«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Desmilitarizar o Brasil

 Tarefa urgente no Brasil

 Frei Betto

Frade Dominicano, teólogo, escritor, assessor de movimentos populares 

A militarização de corações e mentes torna o outro invisível e desprezível, o que justifica a violência

Bolsonaro é a efetivação dos militares no poder, um governo de militares

O governo BolsoNero é um cabide de empregos para militares, com destaque para vários ministros, o vice-presidente e o próprio presidente, embora este tenha saído corrido das fileiras do Exército há mais de trinta anos. 

Os números variam, mas sempre apontam mais de 6 mil militares nomeados pelo Executivo Federal, além de ocuparem 30% dos cargos em empresas públicas, como o novo presidente da Petrobras. Seria esse um governo militar ou um governo dos militares? 

A militarização, entretanto, não tem relação apenas com o número de fardados no governo.

Trata-se de um processo em que valores, modos de vida, princípios e normas que orientam o mundo militar são transferidos para a administração pública, militarizando o Estado.

Tão problemático quanto quem faz, é o como faz e por que faz. 

O que significa militarizar a sociedade?

A guerra como opção social e política não é algo inerente ao ser humano.

A militarização da sociedade é o que permite a naturalização do militar, da guerra e das armas como alternativas à resolução de conflitos, seja no âmbito doméstico, seja na geopolítica internacional.

Ora, sem a militarização as divergências não desapareceriam, mas a opção pela violência armada como forma de resolvê-las seria considerada repugnante e injusta. 

A ditadura implantada em 1964 aprofundou a militarização da sociedade brasileira. Setores de igrejas apoiaram e tiveram importante papel nesse processo, evocando o “Deus dos exércitos, Senhor da guerra”... 

Baseados nessa leitura, valores militarizados se expandiram na sociedade, como a ideia de que vivemos dentro de marcos hierárquicos, e devemos conformar-nos com o lugar que ocupamos na hierarquia social:

* pobre (resignado),

* classe média (remediado),

* rico (desculpabilizado).

É a legitimação da desigualdade social, ainda que flagrantemente injusta.

Outro “valor” é obedecer aos superiores (civis, religiosos etc.), sem divergir quanto às normas e regras adotadas. É a ideia de que as coisas sempre foram assim, e assim devem continuar. Em um mundo hostil é necessário competir para ganhar, ser combativo. O triunfo é estimulado em detrimento da relação solidária entre pessoas. 

A militarização reforça a noção de que é preciso estar sempre vigilante diante de potenciais riscos e perigos que ameaçam a nossa sobrevivência. Para driblar o medo, é preciso ser agressivo, forte, viril, dominante, mesmo se isso significar ser machista e cruel. 

Muitas vezes o adestramento militar atinge um grau de violência que induz à desumanização do outro.

Alunos se tornam dispostos a matar seres humanos a partir da ordem de um superior, sem duvidar, discutir ou divergir. 

O sentimento de empatia com dores e desejos do outro é substituído pela relação amigo x inimigo.

O discurso de ódio substitui o da alteridade. O inferno e o inimigo são os outros, daí ser preciso eliminá-los. Assim, a militarização de corações e mentes torna o outro invisível e desprezível, o que justifica a violência. É o perfeito antagonismo à noção de amar ao próximo como a si mesmo. 

Desmilitarizar os espíritos e a sociedade 

Desmilitarizar os espíritos e a sociedade requer priorizar a segurança humana com relação à:

* alimentação,

* saúde,

* educação,

* acesso ao trabalho,

* respeito aos direitos humanos e

* ao meio ambiente.

É reivindicar horizontalidade diante de relações hierárquicas, particularmente as que vitimam os mais pobres. 

E incutir solidariedade e respeito pelo diferente, diante do racismo e da xenofobia; senso de igualdade entre homens e mulheres, diante do sexismo das estruturas militares; e internacionalismo e cooperação enquanto valores nacionais. 

Há que se retomar a bandeira da justiça e da paz, e da união entre povos próximos e distantes.

E ousar olhar nos olhos do outro para perceber, no reflexo, que somos todos humanos, irmãos e irmãs.

Fonte: Brasil de Fato – Opinião / Caserna – Terça-feira, 6 de abril de 2021 – 16h02 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui (acesso em: 07/04/2021).

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