«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 24 de setembro de 2011

26º Domingo do Tempo Comum: A religião nem sempre conduz a fazer a vontade do Pai

 José Antonio Pagola
Teólogo Espanhol

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 21,28-32

O perigo da religião

Jesus leva uns dias em Jerusalém movendo-se à volta do templo. Não encontra pelas ruas o acolhimento amistoso das aldeias da Galileia. Os dirigentes religiosos que se cruzam no Seu caminho procuram desautorizá-lo diante das pessoas simples da capital. Não descansarão até enviá-Lo para a cruz.


Jesus não perde a paz. Com paciência incansável continua a chamá-los para a conversão. Conta-lhes um episódio simples que lhe ocorre ao vê-los: a conversa de um pai que pede aos seus dois filhos que vão trabalhar na vinha da família.


O primeiro rejeita o pai com uma negativa categórica: “Não quero”. Não lhe dá explicação alguma. Simplesmente não lhe apetece. No entanto, mais tarde reflete e dá-se conta que está a rejeitar o seu pai e, arrependido, dirige-se para a vinha.

O segundo atende amavelmente a petição do seu pai: “Vou, senhor”. Parece disposto a cumprir os seus desejos, mas rapidamente se esquece do que disse. Não volta a pensar no seu pai. Tudo fica em palavras. Não se dirige para a vinha.


Para o caso de não terem entendido a Sua mensagem, Jesus dirigindo-se aos “sumo sacerdotes e aos anciãos da terra”, aplica-lhes de forma direta e provocativa a parábola: “Asseguro-vos que os publicanos e as prostitutas estão à vossa frente no caminho do reino de Deus”. Quer que reconheçam a sua resistência para entrar no projeto do Pai.


Eles são os “profissionais” da religião: os que disseram um grande “sim” ao Deus do templo, os especialistas do culto, os guardiões da lei. Não sentem necessidade de converter-se. Por isso, quando veio o profeta João a preparar os caminhos de Deus, disseram-lhe “não”; quando chegou Jesus convidando-os a entrar em Seu reino, continuaram a dizer “não”.

Pelo contrário, os publicanos e as prostitutas são os “profissionais do pecado”: os que disseram um grande “não” ao Deus da religião, os que se colocaram fora da lei e do santo culto. No entanto, o seu coração manteve-se aberto à conversão. Quando veio João acreditaram nele; ao chegar Jesus acolheram-no.


A religião nem sempre conduz a fazer a vontade do Pai. Podemo-nos sentir seguros no cumprimento dos nossos deveres religiosos e habituar-nos a pensar que nós não necessitamos de nos converter nem mudar. São os afastados da religião os que o hão de fazer. Por isso é tão perigoso substituir o escutar o Evangelho pela piedade religiosa. Diz Jesus: “Nem todos os que me disserem ‘Senhor’, ‘Senhor’ entrarão no reino de Deus, mas os que fizerem a vontade do Meu Pai do céu”.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 24/09/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=47673
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É preciso passar da palavra à ação

Raymond Gravel
Quebec - Canadá
Les Reflexions de Raymond Gravel
21.09.2011

Deus jamais se desespera conosco. Ele sempre está pronto a nos acolher. Ele espera de nós a conversão; ele quer que passemos da palavra à ação. Ao mesmo tempo, entendemos que aqueles que respondem ao seu apelo não são necessariamente aqueles que pensamos.

Mt 21, 28-32

Jesus e seus discípulos entraram a Jerusalém (Mt 21, 1-11). Jesus expulsou os mercadores do templo (Mateus 21, 12-17), e eis que ele se deixa interrogar sobre o seu agir pelos sacerdotes, pelos escribas e pelos fariseus. Com três parábolas: a dos dois filhos (Mt 21, 28-32), a dos trabalhadores revoltados (Mt 21,33-46) e a da festa nupcial (Mt 22, 1-14), Jesus vai responder aos seus adversários e justificar o seu engajamento.


A parábola de hoje, a dos dois filhos, nos ensina que Deus jamais se desespera conosco. Ele sempre está pronto a nos acolher. Ele espera de nós a conversão; ele quer que passemos da palavra à ação. Ao mesmo tempo, entendemos que aqueles que respondem ao seu apelo não são necessariamente aqueles que pensamos.


O evangelista Mateus é o único que nos conta essa parábola dos dois filhos. E o faz no contexto da sua Igreja do século I, onde se vivem tensões e conflitos entre judeus e pagãos que compõem a sua comunidade cristã. O que ele quis dizer com essa parábola à sua comunidade? O que devemos compreender hoje na nossa Igreja?


1. Os dois filhos


Quem são os personagens dessa parábola? O homem que tem dois filhos é Deus. O primeiro filho a quem o pai pede que vá trabalhar na sua vinha, sem dúvida o mais novo, representa os recém-chegados na Igreja, os neoconvertidos vindos do paganismo. Chamados a trabalhar na vinha, no início recusaram o convite. Contudo, pelo testemunho dos outros, se converteram e se tornaram missionários da Boa Nova da Salvação. O que Mateus quis dizer à sua comunidade é que o importante não é dizer, mas fazer. Reconhecer que temos a necessidade de nos converter, de nos voltarmos para Cristo, não em palavras, mas com os fatos.


O segundo filho, sem dúvida o mais velho, representa os judeus, os sacerdotes, os fariseus e os escribas que se dizem fiéis ao Deus da Aliança. Eles fazem parte do povo de Deus. Creem-se superiores aos outros. Espontaneamente, dizem sim aos convites do Senhor, mas não fazem nada, não se comprometem. Recusam-se a trabalhar na vinha, na Igreja. Entre os cristãos da comunidade de Mateus, há alguns desses judeus que disseram sim a Cristo, mas se recusam a fazer o trabalho que lhes é pedido. O evangelista certamente faz alusão à tensão que existe na sua comunidade entre os cristãos que provêm do mundo judaico e aqueles que vêm do mundo pagão.


Como os cristãos do tempo de Mateus foram expulsos das sinagogas pelos líderes judeus, essa parábola se dirige sobretudo a eles. É a esses dirigentes que é dita aquela palavra dura por parte do Cristo de Mateus: "Os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus" (Mt 21, 31 b). Os publicanos e as prostitutas eram as pessoas mais desprezadas pelos judeus e são aqueles e aquelas que acolheram os convites à conversão de João Batista e que responderam ao convite do Cristo ressuscitado.


O teólogo francês Gérard Bessière escreve: "Os personagens visados pela parábola são os sumo sacerdotes e os anciãos, os líderes da nação. Consideram-se crentes, praticantes, homens de Deus. Dizem: Sim, Senhor! Mas quanto João Batista ou Jesus lhes convidam a mudar o seu coração e a sua vida, eles se enrijecem nas suas crenças e nas suas práticas. Eles que sempre falam de Deus ficarão longe da vinha". E Bessière continua: "Os outros, os cobradores de impostos, as prostitutas certamente não são pilares da igreja ou do templo, e a sua reputação é deplorável. Não são praticantes, mas, na realidade, muitos deles acolhem a novidade de João Batista e de Jesus. Esses descrentes, distantes de uma religião rígida, estão prontos para tomar um caminho novo".


2. Viver segundo a justiça


Mateus escreve: "Pois João veio até vós, caminhando na justiça, e não acreditastes nele. Mas os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes, para crer nele"(Mt 21, 32). O exegeta francês Jean Debruynne escreve: "Poderíamos pensar que a pergunta posta é para saber se é melhor dizer 'sim' e fazer o contrário, ou se é melhor dizer 'não' e fazê-lo de qualquer forma! No tempo de Mateus, os sumo sacerdotes e os anciãos respondem corretamente... porém, não vivem segundo a justiça. São os publicanos e as prostitutas que vivem segundo a justiça".


Então, a pergunta a ser feita é: o que quer dizer viver segundo a justiça? Da maneira de João Batista (Mt 21, 32a)? E, depois dele, da maneira de Jesus de Nazaré? Jean Debruynne responde: "Tudo depende do que se faz de uma palavra justa: pode-se fazer dela uma porta aberta ou uma porta fechada; pode-se fazer dela um caminho, uma passagem, ou mesmo levantar um muro...".


A tendência dos sacerdotes e dos anciãos, no tempo de Mateus, era de fazer dela uma porta fechada, pela qual só uma elite podia entrar, ou também levantar um muro, que só os mais fortes podiam escalar. Os outros eram deixados de lado: os pagãos, os publicanos, os pecadores públicos, os leprosos, os doentes, as prostitutas e todos aqueles que não se conformavam com a Lei de Moisés.


Segundo os sacerdotes e os líderes religiosos judeus, os excluídos eram responsáveis pela sua sorte: os filhos deviam carregar as culpas dos pais, e os pais eram responsáveis pelas culpas dos filhos. Justificavam-se a rejeição e a exclusão das pessoas e das suas famílias com base nesse princípio. No entanto, o profeta Ezequiel insurge-se contra esse modo de pensar. Na primeira leitura de hoje, o profeta diz que Deus não deseja a morte; quer a vida; que a sua conduta não é estranha; que estranha é a conduta dos líderes (Ez 18, 25).


Segundo Ezequiel, nós somos responsáveis e livres perante a justiça; cabe a cada um de nós escolhê-la ou rejeitá-la, mas o nosso Deus é um Deus que quer a vida para todos. Mas se, por preocupação com a justiça, fecha-se uma porta ou se levanta um muro, como permitir que os mais pobres e os mais fracos entrem no Reino?


3. A parábola de hoje


Quem são os dois filhos, na Igreja de hoje? Há aqueles que seguem fielmente a tradição, a prática, as regras e a doutrina. Aqueles que se fizeram uma religião muito cômoda, com regras de conduta muito severas; uma religião que mais fecha portas do que as abre e que mais levanta muros do que os derruba. Muitas vezes, eles se acreditam superiores aos outros e imaginam ser os únicos fiéis a Cristo. Dizem sim ao convite para trabalhar na vinha, mas são verdadeiramente ativos segundo o espírito das bem-aventuranças? 


Dizer sim ao Cristo do evangelho significa acolher o outro, o estrangeiro, com as suas diferenças; significa aceitar o marginalizado, a pessoa abandonada; significa dar prova de tolerância para com os mais fracos e os mais frágeis entre nós; e significa abrir-se ao inesperado, ao imprevisto, às novas realidades que são as nossas realidades.


O filho mais velho hoje é o que rejeita a mudança, a adaptação, a atualização da Palavra que liberta, que reúne, que nos une e que nos salva gratuitamente, sem restrições e sem nenhuma condição.


Também há outros, aqueles que não praticam, que não se adequam às regras da Igreja, mas que se comprometem em caminhos novos e que acolhem a liberdade do evangelho hoje. Aqueles que não repetem necessariamente aquilo que sempre se fez no passado; atualizam a Palavra hoje, andando por caminhos ainda inexplorados. Às vezes podem se equivocar, é claro, mas buscam viver segundo a justiça, a convite do Cristo da Páscoa.


A estes últimos, São Paulo dá razão na segunda leitura de hoje, a carta aos Filipenses: "Irmãos, se existe algum conforto em Cristo, alguma consolação no amor, alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai a minha alegria, deixando-vos guiar pelos mesmos propósitos e pelo mesmo amor, em harmonia buscando a unidade. Nada façais por ambição ou vanglória, mas, com humildade, cada um considere os outros como superiores a si e não cuide somente do que é seu, mas também do que é dos outros. Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus" (Fl 2, 1-5).


Para esclarecer o comportamento que se deve ter em Jesus Cristo, São Paulo retoma um hino cristão muito antigo que celebra o Cristo da Páscoa. Ele escreve que Jesus estava na condição de Deus (Fl 2, 6). Não diz que era Deus... A palavra usada em grego evoca o aspecto exterior; poder-se-ia dizer, então, que Jesus tinha a aparência de Deus. Isto se refere à condição de Adão, criado à imagem e semelhança de Deus; portanto, um homem, um verdadeiro homem.


Mas, ao contrário de Adão, Jesus não quis ser igual a Deus (Gn 3, 5); ao contrário, assumiu a condição humana até o fim, até a morte, para voltar a Deus e, assim, abrir um novo caminho para a vida: Deus o ressuscitou. Se somos da estirpe de Cristo ressuscitado e se vivemos a nossa humanidade até o fim, nós também estamos prometidos à ressurreição. Para fazer isso, é preciso que nos assemelhemos a Cristo e, para nos assemelharmos, devemos adotar o comportamento dos pequenos, dos excluídos e daqueles que a vida atingiu duramente.


Terminando, Mateus parece nos dizer que os publicanos e as prostitutas de todos os tempos nos precedem no Reino. São aqueles que, em primeiro lugar, dizem não, mas que aceitam o convite para trabalhar na vinha do Senhor. Os outros dizem sim talvez, mas se recusam a ir trabalhar. A quem nos assemelhamos? Somos "sim" que se contradizem, ou "não" que se arrependem e se convertem? Cabe a nós decidir!


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 24/09/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=47717

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