Solenidade da Santíssima Trindade – Ano B – Homilia


Evangelho: Mateus 28,16-20

Conclusão do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo:
16 Os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado.
17 Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram.
18 Então Jesus aproximou-se e falou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra.
19 Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
20 e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
O ESSENCIAL DO CREDO

Ao longo dos séculos, os teólogos cristãos elaboraram profundos estudos sobre a Trindade. No entanto, muitos cristãos de nossos dias não conseguem captar o que têm que a ver com sua vida essas admiráveis doutrinas.

Ao que parece, hoje necessitamos ouvir falar de Deus com palavras humildes e simples, que toquem nosso pobre coração confuso e desanimado, e reconfortem nossa fé vacilante. Necessitamos, talvez, recuperar o essencial de nosso Credo para aprender a vivê-lo com alegria nova.

«Creio em Deus Pai, criador do céu e da terra». Não estamos sozinhos diante de nossos problemas e conflitos. Não vivemos esquecidos, Deus é nosso «Pai» querido. Assim o chamava Jesus e assim nós o chamamos. Ele é a origem e a meta de nossa vida. Criou a todos por amor, e nos espera a todos com coração de Pai ao final de nossa peregrinação por este mundo.

Seu nome é hoje esquecido e negado por muitos. Nossos filhos estão se distanciando dele, e os crentes não sabem difundir sua fé nele, porém Deus segue olhando a todos nós com amor. Ainda que vivamos cheios de dúvidas, não devemos perder a fé em um Deus Criador e Pai, pois teríamos perdido nossa última esperança.

«Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor». É Ele o grande presente que Deus fez ao mundo. Ele nos contou como é o Pai. Para nós, Jesus jamais será mais um homem. Olhando para Ele, vemos o Pai: em seus gestos captamos sua ternura e compreensão. Nele podemos sentir Deus humano, próximo, amigo.

Este Jesus, o Filho amado de Deus, animou-nos a construir uma vida mais fraterna e alegre para todos. Isso é o que mais quer o Pai. Indicou-nos, ademais, o caminho a seguir: «Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso». Se esquecermos de Jesus, quem ocupará o seu vazio? Quem nos poderá oferecer sua luz e sua esperança?

«Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida». Este mistério de Deus não é algo distante. Está presente no íntimo de cada um de nós. Podemos captá-lo como Espírito que anima nossas vidas, como Amor que nos conduz aos que sofrem. Este Espírito é o melhor que existe dentro de nós.
 

TERNURA

O mistério de Deus supera infinitamente o que a mente humana pode captar. Porém, Deus criou o nosso coração com um desejo infinito de buscá-lo, de tal modo que não encontrará descanso a não ser nele. Nosso coração, com seu desejo insaciável de amar e ser amado, nos abre uma brecha para intuir o mistério inefável de Deus.

Nas páginas do delicioso relato de «O Pequeno Príncipe», escrito por Antoine Saint-Exupéry, se faz esta admirável afirmação: «Somente com o coração se pode ver bem; o essencial é invisível aos olhos».

É uma forma bela de expor a intuição dos teólogos medievais que já diziam em seus escritos: «ubi amor, ibi est oculus» («onde reina o amor, ali há olhos que sabem ver»). Santo Agostinho disse, também, de um modo mais direto: «Se vês o amor, vês a Trindade».

Quando o cristianismo fala da Trindade quer dizer que Deus, em seu mistério mais íntimo, é amor partilhado.

Deus não é uma ideia obscura e abstrata; não é uma energia oculta, uma força perigosa; não é um ser solitário e sem rosto, apagado e indiferente; não é uma substância fria e impenetrável. Deus é Ternura transbordante de amor.

Esse Deus trinitário é fonte e cume de toda ternura. A ternura inscrita no ser humano tem sua origem e sua meta na Ternura que constitui o mistério de Deus. Por isso, a ternura não é um sentimento a mais; é sinal da maturidade e vitalidade interior; brota num coração livre, capaz de oferecer e de receber amor, um coração «parecido» ao de Deus.

A ternura é, sem dúvida, a mais clara marca de Deus na criação; o melhor que desenvolveu a história humana; o que mede o grau de humanidade e compreensão de uma pessoa. Essa ternura se opõe a duas atitudes muito difundidas em nossa cultura:

·        a «dureza de coração» compreendida como barreira, como muro, como apatia e indiferença diante do outro;
·        o «voltar-se sobre si mesmo», o egocentrismo, a soberba, a ausência de solicitude e cuidado do outro.

O mundo se encontra diante de uma grave alternativa:

·        entre uma cultura da ternura e, portanto, do amor e da vida, ou
·        uma cultura do egoísmo e, portanto, da indiferença, da violência e da morte.
Aqueles que creem na Trindade sabem o que hão de promover.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola – Segunda-feira, 25 de maio de 2015 – 12h30 – Internet: clique aqui.

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