«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

“Estamos caindo na dimensão do fanatismo e da irracionalidade, estamos já à beira do abismo”

Entrevista com David Grossman

Fabio Scuto
La Repubblica (Roma – Itália)
19-11-2014
David Grossman - escritor israelense
 
Estamos caindo na dimensão do fanatismo e da irracionalidade, estamos já à beira do abismo”.  A dor é palpável nas palavras de David Grossman, o escritor israelense voz de uma geração que sonha com a paz na Terra Santa jamais parou de acreditar, hoje não consegue mais enxergar a mesma esperança. “O conflito que estamos vivendo deu uma passo para trás, está cada vez mais brutal, mais selvagem. As mesmas armas usadas para massacrar, facas e espadas, testemunham o retorno à uma guerra tribal”.

Mas até agora o terror sanguinário passava as portas sagradas de uma sinagoga. Um massacre que nos deixa consternados...

“Um profundo sentimento de dor e raiva se misturam para os assassinatos de pessoas inocentes, no momento da oração matinal, atingidos ao acaso, às cegas, somente porque eram israelenses e judeus. Mas sinto também uma grande frustração em ver, dia após dia, novas vítimas em ambas as partes. Mortos, feridos, atingidos ou raptados por este círculo vicioso de violência e de ódio, que envolve na sua volta cada vez mais pessoas e que está se transformando de conflito político, que talvez ainda exista uma pequena possibilidade de se resolver, em conflito religioso, fundamentalista e com consequências irracionais e primordiais.

Conflitos deste tipo, pela sua própria natureza, seguem no tempo e são de difícil solução. No curso dos anos, várias pessoas e organizações, sejam israelenses ou palestinas, tentam de forma quase desesperada chegar a uma solução do conflito, enquanto ainda estava na sua fase política: a ideia que estava por trás deste grande esforço era tal que não se podia consentir que fossem focados a irracionalidade e o fundamentalismo”.

Eis a entrevista.

A Cidade Santa para as três religiões é o símbolo desta tormenta?

David Grossman: “Isso que vemos hoje em Jerusalém, dia após dia, e quase que hora após hora, é uma precipitação perigosíssima às dimensões do fanatismo e da irracionalidade. Será então muito mais difícil agora, do que antes, procurar uma solução do conflito e talvez isso seja o motivo e a deixa para os líderes dos dois povos agirem imediatamente e com máxima potência, iniciando um processo de diálogo entre si ao invés de se insultarem e se ocupar de vinganças, incitando ainda mais o ódio”.

Existe o perigo de um contágio com as outras crises da região?

David Grossman: “Certamente, e se vê ainda como um extremismo bárbaro originado na IS, que introduziu os modos de operação do tipo daquele que hoje somos testemunhas – pessoas que são mortas a golpes de machado, de uma maneira verdadeiramente bestial – está se infiltrando no conflito entre Israel e Palestina. Era quase possível prever que aconteceria, uma vez que a nossa situação está sem solução, tão cheia de emoções que quando se concretiza um determinado modus operandi nos nossos vizinhos mais próximos, os fanáticos locais o adotam imediatamente. Posso então dizer que provo dessa mesma repulsão e o mesmo desânimo que foi provado a 20 anos atrás, quando em fevereiro de 1994, Baruch Oldstein assassinou em Hebron 29 fiéis muçulmanos na mesquita da Tumba dos Patriarcas”.

Além da evidente responsabilidade dos dois terroristas, você acredita que existam também responsabilidades políticas neste ocorrido?

David Grossman: “Sim, acredito que grande parte da responsabilidade destes assassinatos, de um lado e do outro, pese sobre os ombros daqueles não fizeram praticamente nada para mudar a situação, ou, na melhor das hipóteses, fizeram muito pouco: aqueles que falam somente com a linguagem da força, aqueles que não fazem outro que crescer o ódio entre os dois povos, aqueles que, definitivamente, primeiramente se desesperam levando ao desespero o próprio povo, negando qualquer possibilidade de se chegar a um acordo. Eles condenam os seus compatriotas à ações ditadas pelo desespero e pelo ódio. Nem Abu Mazen nem Netanyahu são responsáveis pela cadeia de assassinatos dos últimos tempos e certamente nenhum dos dois os quis, mas a sua falta de ação e de esforços leva a esta situação. O próprio fato que, já há muitos meses, para não falar dos últimos 47 anos, não foram tratados como sérias tentativas de resolução da situação, leva a uma escalada dela mesma”.

A imobilidade é o primeiro inimigo para a solução da crise entre Israel e Palestina?

David Grossman: “Sim, ao invés de ir pra frente, de procurar novas vias de diálogo, de remover cada obstáculo para encontrar pontos de acordo possíveis, e existem muitos, do tipo que vemos atualmente, como conflitos nos quais nos encontramos retrocede no tempo, torna sempre mais brutal, mais selvagem As mesmas armas usadas, facas e machados, testemunham o retorno a uma guerra tribal. Os líderes dos dois povos, quando ainda era possível evitar tudo isso, não fizeram nada. Pior que isso, cometeram todos os erros possíveis, usaram todas as desculpas possíveis para não falar e não chegar a um comprometimento. E por isso temo que agora, todos nós devamos enfrentar um período muito difícil”.

Está chegando uma Terceira Guerra [Intifada]?

David Grossman: “Como uma pessoa que nasceu e vive aqui já há muitos anos, conheço muito bem os mecanismos da violência, como seria fácil prendê-la e quanto seria difícil aquietá-la. A tradição hebraica, como repetiu o rabino chefe de Israel, veta aos hebreus a subida ao Monte do Templo, onde hoje surgem as Mesquitas. Referente a esta tradição, que não é uma lei do Estado, mas um preceito religioso aceito pelos hebreus de todas as gerações sem destruir o Templo desde o ano 70 d.C., foi criado um status que foi respeitado também pelos governos do Estado de Israel. Ariel Sharon, com a sua ‘caminhada’ provocatória em 2000, desencadeou a segunda ‘Intifada’. Hoje vemos novamente políticos exponenciais de direita subirem nas Explanadas, com a intenção precisa de provocação. Trata-se de uma postura bélica, irresponsável e perigosa, que pode ainda agravar uma situação já por si só explosiva e nos levar à beira do precipício”.

Traduzido do italiano por Ivan Pedro Lazzarotto.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 21 de novembro de 2014 – Internet: clique aqui.

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