«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 15 de março de 2011

A guerra contra a natureza e a ''geração 11 de março''


"Sou escritor, mas ainda não fui capaz de expressar em palavras aquilo que estamos vivendo. Nada mais será como antes. Nós, japoneses, estamos acostumados com os terremotos. Porém, nenhum de nós jamais havia imaginados esses tremores, nem esses tsunamis".

A opinião é do crítico cultural japonês Hiroki Azuma (foto acima), em artigo publicado no jornal La Repubblica [Roma, Itália], 14-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Segundo o escritor, "para nós, japoneses, nada mais será como antes. E a geração da minha filha será para sempre aquela que viveu o 11 de março de 2011".

Eis o texto.

Enquanto caminhava para casa, procurando resistir às réplicas do terremoto que me deixavam com o coração na garganta, pensava em como conseguir falar com a minha mulher. Já eram três horas que eu não conseguia contatá-la, desde que eu senti o primeiro tremor no meu escritório e depois o segundo nas escadas, que se tornaram de repente areias movediças. Isso não é um terremoto, pensei logo. É uma guerra. É certo que nós, japoneses, estamos acostumados com os terremotos. Preparamo-nos desde pequenos, temos exercícios, simulações e provas verdadeiras, porque cada um de nós, em um momento ou outro da vida, deve enfrentar pelo menos um sisma grave. Você sabe que vai acontecer com você, antes ou depois. Sabemos também que os tsunamis existem. Muitos pais ou avós contam fábulas sobre o mar "enraivecido", as crianças muitas vezes desenham homens capazes de caminhar sobre as ondas. É o superpoder que todos sonham em ter. Porém, nenhum de nós jamais havia sequer imaginado esse terremoto, nem esse tsunami.

Na rua, depois dos primeiros minutos de pânico controlado, aquela estranha calma que nós, japoneses, também temos nessas grandes provas, comecei a sentir um medo novo. O meu celular estava desligado, a rede de Internet funciona aos soluços. Nesse ponto, a minha única preocupação era conseguir me comunicar. Trabalho no Tokyo Institute of Technology. Como todos aqueles da minha geração, também sou um otaku. Cresci em meio aos gibis, desenhos animados e videogames. Educaram-me para o mito do poder tecnológico, e a minha cultura é a de "estar em casa", o significado literal da palavra otaku.

A ausência de comunicação tornou-se um pensamento fixo. Uma sensação jamais provada por aqueles, como eu, acostumados a estar eternamente conectados. Do meu escritório, tive que caminhar quase cinco quilômetros para chegar em casa. Não havia mais ônibus, nem metrôs. Estava em um lugar aberto, junto com muitas outras pessoas, mas me sentia, de repente, sozinho. Como se o blecaute das comunicações já fosse um princípio de morte.

No fim, me detive em uma cabine telefônica. Ainda existem algumas em Tóquio. Da última vez que tive que usá-la, eu ainda devia ser um menino. Mas eis que a velha cabine telefônica funcionava. Graças a esse aparelho do passado, consegui falar finalmente com a minha mulher que havia voltado para casa, depois de ter passado para pegar a minha filha pequena na escola. Todas as duas estavam bem. Elas também esperavam falar comigo.

"Papai, o que aconteceu"?, foi a primeira pergunta da minha filha, assim que eu cheguei. Abraçamo-nos, minha mulher chorou. Dissemos-lhe a verdade. Uma menina de cinco anos é grande o suficiente para entender. Pelo menos, eu espero. Amanhã ela irá voltar para a escola, junto com os seus colegas. Eu irei ao escritório. Teremos que procurar voltar a uma vida normal, porque só assim o Japão poderá superar isso. O que está acontecendo superou os nossos piores pesadelos. Sou escritor, mas desde sexta-feira ainda não fui capaz de expressar em palavras o que estamos vivendo. A não ser, talvez, que esta seja uma guerra, ou pelo menos alguma coisa que se assemelhe a como eu a imagino, visto que tenho 40 anos e jamais conheci um conflito verdadeiro.

As consequências desse terremoto ainda são imprevisíveis. O balanço das vítimas é tal que serão necessários anos para superar o luto. A reconstrução será cansativa. A nova ameaça nuclear nos tornará ainda mais frágeis e nos levará a mudar as nossas convicções, provavelmente também os nossos hábitos de vida.

Para nós, japoneses, nada mais será como antes. E a geração da minha filha será para sempre aquela que viveu o 11 de março de 2011.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - Dia 15/03/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=41383

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.