Só Deus na causa!
Um
país fora de foco
Bernardo
Mello Franco
“Estamos nos aproximando do pico da pandemia.
Definitivamente, não é o momento para a
reabertura do comércio”
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Covas sendo abertas em cemitério da capital paulista: quantas mais serão necessárias??? |
Nos últimos
dias, a Polícia Federal apertou as milícias virtuais do bolsonarismo, o
presidente elevou o tom das ameaças ao Supremo e a crise institucional se
aproximou perigosamente de um ponto de ruptura. Nem parece, mas tudo isso
aconteceu num país devastado pela pandemia do coronavírus — com mais de mil
mortes diárias e sem ministro da Saúde.
A tensão
política desviou o foco do que realmente deveria importar: o combate ao
coronavírus. No sábado, o Brasil se tornou o quarto país com mais mortes
pela Covid-19. Entre hoje e amanhã, deve ultrapassar a marca de 30 mil vidas
perdidas.
Você
duvida, então, assista a este vídeo,
clicando
sobre a imagem abaixo:
Apesar
desses números, os governos de Rio e São Paulo acabam de divulgar planos de
reabertura da economia. Os anúncios preocuparam médicos e cientistas que
acompanham as curvas de contágio.
“Estamos
nos aproximando do pico da pandemia. Definitivamente, não é o momento para a
reabertura do comércio”, afirma o epidemiologista Roberto
Medronho, da UFRJ. “A quarentena é um remédio amargo, mas ainda é o mais
adequado para o quadro que estamos vivendo”, prossegue.
A opinião é
endossada pelo cientista Miguel Nicolelis,
professor de neurobiologia da Universidade Duke. “A população precisa
entender que a situação é muito grave. Estamos enfrentando uma guerra
biológica. A prioridade central deve ser reduzir o número de mortos”,
defende.
O
sanitarista Daniel Dourado, da USP, também
vê riscos numa retomada precoce. “Não se pode reabrir a economia sem a
segurança de que a transmissão foi controlada. Sem isso, o número de casos
vai explodir e os governos terão que fechar tudo de novo”, avisa.
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MIGUEL NICOLELIS Neurobiólogo e cientista de renome internacional |
Na Europa,
os países que relaxaram o distanciamento social já haviam registrado quedas
expressivas na taxa de contágio. Para os cientistas, o índice de transmissão
deve cair abaixo de 1, o que significa que 10 pessoas com o vírus podem
infectar outras 10. No Rio, a taxa ainda está em 2,3.
“Entendo a
angústia de prefeitos e governadores, que estão com a corda no pescoço. Mas o
risco de forçar a abertura antes da hora é provocar um repique da doença”,
alerta o professor Medronho.
Até a semana
passada, Rio e São Paulo resistiam às pressões do Planalto, que sempre sabotou
as medidas de isolamento. Agora os governadores indicam que começaram a
capitular. Além de enfrentar a fúria bolsonarista, eles sofrem forte assédio
de empresários, que reclamam da paralisia econômica, e de prefeitos,
preocupados com as eleições deste ano. [O povo
que se dane, não é mesmo?!]
“Qualquer país civilizado teria colocado as
diferenças políticas de lado para salvar vidas.
No Brasil, o governo federal não montou um
comitê científico,
não ajuda os estados e agora não tem mais
ministro da Saúde.
A coordenação evaporou”, critica Nicolelis.
O
neurocientista assessora os governos do Nordeste, mas ressalta que o poder dos
técnicos é limitado. “O que podemos fazer é oferecer a melhor ciência. A
decisão do que fazer está nas mãos dos gestores”. Nas últimas semanas, ele tem
convivido com a pandemia até durante o sono. “Sonho com curvas e números da
doença. Parece que estamos vivendo um pesadelo”, resume.
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