«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Uma nova tempestade - O Brasil Envolvido

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS 

O BC tenta abrir buracos nas paredes para evitar que o câmbio leve a inflação para mais de 7% ao ano

Uma tempestade vinda de fora atingiu fortemente a economia brasileira nesta semana. Um pessimismo crescente com a crise política e econômica na Europa transformou-se em pânico com o aumento do risco de que a Itália também se junte ao grupo de países perto de uma moratória. Se isso realmente acontecer, uma catástrofe financeira -e não mais uma crise- vai atingir o mundo nos próximos meses. 


Segundo alguns analistas, os efeitos que se seguirão vão fazer o período 2009/2010 parecer tempos de normalidade e bonança econômica. Nesse novo cenário, o mundo emergente, que até então vinha sendo considerado pelos investidores internacionais um refúgio seguro para seus investimentos, seria afetado de forma importante e entraria também em recessão. Até meados de agosto, países como Brasil, México, Austrália e muitos outros estavam recebendo expressivos volumes de recursos para serem investidos em suas economias. Citei recentemente, como exemplo desse movimento, a compra de parcela importante do capital da cervejaria Schincariol por um grupo japonês do mesmo ramo.


Dizia que tinha escolhido esse particular investimento como exemplo por três razões: o valor do investimento (US$ 2 bilhões), o fato de a empresa ter enorme questão legal com o fisco brasileiro e, principalmente, por ser o investidor uma tradicional empresa japonesa, considerada pelos especialistas uma das mais conservadoras do mundo.


Por isso, quando a crise europeia virou tempestade do tipo 5, o mundo róseo dos emergentes desabou. Os investidores - como sempre acontece nesses momentos desde que os florentinos inventaram os bancos - tentaram sair correndo ao mesmo tempo e voltar para o refúgio do dólar, ainda a moeda mais confiável que existe.


Mas a porta de saída do mundo emergente é muito mais estreita do que a do mundo desenvolvido e esse movimento descontrolado - chamado no linguajar do mercado de desalavancagem - provocou subitamente uma das mais brutais correções de preço que já vi em meus 44 anos de mercado financeiro.


O pânico no Brasil foi muito maior do que na maioria dos emergentes, principalmente no mercado de câmbio, por culpa do governo Dilma. Poucos dias antes dessa mudança de ares, o ministro da Fazenda tinha criado um imposto na compra de dólares no mercado futuro da BM&FBovespa.


Segundo ele, havia um movimento especulativo que estava valorizando o real e prejudicando a indústria brasileira. Contra a maioria das opiniões de especialistas, ele decidiu levar sua proposta adiante. Ora, no momento de pânico que estamos vivendo, esse imposto funcionou como uma restrição importante nos negócios com o real, pois pune os que, sabendo que esse movimento de pânico em algum momento vai passar, poderiam estar comprando reais e amortecendo sua queda.


A imagem que me vem à mente para descrever o que está ocorrendo é a de um acidente recente em uma boate no México, quando centenas de pessoas morreram porque as saídas de emergência estavam fechadas. Nessa situação, todos os que estavam na boate tiveram de sair por uma única porta de entrada, e o resultado foi um desastre.


No caso do mercado de câmbio no Brasil, as portas de emergência, para situações como a que estamos vivendo, estavam fechadas na BM&FBovespa. A tranca colocada pelo governo - o IOF na compra de dólares futuros - funcionou a contento se o objetivo do governo era provocar uma correção vigorosa do real. Mas, como o câmbio é um preço fundamental na dinâmica da inflação brasileira - afeta 50% dos preços ao consumidor -, a correção brusca dos últimos dias ameaça inviabilizar a política de redução de juros do governo. 


Por isso, no momento em que escrevo esta coluna, equipes de bombeiros do BC estão tentando abrir buracos nas paredes para evitar que o câmbio leve a inflação brasileira para mais de 7% ao ano. Como o mercado da BM&FBovespa hoje está do lado dos especuladores por não haver vendedores, o BC está vendendo mais de US$ 5 bilhões em derivativos cambiais. Uma trapalhada de mais de metro... 


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 68, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC). 


Fonte: Folha de S. Paulo - Mercado - Sexta-feira, 23 de setembro de 2011 - Pg. B8 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2309201116.htm
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Deu tudo certo e errado

VINICIUS TORRES FREIRE

Real se desvaloriza, mundo rico cresce cada vez menos, desemprego é muito baixo no Brasil; mas isso é bom?


O GOVERNO queria desvalorizar o real. Por vias tortas e diretas, o preço do dólar sobe, como queriam os economistas de Dilma Rousseff, talvez não os do Banco Central.


O Banco Central decidiu pautar seu comportamento em parte pela estimativa de que as economias do mundo rico iriam para o vinagre. Os juros poderiam cair por aqui porque o Brasil também seria afetado pelo definhamento econômico mundial. Está dando tudo certo, então? De Mickey, como aprendiz de feiticeiro da Disney, à Sibila de Cumas da mitologia clássica, são um lugar comum as histórias de arrependimento diante de pedidos e desejos que se realizam (a Sibila ganhou de Apolo os mil anos de vida que queria, mas esqueceu de pedir a juventude ao deus).


O governo tanto buliu com o mercado de câmbio que este, no caldo da crise da dívida e das incompetências europeias, fez o dólar ferver.


O governo desejava um real mais desvalorizado, de modo a proteger as empresas das desvalorizações e da concorrência mundiais. Levou. Mas o governo esqueceu de anexar uns itens ao seu pedido. Primeiro, que o dólar mais alto não dê novo impulso à inflação. Segundo, que neste mundo em crise as empresas brasileiras tenham mercado - de que adianta preço bom se não há clientes? Terceiro, que a dívida das empresas em dólar desaparecesse em caso de desvalorização - o balanço delas vai piorar bem com o dólar mais caro, vamos ver agora. O governo pode ficar feliz com a possibilidade de que a dívida pública líquida caia. Como o país tem uns US$ 350 bilhões em reservas, a desvalorização do dólar eleva nossos haveres em reais. Isso dá um desconto na dívida total: a dívida líquida cai. Por um tempo, ao menos.


Mas o governo tem ainda outros desejos. O de fazer com que a economia cresça pelo menos 4% ao ano. Pode até conseguir. É bom? O desemprego está na mínima histórica. Daqui para o ano que vem, o governo promete injetar mais dinheiro na economia, prevendo alegremente, agora, até aumento de gastos com contratação de funcionários. Ainda mais dinheiro, note-se, que o já previsto com salário mínimo, programas sociais e reduções de tributos para empresas.


Os bancos estatais, de resto, dizem estar animados com a ideia de aumentar o volume de empréstimos. Digamos que o colapso europeu continue a se dar em câmara lenta, que a inépcia do governo da União Europeia não acabe por provocar a quebra de bancos. Pode ser que então até cresçamos uns 4%.


Que bicho vai dar?


Teremos uma economia com a indústria ainda bem mal das pernas, com ou sem dólar na faixa dita adequada. Além do mais, pergunte-se: quão adequada? Com a inflação insistentemente alta, o câmbio real não vai mudar tanto - os custos domésticos continuarão crescendo. Teremos uma economia inflacionada num mundo à beira da recessão. Teremos ainda deficit público na faixa de 2,5% do PIB, mesmo após anos de crescimento razoável da economia e crescimento extraordinário da receita tributária. Essa é uma boa dieta para colocar o país em forma de modo a enfrentar a maratona de crises e colapsos financeiros que virão no mundo rico? Com esse regime de engorda forçada, vamos conseguir derrubar os juros para níveis civilizados?

Fonte: Folha de S. Paulo - Mercado - Sexta-feira, 23 de setembro de 2011 - Pg. B4 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2309201106.htm

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