Nem deveria ter entrado
Fora,
Weintraub
Editorial
Jornal
«Folha de S. Paulo»
Jagunço do bolsonarismo e prócer do golpismo,
envergonha a democracia e a pasta
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ABRAHAM WEINTRAUB Participa de manifestação contra o Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF), domingo, 14 de junho de 2020 |
Não há mais a menor condição de Abraham
Weintraub continuar ministro de Estado do Brasil. Esse jagunço do
bolsonarismo, que parece ter a ambição de superar o chefe nos modos e nos
métodos, envergonha a democracia nacional e seguirá arruinando o futuro de
uma geração de jovens enquanto estiver no Ministério da Educação.
Se não for demitido pelo presidente
Jair Bolsonaro — que o faria não por convicção, mas por mero instinto de
sobrevivência —, Weintraub precisa ser processado por crime de
responsabilidade perante o Supremo Tribunal Federal.
Motivos abundam. Se alguém
entendia, erradamente, que as ameaças a juízes da corte constitucional na
reunião de 22 de abril não poderiam ser usadas como prova em tribunais, por se
tratar de encontro reservado e de assunto que não concernia à investigação
original, agora perdeu esse argumento.
Ao prestigiar ato com um punhado de
golpistas neste domingo (14 de junho), em Brasília, Abraham Weintraub
reiterou as agressões — inclusive com o mesmo insulto, “vagabundos” — dirigidas
a ministros do STF no encontro ministerial de abril.
A falta do uso da máscara,
obrigatória no Distrito Federal, rendeu ao capanga estrelado do
bolsonarismo uma multa de R$ 2.000. Mas a sua falta de compostura, muito
mais grave, foi a gota d’água para que ele seja expelido do cargo.
A lei dos crimes de
responsabilidade (1.079/1950) sujeita ministros de Estado à perda do cargo, com
até cinco anos de inabilitação para exercerem função pública, por
atentarem contra o livre exercício do Poder Judiciário, por se valerem de
ameaça para constranger juízes e por comportarem-se de modo incompatível com a
dignidade, a honra e o decoro.
Weintraub, que defende e reitera
que ministros do Supremo Tribunal Federal, insultados por ele, sejam
encarcerados, incide nessas hipóteses, além de em outras, penais comuns, pelas
quais autoridades do Ministério Público tampouco deveriam deixar de
processá-lo.
Em termos políticos, cada minuto em
que Weintraub permanece no cargo significa mais crise e desgaste para a já
amplamente rejeitada aventura de Jair Bolsonaro.
Do ponto de vista administrativo, dezenas
de milhões de jovens e crianças brasileiras, que dependem do ensino público,
continuarão entregues à sua incompetência e ao seu obscurantismo.
Sob o ângulo institucional, a
manutenção de um auxiliar que professa a destruição de um dos pilares da
democracia faz do presidente da República um cúmplice desses crimes de
responsabilidade.
Cabe a Bolsonaro decidir se adere
ao golpismo de Weintraub ou se o demite e recupera condições para tirar o
governo da rota do desastre.
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