«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A era dos aproveitadores!

Manual do populismo

Moisés Naím
Escritor venezuelano e membro do Carnegie Endowment for International Peace*, em Washington

O populismo sempre existiu, mas nos últimos anos ressurgiu com uma força
potencializada pela internet e pelas frustrações de sociedades angustiadas
com as mudanças, a precariedade econômica e uma ameaçadora insegurança 

VLADIMIR PUTIN
Presidente da Rússia

O populismo não é uma ideologia. É uma estratégia para alcançar e conservar o poder. Ele sempre existiu, mas nos últimos anos ressurgiu com uma força potencializada pela internet e pelas frustrações de sociedades angustiadas com as mudanças, a precariedade econômica e uma ameaçadora insegurança sobre o que o futuro lhes reserva. Uma das surpresas do populismo é como seus ingredientes são comuns apesar de os líderes que o praticam e os países onde se impõem serem muito diferentes. O populismo hoje reina na Rússia de Vladimir Putin e nos Estados Unidos de Donald Trump, na Turquia de Recep Tayyip Erdogan e na Hungria de Viktor Orban, entre muitos outros. Em todos, observamos quatro táticas principais:

1ª. Dividir para vencer

O líder e seu governo apresentam-se como os defensores do nobre povo – do populus – maltratado e abusado pelos que o governaram. Os populistas nutrem-se do “nós contra eles”: o povo contra a casta, a elite, a oligarquia, o 1% ou, na Europa, contra “Bruxelas” e nos Estados Unidos contra “Washington”. Os populistas mais bem-sucedidos são virtuosos na arte de exacerbar as divisões e o conflito social: entre classes, raças, religiões, regiões, nacionalidades e qualquer outra brecha que possa ser ampliada e convertida em indignação e fúria política. Os populistas não temem brincar com fogo e atiçar o conflito social; ao contrário, precisam dele.
DONALD TRUMP
Presidente dos Estados Unidos da América

2ª. Deslegitimar e criminalizar a oposição

Exagerar a má situação do país e magnificar os problemas é indispensável. A mensagem central do populista é que tudo o que os governos anteriores fizeram é ruim, corrupto e inaceitável [Já vimos isso no Brasil! Lembram-se do Presidente da República que adorava iniciar seus discursos com a frase: «Nunca antes na história deste país...»]. O país precisa urvgentemente de mudanças drásticas e o líder populista promete fazê-las. E os que se opõem a suas mudanças não são tratados como compatriotas com ideias diferentes, mas como apátridas que é preciso apagar do mapa político do país. A criminalização dos rivais políticos é uma tática comum a populistas e autocratas. Um dos slogans mais populares nos comícios da campanha de Donald Trump foi “prendam-na” referindo-se ao encarceramento de Hillary Clinton. Na Rússia, na Turquia, no Egito ou na Venezuela essas ameaças contra líderes da oposição não param nos slogans.
RECEP TAYYIP ERDOĞAN
Presidente da Turquia

3ª. Denunciar a conspiração internacional

O populismo requer inimigos externos. Este é um velho truque que, infelizmente, costuma render dividendos políticos no curto prazo, embora depois acabe em tragédia. O inimigo externo pode ser um país – para o presidente Trump é a China ou o México, por exemplo – ou um grupo humano. Viktor Orban, o primeiro-ministro húngaro, disse que “os imigrantes são violadores, ladrões de empregos e um veneno para a nação” e construiu um muro para mantê-los fora. Para Vladimir Putin, os Estados Unidos estiveram por trás das “revoluções coloridas” que sacudiram a Europa oriental e chegaram às ruas de Moscou em 2011. Putin também denuncia regularmente a Otan. Muitas vezes, esses inimigos estrangeiros são apresentados como aliados da oposição doméstica. Por exemplo, o presidente da Turquia explicou que o fracassado golpe de Estado contra ele no ano passado foi uma conspiração orquestrada por Fethullah Gulen, um clérigo muçulmano radicado nos Estados Unidos que tem uma ampla base de seguidores na Turquia. De acordo com Erdogan, o golpe também contou com o apoio de militares americanos.

Quando as coisas em casa começam a ir mal para os populistas, eles costumam recorrer a – ou provocar – conflitos internacionais que sirvam de DISTRAÇÃO. Este é o grande perigo da presença de Trump como chefe supremo das Forças Armadas mais poderosas que a humanidade conheceu. 
VIKTOR ORBAN
Primeiro Ministro da Hungria

4ª. Desprestigiar jornalistas e especialistas

“Este país está farto de especialistas!”. Assim reagiu Michael Grove, um dos líderes do Brexit, ante um relatório de economistas que documentaram os custos que o Reino Unido teria com a saída da União Europeia.

Para Trump pouco importa que o aquecimento global tenha sido confirmado por milhares de cientistas. Ele sustenta que se trata de uma conspiração da China. O presidente dos EUA também acha que o autismo é causado por vacinas e não lhe importa que essa teoria seja comprovadamente falsa.

Mas o desdém que os populistas têm pela ciência, pelos dados e pelos especialistas não é nada se comparado ao desprezo que sentem pelos jornalistas. Desprezo que, em alguns países, conduz à prisão, às agressões físicas e, em certos casos, ao assassinato de jornalistas.

O fato é que tanto os cientistas quanto os jornalistas produzem dados e documentam situações que costumam contrariar a narrativa que convém aos populistas. E quando isso ocorre nada melhor do que desqualificar o mensageiro. [E escolher somente uns poucos órgãos de imprensa ou blogs da internet como “autênticos” divulgadores da “verdade”.]

Nenhuma dessas táticas é nova. O surpreendente é sua popularidade num mundo onde se esperava que democracia, educação, tecnologia, comunicações e progresso social dificultariam seu êxito.

Traduzido por Celso Paciornik.

* O Carnegie Endowment for International Peace é um grupo de reflexão [think tank] de política externa com centros em Washington, D.C.; Moscou; Beirute; Pequim; Bruxelas e Nova Deli. A organização descreve-se como send dedicada a promover a cooperação entre as nações e promover o compromisso internacional ativo pelos Estados Unidos. Fundado em 1910 por Andrew Carnegie, seu trabalho não é formalmente associado a qualquer partido político.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional / Colunista – Segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017 – Pág. A9 – Internet: clique aqui.

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