Os jovens e a pandemia
Toda
uma geração em risco
Editorial
Jornal «O Estado de S. Paulo»
Além de expor velhas
fragilidades do sistema de ensino brasileiro,
a pandemia do novo
coronavírus agregou novos desafios
às crianças e
adolescentes
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Crianças estudando em casa, devido à suspensão das aulas presenciais |
Além de expor velhas fragilidades do sistema de ensino
brasileiro, a pandemia do novo coronavírus agregou novos desafios às crianças e
adolescentes. Segundo estimativa da Unicef, 35 milhões de jovens no País
estão fora das salas de aula em razão das restrições de circulação de
pessoas impostas para diminuir a taxa de expansão do novo coronavírus. Ainda
que seja uma empreitada difícil, dadas as limitações de diversas ordens, é uma
exigência de justiça com o País, muito especialmente com as novas gerações,
assegurar, nas atuais condições de isolamento social, um mínimo de continuidade
ao processo educativo desses jovens, em seus respectivos níveis de ensino.
Recente estudo do Fórum Econômico Mundial observa que
“a pandemia é uma oportunidade para nos relembrar das habilidades que os
estudantes precisam nesse mundo imprevisível, como
* decisões embasadas,
* solução criativa de problemas e, talvez, acima de tudo,
* adaptabilidade”.
Além disso, como especialistas têm ressaltado, ensino a
distância não é sinônimo de aula online, devendo incluir também vários
modos de estimular a aprendizagem remota e a construção colaborativa
do conhecimento.
Além da interrupção das aulas presenciais, a pandemia do novo
coronavírus expôs desigualdades sociais e econômicas que, em situação normal,
já afetavam as condições de ensino e, no contexto causado pela covid-19, são
ainda mais deletérias. Segundo dados da pesquisa TIC Kids Online 2019 do
Cetic.br/NIC.br [para acessar, clique aqui],
divulgados pela Unicef, 4,8 milhões de estudantes vivem em famílias que não
têm acesso à internet.
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Muitas crianças e adolescentes estão sendo prejudicados por não disporem de acesso à internet em suas residências |
Para esses jovens, que representam quase 14% do total dos
estudantes, a pandemia do novo coronavírus significou de forma imediata
a interrupção do aprendizado. Ou seja, a situação de vulnerabilidade
tornou-se ainda mais limitadora. Vale lembrar que o dado não se refere a um
detalhe ou circunstância acessória. Em pleno século 21, 4,8 milhões de
estudantes não têm acesso à internet em suas casas. A consequência é evidente:
a falta de acesso a essa infraestrutura básica acarreta profundas restrições e
dificuldades de aprendizado. Um país responsável com seu futuro não pode
fechar os olhos a tal disparidade.
“Tendo em vista as diferentes realidades brasileiras e as
limitações de acesso à internet de forma gratuita, as opções de atividades
para a continuidade das aprendizagens em casa não estão se dando de forma igual
para todos os estudantes. Há, portanto, o risco de o isolamento social
agravar as desigualdades de aprendizagem, impactando em especial meninas e
meninos em situação de vulnerabilidade - entre eles, moradores de
comunidades e periferias, indígenas e quilombolas e com deficiência”, disse
Florence Bauer, representante da Unicef no Brasil.
Especialmente preocupante é o fato de que a pandemia afeta
mais fortemente os jovens que já estavam em situação de fragilidade. Por
exemplo, “crianças e adolescentes que já estavam em atraso escolar ficam
ainda mais em risco de deixar a escola e não retornar quando as aulas
presenciais voltarem”, lembrou Florence Bauer.
Antes da pandemia, 1,7 milhão de crianças e adolescentes
estavam fora da escola, segundo os dados do Suplemento de Educação da Pnad
2018. “Temos certeza que esse número deve aumentar, porque as crianças
perdem o estímulo. E, com o desemprego e a queda na renda das famílias,
muitas correm o risco de ir para o trabalho infantil”, disse a
representante da Unicef.
A entidade alerta para o risco real de se perder uma
geração inteira, por força dos efeitos da pandemia na saúde, na educação e
na pobreza. “Embora crianças e adolescentes não sejam os mais afetados
diretamente pelo novo coronavírus, como em todas as emergências e crises
humanitárias, são eles os que mais sofrem de maneira indireta, correndo o risco
de serem as maiores vítimas dessa crise em médio e longo prazos”, lembrou
Florence Bauer. Tal quadro reforça a importância de um enfrentamento
responsável, diligente e coordenado da pandemia. As novas gerações merecem
esse cuidado.
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