«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 22 de março de 2011

Para conhecer um dos atores no Mundo Árabe: O nascimento da Irmandade Muçulmana


Com o colapso do Império Otomano, maior representante do islamismo no início do 20, muçulmanos egípcios procuraram combater a ocidentalização

Jay Winter
Los Angeles Times
[Foto acima]

Para compreender a Irmandade Muçulmana e avaliar seu papel nesse momento em que o Oriente Médio passa por mudanças, é necessário primeiro examinar as forças que ocasionaram o nascimento da organização - o que nos leva ao colapso do Império Otomano durante a 1.ª Guerra.

Antes da guerra, o Império Otomano era a mais forte e a mais visível face do Islã no mundo. No seu auge, nos séculos 16 e 17, ele controlava uma grande extensão de território que se estendia do sudeste da Europa até a Ásia e o Norte da África. Seu território diminuiu enormemente no século 20, mas foi a aliança que firmou com a Alemanha na guerra que provocou sua destruição final.

Em consequência do conflito, o que restou do Império Otomano foi dividido pelos vitoriosos, fato que deu às potências ocidentais muito mais influência no Oriente Médio e criou uma enorme tensão entre as populações islâmicas.

Na Turquia, Mustafa Kemal - que mais tarde recebeu o nome Ataturk, ou pai dos turcos - finalmente subiu ao poder. Herói de Gallipoli, que desafiou e derrotou os invasores britânicos e franceses no Estreito de Dardanelos em 1915, Kemal foi também o homem que frustrou os planos ocidentais de uma partilha da Turquia em holdings imperiais e uniu o Exército turco para vencer a invasão grega. O resultado foi uma nação em que a religião ficou separada do poder.

A Turquia de Ataturk comprometeu-se, sob sua liderança, a ingressar no mundo ocidental - em termos de língua, vestuário, engajada com o desenvolvimento do país e o poder militar. E nesse projeto, Ataturk teve êxito. A Turquia hoje é a sua maior realização.

Mas a insistência de Ataturk no sentido de um governo totalmente secular também desencadeou um movimento contrário de muçulmanos que queriam salvar o Islã do contato corruptor com o Ocidente. No Egito, esse movimento deu nascimento à Irmandade Muçulmana.

O Egito, uma monarquia constitucional a partir de 1922 e membro da Liga das Nações desde 1937, foi incapaz de estabelecer um sistema político estável, em parte por causa da presença constante das forças britânicas controlando o Canal de Suez - que influenciavam vigorosamente o Cairo.

Entre os egípcios preocupados com a ocidentalização do país estava Hassan Banna, filho de um relojoeiro, que, em 1919, aos 13 anos, participou de motins de caráter nacionalista exigindo a autodeterminação do país. Quando esse movimento fracassou, Hassan ficou cada vez mais preocupado com as consequências políticas e morais nocivas de uma ocidentalização do país. O declínio da civilização islâmica, ele achava, só poderia ser revertido com o retorno à fé.

Para isso, em 1928, em Ismailia, Hassan ajudou a organizar um grupo de professores e militantes conhecidos como Irmãos Muçulmanos. Embora em suas origens fosse um movimento de reforma islâmico mais amplo, o objetivo da Irmandade Muçulmana é fazer do Alcorão o principal ponto de referência para guiar os muçulmanos na sua vida cotidiana, dentro de suas famílias, seus povoados, cidades e nações.

Hassan foi um orador e um militante das bases, discursando onde podia, em mesquitas ou cafés.
O trabalho do grupo era beneficente e educacional, mas seus membros também defendiam um retorno às raízes islâmicas, expurgadas do contato com outras tradições. O grupo aproveitou-se do ressentimento generalizado com a presença das tropas britânicas e a riqueza ostensiva da comunidade expatriada, com a administração do Canal de Suez.

Essa mensagem anticolonialista muçulmana encontrou um público receptivo e em breve criou uma organização de massa perigosa para a dominação britânica e a monarquia egípcia.

No início dos anos 40, alguns membros da Irmandade Muçulmana criaram grupos armados, envolvidos com diversos incidentes violentos. O número de membros aumentou para 500 mil.
Em 1948, Hassan Banna convocou voluntários para combater ao lado dos palestinos. O governo egípcio agiu para dissolver o movimento, prendendo centenas de partidários da irmandade. Uma medida que não teve êxito e provocou o assassinato do primeiro-ministro egípcio por um irmão muçulmano em dezembro de 1948. Três meses depois, Hassan foi atacado também e morreu por causa dos ferimentos que, de acordo com algumas fontes, não foram deliberadamente tratados no hospital por ordem do governo. Mas seu legado não foi fácil de erradicar.

A Irmandade Muçulmana surgiu em resposta ao controle britânico no Oriente Médio antes de 1948. A mesma crise também moldou os territórios palestinos. Os compromissos paralelos e contraditórios dos britânicos com movimentos nacionalistas dos árabes e movimentos nacionalistas dos judeus criaram uma mistura explosiva que ainda precisa ser desativada.

Na Galileia, oito jovens sionistas - incluindo o único armado, Joseph Trumpeldor - morreram num confronto com muçulmanos xiitas em março de 1920. Os oito deram seu nome à cidade de Kiryat Shemona, que se tornou um memorial de guerra.

Em abril de 1920, cinco judeus e quatro árabes morreram e centenas ficaram feridos em distúrbios na Cidade Velha de Jerusalém. Em maio de 1921, 48 árabes e 45 judeus - incluindo o grande escritor Yosef Haim Brenner -, foram mortos em confrontos em Jaffa. O banho de sangue que se observa no Oriente Médio moderno já é um modelo antigo, como também é o sofrimento.

Quando os gigantes caem, disse Tácito, proteja-se. Mesmo que tenha sido uma gigante enferma, a Turquia Otomana foi gigante. Seu colapso levou a uma expansão do poder imperialista do lado dos vitoriosos na guerra e a uma guerra que persiste ainda contra a manipulação ocidental da região em favor de seus interesses estratégicos e econômicos.

Hoje, quase um século depois, vemos as mesmas forças posicionadas na mesma luta crônica e sangrenta, sem um fim a vista. Se você acha que as forças explosivas da 1.ª Guerra são a essência da história antiga, pense novamente.

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

* É PROFESSOR DE HISTÓRIA NA YALE UNIVERSITY E COAUTOR DO LIVRO "THE GREAT WAR AND THE SHAPING OF THE 20TH CENTURY"

Fonte: O Estado de S. Paulo - Domingo, 20 de março de 2011 - Pg. A26 - Internet: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110320/not_imp694480,0.php

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