«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Os fundamentalistas da economia [Leia!]

Zygmunt Bauman
La Repubblica - Roma (Itália)
21.09.2011

Trecho do novo prefácio do sociólogo polonês Zygmunt Bauman à nova edição de Modernidade líquida, publicada pela editora italiana Laterza 


Na época do Iluminismo, de Bacon, Descartes ou Hegel, em nenhum lugar da terra o nível de vida era mais do que o dobro com relação ao das áreas mais pobres. Hoje, o país mais rico, o Qatar, se orgulha de uma renda per capita 428 vezes maior do que a do país mais pobre, o Zimbábue. E se trata, não nos esqueçamos, de comparações entre valores médios, que lembram a proverbial estatística dos dois pássaros. A tenaz persistência da pobreza em um planeta conturbado pelo fundamentalismo do crescimento econômico é mais do que suficiente para obrigar as pessoas razoáveis a fazerem uma pausa de reflexão sobre as vítimas colaterais do "andamento das operações".


O abismo sempre mais profundo que separa quem é pobre e sem perspectivas do mundo opulento, otimista e barulhento – um abismo hoje só superável pelos alpinistas mais enérgicos e sem escrúpulos – é uma outra razão evidente de grande preocupação. Como advertem os autores do artigo citado, se a parafernália cada vez mais rara, escassa e inacessível que é necessária para sobreviver e levar uma vida aceitável se tornar objeto de um confronto de morte entre aqueles que estão totalmente equipados com ela e os indigentes abandonados a si mesmos, a principal vítima da crescente desigualdade será a democracia.


Mas há uma outra razão de alerta, não menos grave. Os crescentes níveis de opulência se traduzem em um crescente nível de consumo. Além disso, enriquecer é um valor tão desejado só enquanto ajuda a melhorar a qualidade de vida, e "melhorar a vida" (ou, pelo menos, torná-la um pouco menos insatisfatória) significa, no jargão dos adeptos da igreja do crescimento econômico, já difundida por todo o planeta, "consumir mais".


Os seguidores desse credo fundamentalista estão convencidos de que todos os caminhos da redenção, da salvação, da graça divina e secular, e da felicidade (tanto imediata quanto eterna) passam pelas lojas. E, quanto mais se enchem as prateleiras das lojas que esperam ser esvaziados pelos buscadores de felicidade, mais se esvazia a Terra, o único recipiente/produtor dos recursos (matérias-primas e energia) que são necessários para encher novamente as lojas: uma verdade confirmada e reiterada cotidianamente pela ciência, mas (segundo um estudo recente) precisamente negada em 53% dos espaços dedicados à questão da "sustentabilidade" na imprensa norte-americana e ignorada ou calada nos outros casos.


O que é ignorado, nesse silêncio ensurdecedor que obscurece e desresponsabiliza, é o aviso lançado há dois anos por Tim Jackson no livro Prosperidade sem crescimento: até o final deste século, "os nossos filhos e netos deverão sobreviver em um ambiente de clima hostil e pobre de recursos, entre destruições dos habitats, dizimação das espécies, escassez de alimentos, migrações em massa e guerras inevitáveis". O nosso consumo, alimentado pela dívida e incansavelmente instigado/assistido/amplificado pelas autoridades constituídas, "é insustentável do ponto de vista ecológico, problemático do ponto de vista social e instável do ponto de vista econômico".


Uma outra observação assustadora de Jackson é que, em um ambiente social como o nosso, em que um quinto da população mundial desfruta 74% da renda anual de todo o planeta, enquanto o quinto mais pobre do mundo deve se contentar com 2%, a tendência generalizada para justificar as devastações provocadas pelas políticas de desenvolvimento econômico, remetendo-se à nobre exigência de superar a pobreza, nada mais é do que um ato de hipocrisia e uma ofensa à razão: e essa observação também foi quase universalmente ignorada pelos canais de informação mais populares (e eficazes), ou, na melhor das hipóteses, foi relegada às páginas e faixas horárias notoriamente dedicadas a hospedar e a dar espaço a vozes acostumadas e resignadas a pregar no deserto.


Ainda em 1990, cerca de 20 anos antes do livro de Jackson, em Governar os bens coletivos, Elinor Ostrom havia advertido que a convicção propagandeada incansavelmente, segundo a qual as pessoas são naturalmente levadas a buscar lucros de curto prazo e a agir com base no princípio "cada um por si e Deus por todos" não resiste à prova dos fatos. A conclusão do estudo de Ostrom sobre as empresas locais que operam em pequena escala é muito diferente: no âmbito de uma comunidade, as pessoas tendem a tomar decisões que não visam apenas ao lucro.


É hora de se perguntar: essas formas de "vida em comunidade" que a maioria de nós conhece unicamente através das pesquisas etnográficas sobre os poucos nichos que sobraram hoje de épocas passadas, "superadas e atrasadas", são verdadeiramente algo irrevogavelmente concluído? Ou, talvez, está por emergir a verdade de uma visão alternativa da história (e, com ela, de uma concepção alternativa do "progresso"): isto é, que a corrida à felicidade é só um episódio, e não um salto à frente irreversível e irrevogável, e foi/é/vai se revelar, no plano prático, um simples desvio intrínseca e inevitavelmente temporário?


Tradução de Moisés Sbardelotto.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 23/09/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=47678

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