«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Desinformação mata!

 Um país ilhado pela superstição

 João Gabriel de Lima

Escritor, Professor da FAAP e doutorando em Ciência Política na Universidade de Lisboa 

O Brasil precisa sair do transe e recuperar o debate racional a partir dos fatos, não das fake news

 

Sempre teremos Paris.” A frase famosa é de Rick Blaine, personagem de Humphrey Bogart no filme Casablanca – e era válida, até pouco tempo atrás, para o Brasil da covid-19. Com os principais aeroportos do mundo fechados aos brasileiros, a França era um dos poucos países que aceitavam nossos compatriotas – devidamente testados e temporariamente confinados. Na terça-feira dia 13, no entanto, o governo francês decidiu que não mais receberia aviões provenientes do Brasil. Não teremos mais Paris. 

A sessão do Parlamento francês que decidiu pelo fechamento de aeroportos foi um dos dois recados que o mundo deu, ao longo da semana, à ilha chamada Brasil. Ele veio em forma de sarcasmo. O primeiro-ministro Jean Castex fez piada com a obsessão do governo brasileiro por tratamentos sem comprovação científica, em especial à base de cloroquina. Os deputados franceses caíram na gargalhada. O vídeo viralizou nas redes sociais. 

Assista ao vídeo com a fala de Jean Castex, clicando sobre a imagem abaixo: 

O segundo recado veio da comunidade acadêmica. A revista americana Science, uma das publicações científicas mais respeitadas do mundo, fez um balanço do fracasso brasileiro no combate ao coronavírus.

O GOVERNO FEDERAL foi considerado o principal culpado, por sua “falha em implementar respostas rápidas, coordenadas e equilibradas num contexto de desigualdades locais agudas”.

Novamente surgiu, como fator agravante, o debate estéril sobre medicamentos sem eficácia comprovada: A resposta federal foi uma perigosa combinação de inação e erros, incluindo a promoção do tratamento com cloroquina sem evidência alguma”. 

Leia, na íntegra, o artigo publicado na revista SCIENCE, que está em inglês, clicando: aqui

A risada dos deputados franceses e o juízo da revista americana apontam para um mesmo fenômeno, o da desinformação – que ceifa vidas na pandemia e mina os regimes de liberdade. “A democracia depende da interlocução racional dos vários atores, a partir de fatos que todos aceitam”, diz o jornalista Eugênio Bucci, colunista do Estadão e personagem do minipodcast da semana. Vale lembrar a frase popularizada pelo senador americano Daniel Patrick Moynihan:

“Qualquer um tem direito às próprias opiniões, mas não aos próprios fatos”.

 Entre vários livros, Eugênio é autor de Existe democracia sem verdade factual?

Segundo ele, as instituições se veem ameaçadas sempre que as instâncias comprometidas com a busca dos FATOS – as universidades, os institutos de pesquisa, o jornalismo profissional – são desacreditadas ou atacadas pelos governos.


Plataformas digitais que estimulam a emoção em detrimento da razão são ideais para tais ataques.

Em vez do debate público, cria-se, segundo Eugênio, um clima de “superstição pública”.

Como sugere a revista Science, o fracasso brasileiro no combate à Covid-19 se deve, em grande parte, à proliferação de “superstições públicas” – como o tal tratamento à base de cloroquina. O Brasil precisa sair do transe e recuperar, o quanto antes, o debate racional a partir dos fatos. Para Eugênio, só a boa política, aquela que se tece sobre o diálogo maduro, pode encaminhar a resolução de nossos problemas. Hoje, eles são enormes. Duas tragédias – humanitária e econômica – que resultaram da má gestão da pandemia. 

O mundo já gritou, em inglês e francês, que tem medo do criadouro de variantes em que nos transformamos. Se não corrigirmos logo o rumo, seremos vistos, cada vez mais, como uma ilha indesejável, lamentada por seus mortos e ridicularizada por suas superstições. 

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política / Colunista – Sábado, 17 de abril de 2021 – Pág. A8 – Internet: clique aqui (acesso em: 17/04/2021).

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