«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O HOMEM MAIS FRÁGIL DO MUNDO


Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

O refrão se repete por toda parte. Com letras garrafais na mídia escrita, com certa referência na mídia falada ou televisionada, com certo ar de mistério pelas ruas, botecos, feiras e praças do país: o presidente dos Estados Unidos é o “homem mais poderoso do mundo”.

E Barak Obama, com esposa e filhas, desfila entre a capital do Brasil e o Rio de Janeiro com esse qualitativo impresso no cenário coreográfico de sua passagem. Além do mais, com seus discursos aparentemente improvisados, procura esbanjar simpatia e sintonia entre o “povo brasileiro” e o “povo norte-americano”.

A Coluna de Jânio de Freitas desta segunda-feira (Folha de S. Paulo, 21/03/2011) abre leve brecha nessa imagem, mais construída que real. Se levarmos em conta a quantidade de policiais e soldados envolvidos na sua proteção; os blindados, helicópteros, carros e motos que acompanham a comitiva, o gigantesco sistema de segurança montado para receber o presidente junto com sua família e sua corte, o jogo espetacular e fantástico do palco onde o ator exibirá seu desempenho (para não falar performance) – então é preciso concluir que estamos diante do “homem mais frágil do mundo”.

Um prisioneiro de um presídio ambulante. Marcado pelo estigma da fobia, não dá um passo, sem que o terreno seja prévia e devidamente inspecionado; não ingere qualquer alimento, sem que tenha passado por uma rigorosa investigação quanto à origem e à preparação; não se desloca, sem a companhia de um batalhão de veículos motorizados e seguranças de estatura avantajada e óculos escuros; não fala, sem que seja atestada absoluto controle em todos os pontos ao alcance de sua voz. Um prisioneiro itinerante, sim, não obstante esteja rodeado de carcereiros de gravata e paletó.

Pobre homem, pobre liberdade! Expõe o medo doentio e mórbido de cada cidadão do mundo rico ou das regiões ricas do mundo pobre. Revela nossas próprias prisões, que insistimos em chamar de casas ou lares, onde nos encarceramos com a família. Habitações em que os muros se levantam cada vez mais altos, grades são chumbadas em suas extremidades, cães de guarda instalados nos jardins, câmeras espalhadas estrategicamente pelos condomínios, ruas, bairros e cidade, aumento do número de policiais privados. Os gastos com sistemas de segurança cada vez mais sofisticados, utilizando tecnologia de ponta, atestam, por um lado, uma fobia que só faz crescer e nos torna reféns de nossos jovens e adolescentes e, por outro, que nos convertemos em carcereiros de nós mesmos. Precisa acrescentar que tudo isso muitas vezes não serve para nada e que os roubos, assaltos e latrocínios registram índices que, ironicamente, parecem progredir na proporção do próprio investimento com segurança?

Voltando à passagem de Barak Obama ao Brasil, sua visita ao mesmo tempo vela e revela que “o rei está nu”, de acordo com a conclusão de Hans Christian Andersen, em A nova roupa do rei. E não só ele, mas todos nós que, diante das notícias diárias e sensacionalistas dos meios de comunicação, recheadas de violência e sangue, tiritamos de medo dentro de nossos lares profusamente revestidos com os artefatos da última moda em conforto e segurança. A sociedade está nua! Tanto mais nua quanto mais carecida de vistosas vestes para proteger-se. O presidente dos Estados Unidos aparece como um símbolo dessa nudez simultaneamente oculta e exposta. O homem mais poderoso da terra é também o mais frágil. O mais necessitado de um exército de homens, olhos eletrônicos e armas que o façam caminhar sem risco. Sua força imperial corresponde a sua fraqueza de homem encarcerado na teia de aranha de um sistema de segurança tão fantástico quanto fóbico.

Nos subterrâneos dessa liberdade prisioneira, desse luxo empobrecido, desse poder débil escondem-se relações socioeconômicas e político-culturais injustas e assimétricas. Mais do que um homem e sua família, o que esse batalhão de policiais e seguranças procura defender é uma ordem mundial que se tornou insustentável. O modelo de senhor e vassalo, império e colônia, Primeiro e Terceiro Mundo, histórica e estruturalmente consolidado e nutrido, agoniza em seu próprio esplendor. Os fogos de artifício sobem e caem com a mesma rapidez. O show pirotécnico dura poucos segundos de luzes, cores e brilho; depois tudo se converte em cinza. As multidões que erguem estátuas são as mesmas que as derrubam com o vento de sua fúria indomada. O herói de hoje costuma ser o vilão de amanhã.

A presença de Obama entre nós ajuda a refletir que não é apenas Muammar Cadaffi que se encontra nu e frágil diante das ondas turbulentas e contraditórias da história. Poder e glória são tão efêmeros quanto a moda e o humor da multidão. A figura do jovial e simpática do presidente dos Estados Unidos, hoje revestido de belas palavras, honras e poder, simboliza um amanhã de silêncio, de indignação e de fragilidade. Enquanto as torrentes subterrâneas da desigualdade socioeconômica, em nível mundial, não forem resolvidas, a calmaria da superfície tende a ser enganosa. Terremotos e tsunamis imprevisíveis ocultam-se por trás da diplomacia elegante, charmosa e sorridente. O ditado popular de que “as aparências enganam” serve como nosso ponto final.

Fonte: Província São Paulo - Padres Scalabrinianos - E-mail - Dia 21/03/2011 - Às 09h02

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