«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

“Enquanto nos contentarmos com o Bolsa Família, não haverá mudanças”

ENTREVISTA
Maria Sarah da Silva Telles

O Bolsa Família é um programa que unificou e ampliou as políticas sociais para os miseráveis numa política focalizada que tem algumas restrições se comparada com as políticas universalistas

Graziela Wolfart e Thamiris Magalhães

“Aqui, talvez, esteja o nó da questão social: apesar de quase oito anos do Programa Bolsa Família, temos a constatação pelo Censo de 2010 de uma enorme miséria, ou pessoas que vivem em extrema pobreza. A resposta é simples, mas o diagnóstico ou a solução é complexa, pois remete ao enfrentamento do tipo de desenvolvimento que estamos implementando, bem como da política econômica em curso: tudo converge para o aumento da riqueza do capital financeiro, tudo se dirige para a geração de lucros astronômicos como ‘jamais antes neste país’ conhecemos. Mas a questão social fica relegada aos mínimos sociais, à ajuda para evitar o colapso social, para que os pobres não se revoltem, permaneçam confiantes de que os governos estão atentos às suas demandas. Será que, de fato, estão?”. O questionamento é da professora Maria Sarah da Silva Telles, da PUC-Rio, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.


Maria Sarah da Silva Telles [foto acima] é socióloga, professora e pesquisadora, atualmente na direção do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio. Doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – IUPERJ, é mestre em Sociologia pela Université de Toulouse II [França], onde também obteve o diploma de Maitrîse em Sociologia, e graduada em Ciências Sociais pela PUC-Rio.


Confira a entrevista.


IHU On-Line – Qual a sua avaliação de programas sociais do governo como SUAS, Bolsa Família e Brasil sem Miséria?


Maria Sarah da Silva Telles – Sobre o SUAS, trata-se da regulamentação de uma exigência da Constituição de 1988, criando o Sistema Único de Assistência Social , que é de responsabilidade do Estado. Trata-se de um grande avanço, mais uma conquista da Constituição Federal de 1988, que tardiamente é regulamentada: o direito de todas e todos que necessitem de assistência, um direito de cidadania. Quanto ao Bolsa Família , programa do governo Lula que unificou e ampliou as políticas sociais para os miseráveis, trata-se de uma política focalizada que tem algumas restrições, se comparada com as políticas universalistas. Trata-se também de mínimos sociais – como a Assistência Social – para aqueles e aquelas que não possuem condições mínimas para a sobrevivência: renda de até 140 reais por pessoa/mês, o que dá menos de 5 (cinco) reais por dia. Quando a pessoa/criança/adolescente/idoso ultrapassa este limite, o benefício é suspenso. Estamos falando de valores muito baixos: quem, por exemplo, dispõe de 6 (seis) reais por dia, já não tem direito ao benefício. Quanto ao Brasil sem Miséria, resultado da constatação da permanência de uma enorme miséria no Brasil, pretende ampliar o Programa Bolsa Família e incluir outros investimentos que já existem ou existiram, como o acesso aos serviços (eletricidade, saneamento, água) e a inclusão produtiva, com a qualificação profissional e talvez a obrigatoriedade do trabalho voluntário.


IHU On-Line – Recentemente foi divulgado que o Brasil tem mais de 16 milhões de pessoas em extrema pobreza. Por que o país, apesar de se desenvolver, ainda continua registrando grande número de pessoas que vivem na miséria?


Maria Sarah da Silva Telles – Aqui, talvez, esteja o nó da questão social: apesar de quase oito anos do Programa Bolsa Família, temos a constatação pelo Censo de 2010 de uma enorme miséria, ou pessoas que vivem em extrema pobreza. A resposta é simples, mas o diagnóstico ou a solução é complexa, pois remete ao enfrentamento do tipo de desenvolvimento que estamos implementando, bem como da política econômica em curso: tudo converge para o aumento da riqueza do capital financeiro, tudo se dirige para a geração de lucros astronômicos, como “jamais antes neste país” conhecemos. Mas a questão social fica relegada aos mínimos sociais, à ajuda para evitar o colapso social, para que os pobres não se revoltem, permaneçam confiantes de que os governos estão atentos às suas demandas. Será que, de fato, estão? Se estivessem, o Brasil seria muito mais justo, com muito mais cidadania para todos e todas. O governo que chegou à presidência pelo Partido dos Trabalhadores tinha como meta transformar a sociedade, segundo o ideário de igualdades, e o que ficou como legado foi um país ainda profundamente desigual e, sobretudo, que aproveitou mal a onda de crescimento econômico que atingiu toda a América Latina: aqui poderíamos ter feito a diferença. O Censo de 2010 poderia ter revelado um país sem miseráveis, por exemplo. Se o número de milionários vem aumentando significativamente nestes últimos anos, por que não poderíamos ter diminuído drasticamente a miséria? Trata-se de uma escolha da sociedade e, principalmente, do governo.


IHU On-Line – O que significa para um país como o Brasil ter mais de 16 milhões de pessoas pobres?


Maria Sarah da Silva Telles – Creio que um país rico, com o oitavo maior PIB do mundo, não poderia conter este número avassalador de miseráveis: é o tamanho da população do Chile, conforme reconheceu a presidente Dilma. Revela uma sociedade profunda e extremamente desigual. Por mais que a desigualdade de renda venha diminuindo nos últimos dez a quinze anos, ela ainda é enorme, vergonhosamente alta, demonstrando as escolhas da sociedade e principalmente dos governos: esta ainda não é uma prioridade, nem para a sociedade e nem para os governos. 


Fonte: Revista do Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - Ano XI - n. 373 - 12/09/2011 - Internet: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4067&secao=373

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