Por que os preços sobem?
O dólar e o risco Bolsonaro
Editorial
Jornal «O Estado de S. Paulo»
Incertezas
sobre Orçamento, pandemia quase descontrolada e os tropeços e impasses do
governo na política econômica explicam o dólar caro
Dólar caro pressiona os custos, alimenta a inflação e inferniza a
vida de milhões de famílias, forçadas a pagar mais por muitos produtos.
Algo muito anormal parece estar ocorrendo no mercado de
câmbio. Com as contas externas em ordem, a fraqueza do real causa estranheza. Mas
o aparente mistério desaparece quando se levam em conta:
* as incertezas sobre o Orçamento,
* a pandemia quase descontrolada e
* os tropeços e impasses de um governo incapaz de dar um rumo à política econômica.
A crise sanitária afetou o comércio internacional no ano
passado, mas quase sem reflexos no Brasil. As exportações de commodities –
soja, carnes, minérios e outros produtos básicos – continuaram vigorosas,
garantindo um robusto superávit comercial. O País acumulou saldo
positivo de US$ 51 bilhões no comércio de mercadorias.
Apesar disso, o real foi uma das moedas mais desvalorizadas em
2020.
Em dezembro, a cotação média do dólar (R$ 5,142) foi 28,8% maior que em janeiro, mas em vários momentos, nos dois semestres, a moeda americana superou a cotação de R$ 5,50.
A instabilidade cambial continuou em 2021 e o dólar superou R$ 5,70 em algumas ocasiões. No meio da manhã de ontem, a moeda americana, em queda no mercado brasileiro, foi negociada a R$ 5,54. No meio da tarde, no entanto, estava cotada a R$ 5,56. As explicações eram previsíveis: novamente as várias incertezas dificultavam o recuo para o território abaixo de R$ 5,50.
Respeitados economistas, veteranos conhecedores do comércio
internacional e do mercado de câmbio, repetiram ao Estado a lista dos fatores de insegurança. Aparecem com
destaque, nessa relação:
1) as incertezas sobre a evolução das contas de
governo, incluída a enorme dívida interna,
2) os erros do governo federal diante da pandemia,
3) a vacinação lenta,
4) os problemas de suprimento de vacinas,
5) as tensões políticas e
6) a economia sem rumo.
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SIM! O ARROZ CHEGOU A ESTE PREÇO EM SETEMBRO DE 2020, EM PLENA PANDEMIA |
A insegurança fiscal aumentou com novas trapalhadas fiscais. Passado o meio de abril, o País continua sem um orçamento executável. O projeto de lei orçamentária de 2021 foi aprovado em março, com enorme atraso e com distorções perigosas, como a subestimação dos gastos obrigatórios. Embora sem dispor de uma programação financeira exequível para 2021, a equipe econômica já enviou ao Congresso o projeto da nova Lei de Diretrizes Orçamentárias, com metas para 2022. Ninguém pode dizer com alguma segurança como e quando esse projeto será aprovado.
A pandemia ainda muito grave, com mortandade elevada e
escassez de insumos para intubação de pacientes, complica as projeções
econômicas.
O dado mais claro, hoje, é o crescente pessimismo dos economistas
consultados pelo Banco Central, semanalmente, em sua pesquisa Focus.
Em quatro semanas o crescimento econômico estimado para este ano caiu de 3,22% para 3,04%, enquanto a inflação esperada subiu de 4,71% para 4,92%, bem acima da meta deste ano (3,75%). Nesse intervalo, o câmbio previsto para o fim do ano aumentou de R$ 5,30 para R$ 5,40 por dólar. A piora das expectativas também afeta as projeções de inflação e câmbio de 2022.
As incertezas sobre a inflação, as contas públicas, o crescimento e o próprio câmbio misturam-se com o mau humor dos investidores, assustados com a política antiambiental do governo e com o intervencionismo nas estatais de capital aberto, como Banco do Brasil e Petrobrás.
Segundo técnico citado pelo Estado, a cotação
adequada seria de R$ 4,60, muito próxima daquela apontada, recentemente, pelo
ministro da Economia, Paulo Guedes (R$ 4,50). Não faltam recursos.
Estima-se em cerca de US$ 40 bilhões o dinheiro mantido no exterior, como
medida de cautela, por exportadores.
A fonte principal de insegurança chama-se Jair Bolsonaro e mora no
Palácio da Alvorada.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas & Informações – Terça-feira, 20 de abril de 2021 – Pág. A3 – Internet: clique aqui (acesso em: 20/04/2021).
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