soluçando em frente a um
túmulo, mas enquanto ela olha para o túmulo, ela não percebe que aquele que
ela chorou como morto estava, na realidade, vivo. Mas para experimentá-lo
vivo, ela deve parar de olhar para o túmulo e se virar e, só quando ela se
volta para trás, é que ela vê que Jesus está ao seu lado. No Evangelho de João,
Jesus, quando se manifesta ressuscitado aos seus discípulos, a primeira palavra
que pronuncia é «Paz a vós». Não é um
desejo, Jesus não diz que a paz esteja convosco, é um presente. A paz é tudo
o que contribui para a felicidade, para a plenitude da vida das pessoas.
Então, Jesus ressuscitado a primeira coisa que ele faz com os seus é dar a
plenitude desta vida. E, em seguida, lhes dá um mandato: «Como o Pai me enviou, eu também vos envio».
Qual é o significado desta expressão? Jesus foi a testemunha do amor fiel do
Pai. Quem está com ele e, como ele, é testemunha deste amor, poderá
experimentar na sua existência o Cristo vivo ressuscitado.
Jesus não os envia para anunciar uma doutrina, mas Jesus os envia
para ser a ternura de Deus para a humanidade.
Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Reflexão Pessoal
Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
Celebrar a Páscoa é celebrar a vitória de Jesus Cristo
sobre as forças que tentaram impedi-lo que trazer ao mundo, de trazer aos seres
humanos a verdadeira felicidade, o verdadeiro sentido da vida, a verdadeira
essência do viver humano.
Mas, por que alguém tentaria impedir Jesus, o Nazareno,
de realizar esse intento? Porque, para dominar os seres humanos, é preciso
desviá-los do verdadeiro sentido da vida! Isso se faz por meio de um duplo
movimento:
1º) Oferecendo aos homens e
mulheres um deus falso (ou vários deuses falsos)! Levando-os a adorar, a
venerar um deus que não existe, que não é verdadeiro. O ser humano passa a
depositar nesse deus(es) falso(s) toda a sua confiança e a sua vida. Isso se dá
com o deus-dinheiro, com o deus-poder, com o deus-fama, com os deus-beleza etc.
Com isso, domina-se a mente e os corações deles!
2º) Colocando no lugar da
verdadeira felicidade, que é a vivência do AMOR, da IGUALDADE, do RESPEITO, da
FRATERNIDADE de todos por todos, algo falso! A felicidade passa a ser a busca
de realização dos desejos, apetites, paixões de cada indivíduo. Se “eu” estou
feliz, então “tudo” está bem! O mundo passa a girar em volta de minha pessoa!
Eu vejo, enxergo e penso, apenas e tão somente, em mim mesmo(a)!
Todos os evangelhos lidos entre Sábado da Vigília Pascal
e Domingo de Páscoa nos recordam outro caminho para a FELICIDADE PLENA
que Deus deseja a cada um de seus filhos e filhas:
a) Para Marcos, a
felicidade está em voltar às raízes, voltar à experiência original e autêntica
com Jesus de Nazaré, a qual foi realizada na Galileia, na convivência com as
pessoas mais humildes, mais pobres e sofredoras! O ressuscitado, somente, pode
ser experimentado e vivenciado em meio aos fracos!
b) Para Mateus, a
felicidade está em tomar as bem-aventuranças, que Jesus proclamou sobre a
montanha (Mt 5,1-12a), como uma meta de vida. É ir contra a correnteza do
mundo! Para Cristo, para Deus, felizes, ou seja, «bem-aventurados» são os
pobres, os que sofrem, os que lutam pela justiça, os que promovem a paz e a
concórdia, os perseguidos por causa da Justiça divina...
c) Para Lucas, a
felicidade deve ser buscada no encontro mais íntimo que nós, homens e mulheres,
podemos ter com Deus, o qual se dá na Eucaristia, no partir do pão, como ele
nos apresenta na aparição de Cristo aos discípulos da vila de Emaús.
d) Finalmente, para o quarto
Evangelho, aquele de João, a felicidade reside em sermos testemunhas da
PAZ e do AMOR do Pai que se manifestou, de modo pleno, em Jesus de Nazaré. O
verdadeiro cristão, a verdadeira cristã é aquele(a) que manifesta, através de
seus gestos, palavras e atitudes, a TERNURA de Deus para com todos,
indistintamente! E isso não é nada simples ou fácil!
Santa Páscoa a todos vocês!
Fonte: CENTRO STUDI BIBLICI “G. VANNUCCI” – Videomelie e trascrizione – Domenica di Pasqua – 1 aprile 2018 – Internet: clique aqui (acesso em: 31/03/2021).
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