Solenidade da Santíssima Trindade – Ano A – Homilia
Evangelho: João 3,16-18
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sobre a imagem, abaixo,
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à narração do Evangelho deste Domingo:
José María
Castillo
Teólogo
espanhol
AMANDO-NOS, ENCONTRAMOS A
TRINDADE
A doutrina oficial da Igreja
entende Deus de tal maneira que nela se afirma, como dogma fundamental de nossa
fé, que Deus é um. Porém, ao mesmo tempo, Deus uno está constituído por três
pessoas reais e substancialmente distintas.
Esta doutrina ficou definida,
permanentemente, no terceiro Concílio Ecumênico, o concílio de Calcedônia
(ano 381), celebrado em Constantinopla (a atual Istambul) e presidido pelo
imperador Teodósio I. A Igreja, pois, não teve consciência plena do mistério da
Trindade Divina até finais do século IV. O que parece indicar que se trata de
uma doutrina que não esteve plenamente clara durante vários séculos na Igreja.
Por outro lado, a linguagem
teológica, sobre esse assunto capital, não ficou clara totalmente. Porque,
como bem se fez notar, enquanto que, no Concílio de Niceia (ano 325), falava-se
de uma só substância (em grego: hipóstasis) em Deus, no concílio
seguinte, o de Constantinopla, fala-se de três hipóstasis: Pai, Filho,
Espírito Santo.
Discutiu-se muito se isso é uma
mera mudança de linguagem ou, melhor, é uma mudança de conteúdo.
De qualquer modo, é evidente que a Igreja necessitou de muito tempo (e muita
reflexão) para chegar a ter claro esse assunto. O que é compreensível. Porque,
no final das contas, ao aplicar a Deus os conceitos de “pessoa” e de “substância”,
na realidade o que se estava fazendo era projetar sobre “o divino” e “o
transcendente” ideias e realidades “humanas”, que a mente humana não pode saber
se verificam-se ou não em um âmbito ao qual não podemos chegar com nossa mente
humana.
Então, o que nos quer dizer este
mistério da Trindade?
O evangelho nos dá a pista para
pensarmos corretamente: Deus (o Pai) amou-nos tanto, que nos mandou seu Filho
(Jesus), para que, pela força do Espírito, possamos alcançar nossa
própria humanidade, sermos bons e honrados de verdade, perder o medo à bondade
e à ternura. Porque somente isso pode corrigir esse mundo tão louco.
Necessitamos de Deus. Necessitamos
desse Deus. Ao qual encontramos amando-nos sem medo. No carinho mútuo o
encontramos. Essa é a “Trindade econômica” (segundo Karl Rahner, teólogo jesuíta
alemão), na qual encontramos a “Trindade imanente”. Na experiência do
carinho humano, que frequentemente tem de ser heroico (nem está ao nosso
alcance), encontramos Deus.
![The Holy Trinity print on board by Father Rupnik 20x30 cm | online ...](https://assets.holyart.it/images/QU000554/en/500/A/SN025858/CLOSEUP02_HD/h-f0a23c42/the-holy-trinity-print-on-board-by-father-rupnik-20x30-cm.jpg)
José Antonio
Pagola
Biblista
e Teólogo espanhol
A INTIMIDADE DE DEUS
Se porventura, em uma impossibilidade, a Igreja dissesse que Deus não é
Trindade, mudaria algo da existência de muitos que creem? Provavelmente não.
Por isso, alguém fica surpreso diante desta confissão do padre Varillon:
«Penso que, se Deus não fosse Trindade, eu seria provavelmente ateu [...] De
qualquer modo, se Deus não é Trindade, eu não compreendo mais absolutamente
nada».
A imensa maioria dos cristãos não sabe
que,
ao adorar Deus como Trindade, estamos confessando que
Deus, em
sua intimidade mais profunda,
é só AMOR, ACOLHIDA, TERNURA.
Essa é, talvez, a conversão que
não poucos cristãos mais necessitam:
a passagem progressiva de um Deus
considerado como PODER a
um Deus adorado alegremente como AMOR.
Deus não é um ser «onipotente e eterno» qualquer. Um ser poderoso pode ser um déspota, um tirano
destruidor, um ditador arbitrário: uma ameaça à nossa pequena e frágil
liberdade. Poderíamos confiar em um Deus do qual somente soubéssemos que é
onipotente? É muito difícil abandonar-se a alguém infinitamente poderoso.
Parece mais fácil desconfiar, sermos cautelosos e salvaguardar a nossa
independência.
Porém, Deus é Trindade, é um mistério de AMOR.
E sua onipotência é a onipotência de quem somente é amor, ternura insondável
e infinita. É o amor de Deus que é onipotente! Deus não pode tudo.
Deus não pode senão aquilo que pode o amor
infinito.
E sempre que o esquecemos e saímos da
esfera do amor,
fabricamo-nos um Deus falso, uma espécie
de ídolo estranho
que não existe.
Quando, ainda, não descobrimos que Deus é somente
AMOR, facilmente nos relacionamos com Ele a partir de interesses ou do medo.
Um interesse que nos move a utilizar sua onipotência para nosso
proveito. Ou um medo que nos leva a buscar todo tipo de medos para nos
defendermos de seu poder ameaçador.
Porém, essa religião feita de interesses e de medos
está mais próxima à magia que da verdadeira fé cristã.
Somente quando alguém intui, a partir da fé, que Deus
é somente Amor e descobre fascinado que não pode ser outra coisa senão Amor
presente e palpitante no mais profundo de nossa vida, começa a crescer
livremente em seu coração a confiança em um Deus Trindade do qual, a única
coisa que sabemos por Jesus, é que não pode senão amar-nos.
Traduzido do espanhol por Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo.
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