«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Lições do caso Henry

 Como identificar crianças que sofrem violência

 Rosely Sayão

Psicóloga, consultora educacional e autora do livro “Educação sem blá-blá-blá” 

Maioria dos episódios de agressão ocorre dentro de casa; escuta dos pais e relação de confiança com filhos são importantes para perceber problemas

A polícia suspeita que Henry Borel, de 4 anos, tenha morrido depois de ser submetido por Dr. Jairinho a uma sessão de torturas. Foto: Reprodução/Instagram

O caso do menino Henry, garoto de 4 anos que morreu, provavelmente em decorrência de violência física que sofreu do padrasto, nos permite refletir a respeito de como identificar se crianças, principalmente na primeira infância, sofrem algum tipo de violência. 

Isso é importante porque a maioria dos casos de violência contra crianças ocorre dentro de casa! E o número de casos de morte entre crianças não é tão pequeno, não.

De acordo com levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, mais de 100 mil crianças e adolescentes (!) morreram vítimas de agressões nos últimos dez anos. Desses, pelo menos 2 mil tinham menos de 4 anos. Não é assustador?

Bem, vamos lembrar quando nasce um bebê. Os primeiros dias em casa costumam ser um sufoco para os pais – principalmente para a mãe – porque eles têm a consciência de que são totalmente responsáveis por aquele ser que não se comunica e depende dos adultos para sobreviver e viver. 

O bebê chora: só chora porque esse é o único recurso que tem para expressar algo:

* fome,

* sede,

* se precisa ser trocado,

* se quer colo,

* se tem dor ou se, simplesmente,

* quer chorar etc. 

Aos poucos, à medida em que se cria um vínculo estreito entre a mãe – e o pai – do bebê, eles passam a interpretar o choro do filho. “Esse choro é de fome”, “Ah, esse é um choro pra me chamar”, “Nossa, esse choro é de dor”, e assim por diante. É assim que os pais começam a conhecer o filho e essa é uma jornada sem fim, não é? 

O choro é, portanto, um sinal de algo e, se os pais escutam verdadeiramente o filho, serão capazes de descobrir o que aquele choro comunica. Acertam sempre? Não. Mas essa estratégia é tão boa que já foi até criado um dispositivo que indica o provável motivo deste ou daquele choro. 

ESCUTAR A CRIANÇA significa mais que ouvir! É saber interpretar o que está por detrás das palavras, gestos, atitudes e estado de humor da criança

A questão é que, quando o filho começa a se comunicar verbalmente, esse canal ganha prioridade para os pais, que deixam de interpretar e passam a escutar. E escutar não significa, necessariamente, ouvir. Sabemos que as crianças, na primeira infância, vivem mais no mundo imaginário que no real. E é preciso ter cuidado para considerar o que falam pelas palavras. 

Uma mãe me contou que a filha, de apenas 3 anos, chegou da escola dizendo, chorosa, que a professora havia batido nela. Ela estranhou porque confiava muito na escola, e foi conversar com a professora. Ouviu que a filha havia precisado de um limite verbal firme por quase morder um colega. Vejam: aquela criança traduziu em palavras o que sentira. 

Outra mãe, num local onde havia outras famílias, disse que o filho vomitava quando se encontrava com um vizinho. Levou a criança a um atendimento de saúde e foi constatado que sofrera abuso. 

Essas duas mães ouviram de fato os filhos e souberam interpretar os sinais que apontaram. Nos fatos noticiados pela imprensa, soubemos que o menino Henry vomitava e tremia ao ver o padrasto, mas esses sinais não foram considerados, lamentavelmente. 

Outro ponto importante para proteger os filhos é oferecer condições para que confiem nos pais. Costumamos ouvir muitos pais dizerem que confiam nos filhos pela educação dada a eles. 

Acontece que crianças e adolescentes, quando em grupo, costumam adotar a moral do grupo. Por isso, não confiar nos filhos é ter o bom senso de lembrar que eles nem sempre terão autonomia para agir de modo diferente do grupo. Um pouco crescida, se a criança conta aos pais algo que fez que não deveria ter feito e leva uma bronca, isso pode levá-la a perder parte da confiança nos pais.

Primeiro é preciso acolher, apoiar, confortar. E, só depois, fazer a criança arcar com as consequências de seu ato.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Educação – Domingo, 25 de abril de 2021 – Pág. A17 – Internet: clique aqui (acesso em: 28/04/2021).

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