«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

EUA e Europa não mudam sistema que levou à crise [Leia!]

Entrevista:
Rubens Ricupero

Dayanne Sousa

Nenhuma das soluções econômicas e financeiras propostas até agora por Estados Unidos e Europa seriam capazes de evitar uma nova crise, afirma o ex-ministro da Fazenda e ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Ricupero [foto]. Em entrevista a Terra Magazine, ele comenta as negociações pelo aumento do teto da dívida americana e a situação de países como a Grécia e a Espanha.

Estes países estão no meio de uma crise, mas não chegaram nunca a mudar o sistema que provocou essa crise. Estão todos esperando voltar a situação como era antes. Acontece que a situação como era antes é que provocou isso - questiona Ricupero.

O diplomata, que assumiu a Fazenda durante a implantação do Plano Real, em 1994, vê um risco na pressão de congressistas republicanos por cortes de gastos do governo Obama.

Querer cortar na hora em que a economia está caindo, está praticamente prostrada, é uma coisa irracional.

Para manter as contas em dia, Obama propôs um aumento do teto da dívida, atualmente em US$ 14,3 trilhões - valor alcançado em maio deste ano. Os republicanos oferecem como solução o corte de gastos do governo. Por sua vez, o presidente defende o aumento de impostos sobre os mais ricos. A negociação já dura semanas e está próxima do prazo final. Nesta segunda-feira (25 de julho), Obama fez um pronunciamento e pediu o apoio da população.

Nesta entrevista, Ricupero ainda comenta uma tendência que se fortalece nos países desenvolvidos, ao lado da crise: a xenofobia. Ele avalia que a condição econômica não é fundamental para o fenômeno, mas conclui que o atentado que matou 76 pessoas na Noruega é uma "manifestação particularmente doentia de uma tendência que vem se generalizando no continente europeu".

Leia na íntegra.

Terra Magazine - Barack Obama fez um discurso chamando a atenção dos americanos para a questão da dívida americana. Foi um alerta? Como o senhor avalia essa negociação?
Rubens Ricupero - Eu acho que ele está procurando, com muito cuidado, fazer com que a população responsabilize os republicanos por essa atitude de intransigência. E há um precedente. Na época do presidente Clinton, os republicanos conquistaram maioria no Congresso e o obrigaram a paralisar o governo. A discussão era sobre o orçamento, obrigaram Clinton a demitir funcionários públicos. Mas Clinton soube, politicamente, instrumentalizar o caso e isso se voltou contra os republicanos. Penso que Obama está tentando fazer o mesmo, mas os dias que ele tem pela frente são poucos.

Interessante o senhor falar em precedentes, porque a maior parte dos analistas econômicos considera que seria impossível que os republicanos não terminem concordando com o aumento do teto da dívida, uma vez que isso causaria uma crise profunda...
Rubens Ricupero - Mas isso se baseia na ideia de que o ser humano é sempre racional. Se isso fosse verdade, nunca teria havido a nem a primeira nem a segunda Guerra Mundial. A história está cheia de episódios que, pela racionalidade, não teriam acontecido. O que eu posso dizer é que não é provável. Mas não é impossível.

O Brasil, em sua história, já conheceu esse dilema de falar em corte de gastos. Agora, é o mundo desenvolvido que passa pelo mesmo?
Rubens Ricupero - O caso do Brasil é diferente. Aqui, mesmo a ideia de corte de gastos tem sido apresentada num momento em que esse corte é razoável. Se recomenda corte porque a economia está se aquecendo demais. Lá é ao contrário. É muito irracional. O país ainda não saiu da crise, tem mais de 9% de desempregados. Este não é o momento de falar em equilibrar o orçamento. A melhor maneira é com crescimento econômico. Querer cortar na hora em que a economia está caindo, está praticamente prostrada, é uma coisa irracional.

Mas fato de que agora são EUA e Europa que lidam com o risco de um calote não indica que há alguma coisa estranha no sistema financeiro?
Rubens Ricupero - É verdade que estes países estão no meio de uma crise, mas não chegaram nunca a mudar o sistema que provocou essa crise. Estão todos esperando voltar a situação como era antes. Acontece que a situação como era antes é que provocou isso. As reformas que foram feitas até agora foram muito pequenas. Nenhuma delas, a longo prazo, evitaria uma repetição desse fenômeno.

A crise econômica nos EUA e na Europa está alimentando discursos reacionários, como o do atirador que assumiu a responsabilidade pelos ataques na Noruega?
Rubens Ricupero - Não tem a ver com a situação econômica, porque a Noruega não foi tocada pela crise. Os noruegueses são conhecidos como "os árabes de olhos azuis", porque a Noruega é uma grande produtora de petróleo e tem uma renda altíssima. Se isso acontecesse na Grécia, você poderia dizer que é um exemplo da crise. Mas eu não acho que o problema econômico seja um fator fundamental, esse fenômeno já vinha se manifestando muito antes. Em alguns países, a crise alimenta esse fenômeno. Mas ele tem origem mesmo na reação de populações tradicionalmente homogêneas e que de repente passam a conviver com a imigração, com a diversidade de raça e religião.

O que ocorreu na Noruega é um caso excepcional ou revela uma tendência de radicalização na Europa?
Rubens Ricupero - É uma manifestação particularmente doentia de uma tendência que vem se generalizando no continente europeu, com expressões mais perigosas em alguns países. E é surpreendente que aconteça em alguns países que sempre foram reconhecidos pela tolerância. A Holanda, a Dinamarca, a Noruega e a Finlândia sempre foram países muito progressistas e isso mudou radicalmente. Essa premissa hoje vale para a Alemanha, a França, Itália e países do Leste Europeu. Há um certo denominador comum: todas essas tendências são xenófobas e têm uma conotação racista.

Os interlocutores desse discurso xenófobo não são apenas pessoas como esse atirador. Há partidos e movimentos organizados. Esses movimentos não estimulam a violência? Como coibí-la, então?
Rubens Ricupero - É complicado. Esses movimentos e partidos não são todos iguais. Alguns até tem representação nos parlamentos. A Liga Norte italiana, embora seja contra imigrantes, tem a bandeira do federalismo. Na Bélgica, o Bloco Flamenco é um partido separatista. Nestes países, o tema nacional é que predomina. Mas o que se encontra em todos os países, inclusive na Inglaterra, é a reação contra a imigração. Acho que a forma de lidar com isso é agir como fez o primeiro ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, que declarou que esse tipo de reação não vai derrubar a democracia. É preciso usar as armas democráticas.

Fonte: TERRA MAGAZINE - Quarta-feira, 27 de julho de 2011 - 10h30 - Internet: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5262910-EI6579,00.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.