«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

SAÚDE URGENTE: Especialistas em gente

Cláudia Collucci *
Cláudia Colluci - jornalista

No pacote de medidas anunciadas anteontem para a saúde, a presidente Dilma Rousseff deixou de fora uma questão crucial: o que pretende fazer para melhorar a qualidade dos alunos em medicina e dos próprios médicos que atuam hoje no país?

Há sete anos o "provão" criado pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) mostra que mais de 50% dos formandos em medicina não têm domínio de áreas básicas para exercer a profissão.

O fraco desempenho dos alunos é explicado por vários fatores, entre eles: 
  • a estrutura deficiente das faculdades
  • a péssima avaliação interna dos alunos
  • a falta de punição às escolas ruins.
Por meio do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), o governo federal sabe quais são as faculdades de baixa qualidade, mas pouco ou nada faz para impedir que elas continuem despejando no mercado maus profissionais.

Médicos malformados representam um risco ao paciente e aos sistemas de saúde. Pedem exames demais e enxergam o doente de menos.

O governo estufa o peito para dizer que seguirá o modelo inglês na formação dos médicos, no que diz respeito aos dois anos de treinamento no sistema público de saúde.

Só se esquece de frisar que o cidadão inglês não fica nas mãos de um recém-formado sem supervisão de um tutor. O "estágio" é com o intuito de aprendizado, não é para "tapar buraco" na rede básica de saúde ou nos serviços de emergência.

O Reino Unido também adota uma avaliação externa periódica dos futuros médicos e toma para si a responsabilidade de aferir a competência deles antes que cheguem ao mercado.

É o mínimo que se espera do Brasil, que diz querer investir na formação de "especialistas em gente", que nada mais são do que "médicos das antigas" (como diziam nossas avós), aqueles que, com exame físico apurado e um bom dedo de prosa, conseguiam acertar o diagnóstico.

* Cláudia Collucci é repórter especial da Folha de S. Paulo, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações"

Fonte: Folha de S. Paulo - Colunistas - 10/07/2013 - 03h30 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/claudiacollucci/2013/07/1308775-especialistas-em-gente.shtml
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"PROPOSTA TAPA O SOL COM A PENEIRA"


Jamil Chade

Para médicos portugueses, ainda falta estrutura

A oferta feita pelo governo brasileiro aos médicos portugueses não atrairá uma quantidade significativa de profissionais e representa um esforço de Brasília para "tapar o sol com a peneira". O alerta é do presidente da Ordem dos Médicos de Portugal, José Manuel Silva.

Ontem, a entidade teve reuniões em Lisboa com representantes do governo brasileiro, que foram à capital portuguesa apresentar o projeto aos médicos locais. Silva afirma que seus técnicos não saíram entusiasmados com o que foi oferecido pelo País no encontro.

"Vamos recomendar a cada médico português que queira ir ao Brasil nessas condições que primeiro faça uma visita aos locais que o governo brasileiro quer levá-los. Só depois de ver como é o hospital e como irão trabalhar é que um contrato deve ser assinado", disse Silva ao Estado por telefone.

A proposta do governo é que médicos estrangeiros possam trabalhar no Brasil sem passar pela revalidação do diploma. Mas, antes, precisam se comprometer que vão apenas para as áreas designadas pelo governo e não poderão atuar em áreas ricas de grandes centros urbanos, como São Paulo ou Rio. A estratégia teria como meta garantir que regiões mais afastadas também sejam atendidas por médicos.

Para Silva, porém, a ausência de médicos em uma região não será resolvida apenas colocando um estrangeiro ali para trabalhar. "Nessas condições, duvidamos que o Brasil consiga atrair um número importante de profissionais de Portugal, O que queremos saber é se há estrutura nesses locais para trabalhar e, aparentemente, não há."

"Dificilmente um profissional que estudou Medicina com padrões europeus de infraestrutura terá condições de se adaptar a um local onde faltam recursos", ressaltou o médico.

"Dignidade"
Logo depois que a proposta começou a ser aventada no Brasil, em maio, a Ordem dos Médicos de Portugal já havia levantado dúvidas sobre o plano. E o próprio Silva chegou a dizer que os médicos não seriam tratados com "dignidade". Mas resolveu esperar até que o governo brasileiro apresentasse a estratégia, para se pronunciar oficialmente ontem.

"O que percebemos é que, se essas são as condições, os médicos portugueses que queiram sair do país buscarão ofertas na Europa e em outros países, e não em um lugar sem estrutura", disse Silva. "O Brasil pode ser uma alternativa à crise que se vive em Portugal, com salários bons. Mas não na situação que o Brasil está oferecendo."

Para Silva, os esforços do governo em lidar com a saúde só terão resultados se maiores investimentos forem feitos. "Nesse caso sim vale trazer profissionais de fora para preencher posições. Mas se não há ninguém no Brasil que quer trabalhar nesses locais, por algo será. O que parece que acontece é que se quer tapar o sol com a peneira."

Fonte: O Estado de S. Paulo - Metrópole - Quarta-feira, 10 de julho de 2013 - Pg. A12 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,proposta-tapa-o-sol-com-a-peneira,1051866,0.htm
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Uma outra visão...

DE GALINHAS E MEDICINA

JANIO DE FREITAS
Janio de Freitas - jornalista
O ovo ou a galinha.

O ovo já é colega íntimo dos médicos em serviços à vida, no seu papel de receptáculo de contaminações nele injetadas para a produção de vacinas. A galinha tem séculos de contribuição aos pacientes, sob a forma daquela santa canja que reanima muito doente, para maior prestígio da medicina. É natural que se juntem para mais um esforço de contribuição ao mais importante dos saberes humanos.

Faz sentido a ponderação dos contrários à contratação de médicos estrangeiros para o interior, por falta, lá, até dos mais simples recursos para atendimento (a ponderação das associações médicas exala odores de motivação real muito diferente). É diante desse argumento que o ovo e a galinha comparecem com a velha indagação de qual deles veio primeiro. Muito sugestiva no caso atual.

O que deve ir primeiro para o interior, o tão invocado equipamento básico ou o médico? Se for o equipamento, além de ficar inútil, não tem, por si só, poder de atrair quem lhe dê uso proveitoso. Jornais e TV têm noticiado casos exemplares de municípios com instalações à espera de médicos, mesmo com remuneração melhor que a ofertada nas capitais.

O médico que é médico quase sempre tem alguma coisa a fazer para atenuar o sofrimento mesmo sem a instrumentação e o remédio adequados. Vemos isso, com frequência, nos acidentes. Eu mesmo já ansiei, na beira de uma estrada, por um médico que parasse ao menos para me dizer como estancar a hemorragia perigosa.

Se primeiro a chegar, o médico, além do efeito de sua simples chegada, e das imediatas orientações sanitárias que pode proporcionar, tem meios de requerer, reclamar, denunciar e acusar publicamente as responsabilidades pelo descaso com os recursos de que precisa. E pode romper, até com apoio judicial, o contrato não cumprido pelo contratante.

O que não faz sentido é estabelecer a priori que no interior não haverá sequer os recursos minimamente necessários. Isto é sacar sobre o futuro. Especialidade de economistas e jornalistas, não de médicos. Por que não experimentar com mil ou dois mil médicos? Se a experiência com metade deles der certo, ou que seja um terço, um quarto, já se terá aprendido muito, mas, sobretudo, quanto alívio terá sido dado, quantas crianças terão deixado de sofrer, se não de morrer?

E, se a carência impeditiva está no interior, os grandes centros urbanos estão equipados para o atendimento à população, mínimo embora? Há três dias noticiava-se que o Hospital do Andaraí, pronto-socorro e referência em queimados no Rio, estava com as cirurgias suspensas por falta até do material mais simplório, como cateter. A desgraçada periferia de São Paulo inclui serviços médicos com o equipamento necessário? As cenas recentes em TV não foram tomadas no Projac.

Essa discussão não é sobre médicos, hospitais, postos de saúde, equipamentos. É sobre doença, sofrimento, partos, mortes, crianças.

* Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. 

Fonte: Folha de S. Paulo - Colunistas - 11/07/2013 - 03h44 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2013/07/1309309-de-galinhas-e-medicina.shtml

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