«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

"BERGOGLIO ERA O PESADELO DA CÚRIA"

Entrevista com Andreas Englisch *

Ocimara Balmant

Para especialista, papa já reduziu poder da cúpula da Igreja e impôs seu estilo: 
"Acontece uma revolução latina no Vaticano"
"Enquanto os votos da quinta rodada são apurados, a esperança dos cardeais da Cúria afunda a olhos vistos. 'Bergoglio, Bergoglio, Bergoglio', ressoa novamente pela Capela Sistina. Tarcisio Bertone simplesmente não pode entender." Quem revela o clima da votação que elegeu Francisco é o jornalista Andreas Englisch.

Vaticanista há 25 anos, ele escreveu sobre João Paulo II, Bento XVI e, agora, traz Francisco - o papa dos humildes (ed. Universo dos Livros, R$ 39,90). Na obra, bastidores do conclave, como o desespero da Cúria com a eleição do papa argentino, e as mudanças já percebidas nos corredores do Vaticano.

Os cardeais escolheram um "papa forte". O interesse da Cúria, liderada pelo cardeal Tarcisio Bertone, seria por outro papa apolítico, tal qual Bento XVI?

Andreas Englisch: Exatamente. João Paulo II tomou o poder da Cúria. Bento XVI devolveu. Por seu perfil, Bergoglio era o pesadelo da Cúria durante a eleição. Ele é completamente anticúria.

Francisco abriu mão do palácio para viver em uma suíte da Casa Santa Marta. Mais do que evitar o luxo, o senhor diz que foi uma estratégia para saber tudo o que ocorre no Vaticano. É um sinal de que a Cúria perdeu o poder?

Andreas Englisch: Sim. Tenho certeza de que nunca nenhum outro papa conseguiu reduzir o poder da Cúria tão drasticamente como Francisco. Ele quebrou a estrutura de isolamento. A Cúria sabe que pode controlar qualquer papa, desde que ele esteja isolado do restante da Igreja.

Havia uma expectativa de que Francisco mudasse de imediato a estrutura da Cúria. Ele já não deveria ter feito isso, a começar pela demissão de Bertone? 

Andreas Englisch: Ele precisa demitir Bertone, mas Bergoglio é muito inteligente. Sabe que ninguém espera mudanças drásticas no Vaticano. Por isso, criou uma comissão com oito cardeais. Se decide com o aval e a participação da comissão, terá respaldo para outras decisões difíceis.

Na mídia, durante o conclave, Bergoglio não aparecia na lista de favoritos. Para os cardeais sua vitória também foi surpresa?

Andreas Englisch: Para entender isso, é preciso considerar que Bergoglio foi eleito porque os cardeais estavam completamente aborrecidos com o péssimo trabalho da Cúria, o que inclui o escândalo do banco do Vaticano [o Ior].

O senhor diz que Bento XVI era um admirador de Bergoglio. Será que ele imaginava que teria o argentino como sucessor?

Andreas Englisch: Tenho certeza de que não. Bento XVI não sabia o quão mal avaliados estavam seu governo e sua Cúria. Ele nunca imaginou que a ira dos cardeais estivesse tão grande a ponto de escolherem pela revolução. Bergoglio era o pesadelo da Cúria. Nenhum outro cardeal foi tão maltratado como ele durante seu tempo em Buenos Aires. Uma das críticas era porque enviava os melhores padres para os pobres e não para as paróquias ricas da cidade.

Como você avalia a primeira encíclica de Francisco? Teólogos dizem que o texto foi totalmente escrito por Bento XVI.

Andreas Englisch: Francisco foi instado a publicar a encíclica de Ratzinger. Não teve outra opção, senão permitir que sua primeira encíclica, a primeira declaração do que ele pensa sobre a fé, fosse escrita por Bento XVI. Ele foi gentil e a publicou com o seu nome, mas a fé não é o ponto principal para Francisco. Ele não acredita que se encontra Deus lendo livros sobre a fé. Para ele, se encontra Cristo ajudando os pobres, os doentes e as pessoas desesperadas.

Como você vê as mudanças no banco do Vaticano, como a prisão de um padre e a demissão de um diretor?

Andreas Englisch: Por décadas, bispos e padres, mesmo quando culpados, eram protegidos pelo Vaticano. Exemplo: o cardeal americano Bernard Law, de Boston, ganhou um passaporte do Vaticano para escapar da Justiça dos EUA (ele é acusado de encobrir casos de pedofilia). Mas Francisco disse ao governo italiano que isso acabou. Agora, o Vaticano vai ajudar a encontrar os sacerdotes culpados.
Andreas Englisch

Francisco prega uma "Igreja pobre para os pobres". O que ele já fez em direção a isso? 

Andreas Englisch: Fez a coisa certa: disse à Igreja que o tempo de não fazer nada, apenas de estudar e rezar, acabou. Para ele, é desnecessário dizer a alguém no que acreditar e como se comportar, se essa pessoa está desesperadamente com fome. Primeiro a ajude, depois fale sobre Deus.

A Cúria repreendeu o papa por lembrar o "suntuoso Vaticano que tudo começou com o pobre Jesus de Nazaré", como o senhor diz no livro?

Andreas Englisch: A Cúria não tem qualquer influência sobre ele. Isso ficou claro quando se recusou a ir a um concerto de gala no Vaticano. Toda a Cúria foi, mas ele declarou que não gosta de compromissos da sociedade elegante. Acontece agora uma revolução latino-americana no Vaticano, em que as famílias europeias aristocráticas não são melhores do que as outras.

* Andreas Englisch é jornalista alemão, mudou-se para Roma em 1987. É autor dos livros João Paulo II, o segredo de Karol Wojtyla (2002), Habemus papam (2005), O papa dos milagres (2011) e O homem que não queria ser papa (2013).

Fonte: O Estado de S. Paulo - Metrópole - Domingo, 14 de julho de 2013 - Pg. A23 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,bergoglio-era-o-pesadelo-da-curia-,1053255,0.htm

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