«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Catolicismo 2015-2025: o que vai acontecer?

Massimo Faggioli*
TheHuffingtonPost.it
09-05-2015

A questão institucional da Igreja está em aberto: Paulo VI tentou reformar a Cúria, João Paulo II confiou-se ao Santo Ofício para governar, e Bento XVI nunca viu o governo da instituição eclesiástica como uma das suas tarefas principais. Os resultados do último meio século estão diante dos olhos de todos. Não é uma questão apenas formal de colegialidade, descentralização e subsidiariedade do processo decisional, mas uma questão substancial. 
PAPA FRANCISCO
saudando a multidão na Praça São Pedro - Vaticano
As mudanças ocorridas no catolicismo mundial na década de 2005-2015 deveriam desencorajar qualquer pessoa de fazer previsões sobre o catolicismo na próxima década de 2015-2025. Dez anos atrás, em abril de 2005, um conclave que lidava com a pesada herança de João Paulo II elegia ao papado Joseph Ratzinger, o candidato natural.

A eleição de Bento XVI era o triunfo de apenas uma das muitas e diversas almas de Karol Wojtyla: para alguns, era o fim de um certo "catolicismo social" e o início de um catolicismo solidamente doutrinário. Mas foi possível ver que o papa teólogo não era uma interpretação do papel do papado sustentado por parte de um catolicismo em que a teologia é muito mais a exegese do que o ditado da fé.

A surpreendente renúncia do Papa Bento XVI em fevereiro 2013 chegou no fim de um pontificado relutante em assumir todas as responsabilidades conectadas com o ministério do bispo de Roma, no plano pastoral, ecumênico, inter-religioso e diplomático. A eleição do Papa Francisco no dia 13 de março 2013 ocorreu em uma Igreja mais chocada e dilacerada do que se podia admitir.

A polarização intraeclesial é o primeiro elemento central para arriscar qualquer conjectura a respeito da próxima década:
·       não é sempre uma polarização político-ideológica (como nos EUA), mas é também
·       uma polarização entre Igreja local-nacional e o Vaticano (como, por exemplo, na Alemanha),
·       entre os bispos e os novos movimentos eclesiais (como no Japão),
·       entre uma Igreja missionária e uma Igreja institucional do status quo (na Itália e um pouco em todas as partes).

É uma polarização da qual o Papa Francisco está bem consciente e que torna o papado essencial hoje mais do que antes, como símbolo de unidade depois de dois pontificados que não são lembrados pelos católicos de um e de outro lado como particularmente eficazes em manter a Igreja unida.

Nesse sentido, a questão institucional da Igreja Católica parece ser, para a grande maioria dos católicos que não se apaixonam pela política interna no Vaticano, muito menos urgente do que outras. Mas a próxima década será decisiva para demonstrar a capacidade ou a incapacidade da Igreja de se reformar.

O governo central da Igreja, a Cúria Romana, hoje, ainda é impressionantemente semelhante à que foi criada em 1588; as reformas do século XX a retocaram sem nunca incidir em uma estrutura criada em uma época pré-moderna. O papel da Congregação para a Doutrina da Fé (o ex-Santo Ofício) ainda é substancialmente um papel de censura: daí a decisão do Papa Francisco de redimensionar radicalmente a voz dessa congregação durante o seu pontificado.

Mas a questão institucional está em aberto: Paulo VI tentou reformar a Cúria, João Paulo II confiou-se ao Santo Ofício para governar, e o ex-prefeito dessa congregação (1981-2005), Joseph Ratzinger-Bento XVI, nunca viu o governo da instituição eclesiástica como uma das suas tarefas principais. Os resultados desse último meio século estão diante dos olhos de todos, católicos ou não. Não é uma questão apenas formal de colegialidade, descentralização e subsidiariedade do processo decisional, mas uma questão substancial.

Qualquer pessoa que esteja a par dos resultados da centralização dos últimos anos anteriores ao Papa Francisco (um exemplo: a nova tradução em inglês do missal) conhece os desastres causados por uma "romanização" imposta pelo Vaticano a uma Igreja cada vez mais global.

Se olharmos para a tentativa de nova "romanização" iniciada antes da eleição do Papa Francisco, é óbvio que a década anterior – e, especialmente, o pontificado de Bento XVI – coincidiu com as tensões mais graves sobre a unidade da Igreja em torno de algumas questões relacionadas com o ensinamento da Igreja, especialmente sobre a sexualidade e sobre o papel da mulher na Igreja.

Não por acaso, esse período também é o da tentação por parte de muitos (mas não do Papa Bento XVI) de arquivar o Concílio Vaticano II no armário da história, entre as ideias e as doutrinas não mais adaptadas para o nosso tempo. O Papa Francisco retomou nas mãos o Concílio Vaticano II, que não tinha abordado diretamente as questões da sexualidade e do papel da mulher na Igreja, para chegar a falar dessas questões.

O Papa Francisco tem diante de si, depois de uma década de tradicionalismo encorajado pelo Vaticano, a tarefa de apresentar uma Igreja consciente daquilo que, na tradição, pode ser mudado. Na década futura, esse será o debate, em uma Igreja muito mais global do que nunca, em que a lista das questões a serem examinadas – sexualidade e homossexualidade, mulher, o matrimônio e família, justiça social e ambiente – faz parte de um elenco que tem prioridades diferentes de acordo com a a latitude dos catolicismos.

Por esse motivo, o Sínodo dos bispos convocado pelo Papa Francisco no Vaticano, em duas partes (outubro de 2015 e outubro 2015 – um fato sem precedentes) é um novo início para uma Igreja que, na próxima década, vai descobrir se a colegialidade do Papa Francisco permanecerá como uma das características do catolicismo do século XXI (finalmente recebendo o ditado do Vaticano II), ou, ao contrário, se a Igreja está destinada a permanecer como um sistema imperial.
 
Prof. Massimo Faggioli
Mas o império católico, contudo, é frágil e muito diferente do dos séculos anteriores, até mesmo do século XX. As duas questões mais imediatas e dramáticas são:
·       a gestão de uma Igreja de mais de um bilhão de fiéis com um corpo de clérigos e ordens religiosas cada vez mais reduzido, e
·       as perseguições anticristãs em muitos países da África e da Ásia.

Esses dois desafios, em certo sentido, levam a Igreja novamente às suas origens e aos primeiros séculos. O ano de 2025 será o aniversário do primeiro Concílio da Igreja universal, celebrado em Niceia, no ano 325: poderia ser a ocasião para um novo encontro ecumênico entre catolicismo e outras Igrejas cristãs. Aquele que o Papa Francisco chamou de "ecumenismo do sangue" poderia levar o catolicismo por caminhos imprevisivelmente novos.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Para acessar a versão original deste artigo, clique aqui

* Massimo Faggioli é historiador italiano, professor de história do cristianismo da University of St. Thomas, em Minnesota, nos EUA.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 13 de maio de 2015 – Internet: clique aqui.

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