«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

IGREJA CATÓLICA: ''O que está acontecendo na Alemanha é emblemático da condição europeia''

Conversa com
Marcello Neri
Teólogo Italiano

Marco Burini
Jornal Il Foglio (Itália)
20.09.2011

"Na Alemanha, Bento XVI fará uma viagem em uma crise dupla: a das relações internas da Igreja Católica e a da própria Europa"

Marcello Neri [foto ao lado] é um dos teólogos italianos que mais conhece o mundo alemão. Brilhante aluno em Friburgo de Hansjürgen Verweyen (por sua vez, um dos primeiros doutorandos em Bonn do professor Ratzinger, do qual depois se distanciou), ensinou teologia fundamental em Viena e agora trabalha em Graz, enquanto continua escrevendo para a Il Regno, a revista dos dehonianos de Bolonha. Essas duas emergências, interna e externa, irão testar os nervos do papa alemão.


"O que está acontecendo na Alemanha é o caso emblemático de uma condição geral", observa Neri. "Paga-se o preço de uma máquina delatória que produziu um clima de suspeita e uma corrente de acusações e de contra-acusações. Os bispos locais têm medo, sentem-se limitados em suas ações. Assim, enfraqueceu-se a única Igreja europeia que, nos anos 1990, havia conseguido dizer alguma palavra incisiva sobre os grandes temas na ordem do dia: sustentabilidade dos processos econômicos, questão ecológica e assim por diante. Hoje, no entanto, ela não expressa um pensamento à altura. É o resultado de uma atmosfera envenenada. A preocupação de calibrar até a extenuação palavras de uso interno esvaziou a capacidade de elaborar um pensamento que posicione o cristianismo no coração dos problemas contemporâneos". Uma Igreja exausta, desgastada pelas dialéticas internas, sempre tencionada a olhar pelas costas. Um acerto de contas transversal, também.


"Os tradicionalistas colocaram o episcopado sob tutela. Os bispos não são mais livres para se mover nas suas dioceses, segundo o mandato apostólico. Até alguns congressos das academias católicas [que na Alemanha têm o importante papel de interface entre Igreja e sociedade] foram cancelados por medo de ataques ou de denúncias em Roma. Tudo verdade. Mas tenho a impressão de que há um acerto de contas no fronte conciliarista, onde cresce a intolerância para qualquer crítica que seja dirigida ao Vaticano II, que já se tornou um fetiche intangível. Os tons estão se exacerbando, existem rupturas e rancores entre aqueles que compartilham as mesmas perspectivas eclesiásticas e políticas".


No início de fevereiro, uma boa parte dos teólogos alemães publicou um documento, Igreja 2011: uma renovação indispensável, em que são listados os pontos doloridos: as estruturas de participação; as comunidades paroquiais; uma cultura do direito; a liberdade de consciência; a reconciliação; o culto. Segundo Neri, esse memorando "deve ser aproveitado também no seu valor pessoal: por trás dele, estão pessoas apaixonadas que entraram em confronto com a hierarquia. É o documento de uma paixão ferida".


Mas bispos nada conservadores também se dissociaram. Kasper se disse "profundamente desiludido". "Entre os signatários, estavam os melhores discípulos de Kasper – observa Neri –, o moralista Eberhard Schockenhoff e o historiador Peter Walter, que, depois da crítica do velho mestre, se pronunciaram para defender o memorando. Porém, estamos falando de dois católicos absolutamente de dentro da tradição, não batedores livres à la Küng. Isso demonstra como está em curso um mecanismo autodestrutivo em que nem sequer os laços pessoais se sustentam".


Em suma, entre bispos e teólogos não há um bom espírito.


"Depende da diocese", diz Neri. "Pelo que eu conheço, por parte dos teólogos, há disponibilidade para uma colaboração leal pelo bem da Igreja. Infelizmente, às vezes, eles não encontram apoio no trabalho nas universidades. "


Como se sabe, na Alemanha, a faculdade de teologia, católica e evangélica, manteve o seu lugar na cena pública. Só que há um problema de rotatividade: as nomeações são adiadas continuamente à espera dos "nada obsta" vaticanos, irritando muito as lideranças das universidades. Nessa conjuntura, nem o laicato se dá bem.


"Ele é cada vez mais velho e cansado", reconhece Neri. "Continua sendo uma enorme máquina organizativa, mas há muita desmotivação". Certamente, o Kirchensteuer, o imposto sobre a pertença religiosa, sentiu isso: muitas pessoas cancelaram sua presença nos registros paroquiais.


"Seria preciso entender se estão indo embora os fiéis efetivos ou os sociológicos, aqueles simplesmente inscritos nas listas", observa Neri, segundo o qual o escândalo dos padres pedófilos também não é a única razão da crise, mas sim "o detonador final depois de uma longa série de desilusões". Também políticas. "A CDU e a CSU mantêm uma matriz cristã. Uma saída política ainda é possível", defende Neri. "Mas os políticos da nova geração são extremamente pragmáticos, rígidos na moral e liberais no social".


Mas realmente há o risco de um cisma na Alemanha, como alguns estão dizendo?


"É a campanha midiática da direita eclesial que o propagandeia", rebate Neri. "Mas se olharmos com mais atenção, são justamente os tradicionalistas que sonham com o cisma, que, contudo, é algo sério. Na história da Igreja, nunca houve um cisma sobre questões disciplinares: as coisas eram ajustadas antes, com um pouco de bom senso. Em vez disso, a ruptura era sobre a doutrina. Veja-se o caso de Lutero. Hoje, parece o contrário: a divisão ocorre sobre as questões disciplinares, enquanto as doutrinais são abafadas o máximo possível. Veja-se o caso dos lefebvrianos. Mas assim se subverte a tradição e se toca no núcleo incandescente do cristianismo".


Tradução de Moisés Sbardelotto.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 22/09/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=47647

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