Religião e a pandemia Covid-19
Ivone Gebara
Filósofa, teóloga e religiosa agostiniana
Haveria uma única
mensagem central que seria uma
espécie de antídoto
à desesperança ou até
mesmo ao desespero
no qual vivemos diante das atuais
múltiplas ameaças
à vida do planeta e à
nossa vida nele?
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IVONE GEBARA |
Nesses últimos meses, muitas pessoas e grupos têm me
perguntado qual a mensagem cristã especial frente a pandemia que assola todos
os cantos do mundo. E quando fazem essa pergunta três conotações de fundo
emocional e intelectual parecem emergir em busca de confirmação de expectativas:
1ª) A primeira é que eu me oriente na linha da esperança
presente na tradição cristã como se pudéssemos encontrar nela uma tábua de
salvação segura que ao menos aliviaria nossos temores atuais e nos daria
orientações imediatas de vida. Esperam que a religião entregue a segurança de
que se necessita na certeza de que Deus não abandona seu povo.
2ª) A segunda é a de confirmar que a destruição do mundo e de
nossas relações é obra de nossas mãos, de nossa ganância em querer acumular
bens dos quais apenas uma minoria usufrui. E, indiretamente, por nossa
escolha, estaríamos agindo contra a vontade de Deus que quer o bem
de toda a humanidade.
3ª) A terceira tem a ver com uma flagrante afirmação de que estamos
sendo castigados por Deus por conta de nossos pecados, nossos
comportamentos desviacionistas quanto à sexualidade, à destruição da natureza,
aos costumes e em consequência por falta de fé nos preceitos divinos. Portanto,
por nossa culpa individual e coletiva estamos na pandemia, embora haja
exceções de pessoas que tentam seguir a vontade divina. É interessante notar
que o “personagem” Deus entra nas três expectativas embora de formas
diferentes. E o “personagem” passa a ser a imagem e semelhança de nossas
posturas sociais e até políticas, de nossa imaginação e de nossas ficções
religiosas.
![Por quê há tantas religiões? – Biblia.com.br](https://biblia.com.br/wp-content/uploads/2019/09/WhatsApp-Image-2019-09-24-at-14.52.05.jpeg)
Nossos vários “deuses”
A pergunta que fica é a de saber quem
é esse “personagem” para cada grupo e para cada pessoa individualmente,
quem é esse alguém que deve apaziguar nossas angústias diante da morte, nos
julgar, perdoar, acolher e restaurar nossas vidas ameaçadas.
Confesso que algumas vezes tenho presenciado à frustração de
algumas pessoas quando meu parecer não coincide com as expectativas que têm em
relação à minha resposta. Sinto-as incomodadas, quase decepcionadas porque
minha reflexão não coincidiu com os argumentos delas e com suas expectativas.
Se fosse apenas a discussão de argumentos não me importaria, mas o fato é que as
emoções e reflexões presentes nas perguntas expressam reais sofrimentos em
busca de alguém que os/as compreenda e que possa confirmar que após este
turbilhão algo de bom possa advir dessa situação. Por isso muitas vezes me calo
e respondo: “não sabemos”!
Haveria uma única mensagem central que seria uma espécie de
antidoto à desesperança ou até mesmo ao desespero no qual vivemos diante das
atuais múltiplas ameaças à vida do planeta e à nossa vida nele? O que se pode
dizer quando esse vírus parece não só ter atingido corpos humanos
impedindo-os de respirar e asfixiando-os até a morte, mas atingiu nas suas
outras formas governos, polícias, religiões, igrejas que à maneira do vírus
embora com outras metodologias reproduzem pandemias mortais de ações e
sentidos, mesmo que afirmem estar na luta de combate ao vírus.
De fato, o vírus planetário, a Covid-19, não poupa ninguém,
visto que tem formas de expansão ainda não controláveis, o que por um lado nos
assegura a interdependência comum e por outro nos dá um atestado de ignorância
sobre nós e o mundo em que vivemos. Embora muitas vezes acreditemos no poder da
ciência de responder a quase todas as questões da humanidade, frustra-nos
constatar que o que se desconhece é muito mais do que o que se conhece.
Cada pessoa vai encontrar ou não em suas crenças sociais,
políticas e religiosas alguma resposta ou falta de resposta às questões que o
momento atual tem levantado. Entretanto, o que se pode observar hoje é uma
experiência comum de impotência e de desconhecimento de nossa própria vida.
Mesmo os mais dogmáticos e convictos de suas posições têm se enfrentado ao
vírus da dúvida ou a alguma suspeita em relação às suas certezas. De certa
forma junto com a Covid-19 espalhou-se também a dúvida sobre a vida humana e
os rumos da história. É como se essa pandemia nos convocasse a sermos
diferentes, como se ela manifestasse uma suspeita coletiva de que todos estamos
juntos à beira de um abismo e no “tribunal da vida” a perguntar-nos como nos
redimiremos de tantas mortes, de tantos desarranjos em tantas vidas. Por isso
muitas pessoas se perguntam se sobreviverão e, caso positivo, como serão quando
a pandemia acabar. Como nos organizaremos? Em que e em quem vamos acreditar?
Como vamos costurar nossas crenças passadas aos desafios do mundo presente?
Sem dúvida, talvez até a maioria das pessoas aspire voltar ao
“tudo como antes”, embora o contágio da dúvida chegue a tocar mesmo que
minimamente na vida de todos. Não temos, ainda, nenhuma resposta às nossas
perguntas fora as pequenas aspirações afetivas de rever amigos e
familiares, celebrar aniversários, ir aos shoppings ou outras atividades e
comemorações coletivas.
Como as respostas da ciência ainda estão em fase de
experimentação muitas pessoas acreditam encontrar uma resposta nas religiões.
Elas parecem dar algumas seguranças pois parecem lidar com poderes para além
das ciências, poderes invisíveis, mais invisíveis do que o Covid-19. Por isso multiplicam-se
os cultos pela internet, as orações implorando a Deus a salvação do
mundo, as bençãos em caminhões abertos ou helicópteros reavivando
velhas devoções consideradas “poderosas”.
![Protesto antirracista e contra Bolsonaro em SP termina com bombas ...](https://ponte.org/wp-content/uploads/2020/06/WhatsApp-Image-2020-06-08-at-00.43.06.jpeg)
Perguntas e mais perguntas
* Mas o que significa a salvação do mundo?
* Será apenas da Covid-19 que estamos querendo salvar-nos?
* Que dizer dos excessos de racismo que estamos verificando a cada dia?
* Que dizer das agressões às mulheres, “nas prisões
domiciliares”?
* Que dizer do extermínio das pessoas que vivem nas
periferias, de sua exposição às loucuras dos exterminadores, dos puristas,
dos justiceiros que imaginam a possibilidade de fazer justiça com as próprias
mãos armadas ou não?
* Que dizer dos transgressores, dos que não creem na
pandemia, que a afrontam como se quisessem medir forças com ela?
* Que respostas dão as religiões na sua diversidade crescente?
Na realidade não penso que as religiões na sua diversidade
têm alguma resposta eficaz aos problemas atuais da humanidade apesar de sua
importância para muitos. São formas institucionais de consolo e intentos de “proteção
metafísica” que se desenvolvem no interior de nossas culturas misturadas a
emoções e problemas cotidianos. Embora não negue seu valor para muitas pessoas,
na realidade elas [as religiões] entram tanto quanto outras ações de “autoajuda”
ou de benemerência na linha do auxílio que damos uns aos outros nos momentos
críticos da vida. Este auxílio é no fundo para além das religiões e é a ele
que gostaria de me apegar como uma precária “boia” quando parecemos estar nos
afundando num diluvio coletivo. É como se nas nossas entranhas humanas, a
desses humanos que somos agora, houvesse boias não apenas individuais, mas
boias coletivas. A pandemia acorda as entranhas coletivas e as religiões são
apenas um instrumento entre outros para fazer valer a força coletiva de
sustentação dessa boia.
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Policiais norte-americanos ajoelham-se em gesto de solidariedade aos manifestantes antirracismo. Los Angeles, 02 de junho de 2020 |
O que está nascendo e
precisa surgir entre nós
A dor comum parece acordar a solidariedade
comum, sobretudo porque ninguém está ao abrigo das dores pandêmicas.
Por mais que alguns sejam mais protegidos que outros a situação atual revela a
vulnerabilidade de todos. E talvez nessa situação algo para além de uma
religião determinada precisaria ser reforçado e desenvolvido. Seria como a constituição
de uma irmandade para além dos credos
religiosos, um pacto, uma aliança entre nós para além de
nossos deuses e deusas, para além dos locais de culto de uns e outros, para
além dos velhos credos. Nossos deuses e deusas correm o risco de serem
sectários, de exigirem leis e sacrifícios segundo suas peculiaridades e
especialidades. Nossos deuses têm o vírus da competição entre eles na medida
em que se tornaram a nossa imagem e semelhança. Precisamos por um tempo
dar-lhes folga, talvez deixá-los em sua “quarentena” até que a nossa própria
quarentena possa passar e possamos ver claro o caminho pessoal/coletivo da
humanidade.
Nossos deuses já não conseguem dar-nos as soluções porque
seus desejos sobre nós são múltiplos e contraditórios e hoje até eles brigam
entre si tornando nossas brigas aparentes conflitos reais entre deuses. Da
mesma forma os ministros de nossos deuses são movidos por interesses
privados e usam dos deuses e da fragilidade dos crentes como armas para
manterem seu poder e privilégio.
Estaria eu exagerando? Estaria eu fugindo da acolhida e da
ternura de nossos deuses ou de nossos santos? Estaria negando a importância das
tradições religiosas? Estaria duvidando do amor divino e do sacrifício de
Cristo por nós? Ouso dizer que sim e que não, visto que estou convencida que somos
nós que entregamos poderes aos nossos deuses, somos nós que lhes construímos
altares, genuflexórios nos quais nos ajoelhamos acreditando adorá-los e obedecê-los
incondicionalmente. Somos nós que lhes acendemos velas, ofertamos incenso e
sacrificamos nossos corpos. Somos nós que os vestimos e nos vestimos para eles
como se nossas vestes sacerdotais ou outras indicassem nossa pertença a essa ou
aquela divindade que não necessariamente se alia às vontades de outras do mesmo
Olimpo ou de outros. A diversidade de deuses/as e Olimpos é bem presente e
conhecida. Acompanha a diversidade dos grupos humanos, seus conflitos e suas
invenções.
Nessa pandemia nossas divindades são também vítimas de nós
mesmos/as. Sem nos
dar-nos conta as fazemos objeto de nossas vontades muitas vezes
contraditórias. Em nome delas atacamos, defendemos, matamos e morremos. Em
nome delas nos enriquecemos e nos empobrecemos.
Será que em tempos de pandemia todos temos os mesmos pedidos
às nossas divindades, todos/as agimos em vista de um bem maior? Cada um vai sem dúvida puxar a
sardinha para sua brasa. Entretanto, talvez haja um ponto em comum a ser
reconhecido. Este é o de livrar-nos da pandemia ou proteger-nos e proteger
nossos próximos dela. Porém, já o fato de estarmos numa pandemia já estamos
numa ameaça e numa efetivação real de mortes. Então se desesperadamente pedimos
para viver, para sermos liberados dessa doença nossos pedidos vem acompanhados
de muitos outros que têm a ver com um durante e um pós pandemia. E esses
pedidos sem dúvida vão favorecer primeiro os mais próximos de nós. Isto é sem
dúvida uma característica de nossa animalidade. A galinha protege antes seus
pintinhos do que os gatinhos da gata da casa. A leoa seus leõezinhos e assim
por diante. Num incêndio de uma escola salvo primeiro o meu filho e depois o da
vizinha.
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PAPA FRANCISCO caminha sozinho pela imensa Praça São Pedro (Vaticano) no dia da bênção Urbi et Orbi especial no dia 27 de março de 2020 |
Questionando a nossa “religiosidade”
E se por um momento aceitássemos o fato de que ter religião
deveria ser algo diferente do que fomos habituados/as a ter? Se por um momento colocássemos entre
parêntesis as vontades divinas, as leis promulgadas por Deus, as elaborações
teológicas de seus ministros, os prêmios e castigos prometidos. Se por um
instante nos sentíssemos nus uns diante dos outros: sem deuses, sem santos e
sem armas de guerra. Se não houvesse mais Templos e nem pregadores. Se não
houvesse mais escolas de teologias e de ministérios. Se não houvesse mais
dízimos e contas bancárias para benemerência. O que seria de nossa história
religiosa?
Uma das funções das religiões desde os tempos mais antigos
foi chamar a nossa atenção para o fechamento à nossa animalidade individual, à
nossa coletividade mais próxima, à família animal à qual pertencemos. Por isso,
ir ao encontro dos caídos nas estradas da vida, porque sempre haverá
caídos/as, “sempre” criaremos caídos, faz parte de todas as religiões e
sabedorias. E, nessa mesma perspectiva, a luta contra o acúmulo de bens,
contra a avareza, a gula em todos os seus sentidos, enfim contra os excessos
que nos tornam escravos de nossas vis paixões foi uma constante.
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Refugiados desejosos de acolhida, respeito e integração |
Como atingir nosso “objetivo
comum”
Assim, do momento em que somos capazes de romper com essa
individualidade animal exacerbada estamos também nos distanciando da
espontaneidade animal ególatra para nos tornarmos um “humus transformado”,
humus espécie capaz de aproximar-se de seus semelhantes diferentes. Tal
conquista foi e é fruto de milhares de anos de socialização e ainda não
atingimos o lugar que intuímos dever chegar, ou seja, o lugar de sermos capazes
de amar nosso próximo como a nós mesmos.
Para provarmos algo desse objetivo comum:
* há que exercitar-se,
* há que lutar contra as tendências espontâneas
individualistas egoístas que nos habitam,
* há que ceder um lugar aos enjeitados à nossa mesa,
* há que saber dividir o pão e os peixes que escondemos em
nossas bolsas, o vinho que deixamos envelhecer nos nossos odres,
* há que descer dos sicômoros e devolver ao povo o que
roubamos para benefício nosso.
Não basta apenas um único Jesus
de Nazaré, um só Francisco de Assis, um
só Maomé,
um só Moisés para
fazer isso. Não basta uma só Sara e uma Agar,
uma só Maria ou Madalena, uma Khadija
ou uma Mãe Menininha que queiramos imitar.
É preciso que muitas/os entrem nessa lógica a
partir de nosso tempo e contexto
até que ela seja uma prática, até que ela seja “etos”,
comportamento ético das maiorias, sabendo bem de sua fragilidade real.
Para provarmos de algo dessa finalidade comum temos que ser
capazes de aprender cada dia a controlar as forças de destruição que nos
habitam, forças sem dúvida mais potentes que as carícias amorosas ou o
cuidado que temos uns com os outros. A força do eu fechado em si mesmo,
se tornando seu próprio império, querendo sempre mais expandir-se para si mesmo
é destruidora não só de seu pequeno mundo, mas de muitos outros pequenos mundos
que giram em torno de si mesmo. E, essa destruição tem força de expansão e
capacidade de transformar o bom fermento em algo “pedrado”, incapaz de levedar
a massa e torna-la pão saboroso para todos. E as pedras então são atiradas
contra mulheres, adolescentes, crianças, indígenas, negros, mendigos,
homossexuais. E o dinheiro é guardado em bancos de pedra que de repente um raio
fulminante e fumegante poderá ser capaz de queimar e reduzir a cinzas.
![Esvazie o seu coração em oração - Universal.org – Portal Oficial ...](https://s3.amazonaws.com/portalwp/wp-content/uploads/20190821195041/oraC3A7C3A3o-orar-iStock-1128620224.jpg)
De que serve a religião?
* De que serve a religião se ela afasta, se ela isola, se ela
julga e mata, se ela acumula, se ela se torna pedra?
* De que servem os deuses do céu quando já não têm nenhum
poder sobre os deuses humanos da terra?
* De que serve a religião quando deixa de ser ligação,
conexão, interdependência vital, poesia de vida?
É melhor tentar começar a religar de novo, a comer apenas o pão de cada dia, a
perdoar dívidas, a andar a pé, a não cair nas tentações da egolatria que nos
rodeia e nos habita.
Religião em tempos de Covid-19 é sentir e saber que o
mesmo vírus nos habita de muitas formas, a mesma mortalidade nos espreita, a mesma fome e
a mesma sede habitam nossos corpos, a mesma
falta de ar nos desfalece e que é preciso abrir
as mãos para que os corações se abram e deixem o Covid desaparecer.
Talvez assim ele tenha cumprido sua missão, a missão de
nos lembrar o que havíamos esquecido, a de “ser irmanados/as” pela mesma
vida e pela mesma morte. Não se foge a essa condição esse é o segredo
escondido em nós, gravado em todas as células de nosso ser, tatuagem perene e
ao mesmo tempo provisória. É essa condição que nos identifica, que nos torna o
que de fato somos: um caniço frágil que hoje respira e se move, mas que amanhã
será estrume na renovação da terra/vida. Por isso os antigos gostavam de
meditar sobre a morte, a minha e a dos outros para indicar a necessidade de
agir sabendo que o mundo não me pertence e que essa breve ou longa vida
entregará à terra seu último respiro para que a vida se renove e siga adiante.
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O senhor Ed Hale e a senhora Floreen Hale morrem juntos em um hospital de Nova York, nos Estados Unidos - Ele faleceu, apenas, 36 horas depois dela! Dia 22 de fevereiro de 2014 |
O que é pensar na morte?
Morte? Que esperança pode vir da morte quando o que queremos
é fugir dela? Na realidade, precisamos estar integramente e integralmente vivos
para pensar sobre a morte. Não se pensa na morte quando se está morrendo cada
dia de fome, sede ou de falta de habitação. Nessa situação já se vive o
prenúncio e o anuncio cotidiano da morte. Porém, em vida há que pensar a morte
na economia, na política, na ciência, na religião também como ameaças. E isto
porque pensar na morte, é pensar na relatividade absoluta dos seres humanos
e por isso mesmo na necessidade de respeito absoluto a todas as vidas hoje.
Todas devem provar do prazer de estar vivo, de nutrir-se de vida, de
reproduzir-se, de atrair-se e amar-se nesse instante evolutivo único, nesse
momento passageiro em que nos encontramos e fazemos história juntos.
Pensar
na morte é o fiel da balança da história, o prumo de nossas construções, os óculos
que ajudam a enxergar a medida das coisas, das situações e das pessoas. Não
é louvor barato à morte, não é necrofilia, mas é sua acolhida nos recônditos de
nossas buscas, de nossos processos sociais, políticos e religiosos para exaltar
ou valorizar a frágil vida de cada dia. Talvez ela possa fazer-nos religar
nossos corpos a outros corpos, religar como se fôssemos um só corpo, como se
cada corpo fosse o corpo e o ar comum na casa comum, na autonomia e na
interdependência mútuas.
De fato, escrever isso pode parecer muita
poesia inútil,
mas estou segura de que é ela que em
parte nos salvará,
que nos devolverá algo de ternura e
apreciação
da doce brisa em uma tarde de verão.
É ela que ensinará aos soberbos que somos a humildade,
aos gananciosos a importância do limite, aos orgulhosos a
necessidade da interdependência. Por isso no século XII alguém em Assis chamou “a
morte” de irmã, talvez irmã gêmea da vida, irmãs absolutamente inseparáveis. E
essa irmandade não pode ser esquecida em todos os momentos de nossas vidas,
desde o amanhecer ao entardecer, como uma sinfonia que começa e tem que acabar,
como um momento único e original que precisa ser vivido e amado.
Edição
e correção deste artigo: Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
Observação
ortográfica: usa-se “o” Covid-19,
quando se refere ao vírus Sars-CoV-2 (masculino); e “a”
Covid-19, quando se faz referência à doença Coronavirus disease 2019 –
em inglês: doença de coronavírus 2019 (feminino), conforme
exposto aqui.
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