«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Refundar o capitalismo?

José Ignacio González Faus
Blog: Miradas Cristianas
18 - 07 - 2011

"O capitalismo é imoral por sua máxima eficiência"

Refundar ou refundir: "this is the question". Porque os grupos do 15M [jovens espanhóis que ocuparam praças da Espanha em protesto a partir de 15 de maio] podem ter cometido erros e gerado desvios; mas, todas essas falhas não nos autorizam a ignorar a enorme dose de razão que tinham ao denunciar que os gestores da coisa pública estão aproveitando a crise para pôr em prática aquela máxima de El Gatopardo: “mudar tudo o que faça falta para não mudar nada”. E assim mudaram as palavras e prosseguiram tão contentes: o aristocrata Sarkozy tem sido, neste caso, um autêntico marquês de Lampedusa.

Se alguém quer entendê-lo melhor, lhe recomendo o livro de Luis González-Carvajal (El hombre roto por los demônios de la economia)* que é do melhor que tenho lido sobre nossa situação crítica. E conste que não percebo nenhuma dicotomia neste conselho.

O autor é uma das melhores vozes do momento em ética social cristã. O mais irritante dele é que sua linguagem não é nada profética nem indignada, senão tranquilamente cinza: ele me recorda Francisco de Vitoria que, falando sempre de seu escritório e sem os acentos atroadores de Bartolomé de Las Casas, chegou praticamente às mesmas conclusões do que este, e foi “pai do direito das gentes”. Ou aqueles versos de M. Machado sobre Berceo: sua prosa “é doce e grave, monótonas fileiras – de choupos invernais onde nada brilha”.

E, sem brilho, porém com matiz diáfano cegante, como se estivesse falando de coisas não transcendentes como botões ou cromos, ele chega a certas conclusões que soam como obviedades elementares. Porém essas obviedades queimam tanto que ninguém se atreverá a recebê-las em suas mãos...

Ali se nos fala de ética e economia, da moral cristã sobre a propriedade, do mercado e da globalização. E resulta que o capitalismo é imoral precisamente por sua máxima eficiência: porque essa finalidade do máximo lucro se consegue aceitando que o fim justifica todos os meios. E também resulta que a visão cristã da propriedade está mais próxima do desplante de Proudhon (“a propriedade é um roubo”) do que da doutrina neoliberal: porque a propriedade não é um direito natural, o direito natural é o destino dos bens da terra. E a propriedade privada é um direito positivo que só tem vigência na medida em que serve para realizar esse destino comum dos bens. E o mercado precisa ser regulado “atacando audazmente os ídolos do liberalismo” porque “a ditadura econômica se apossou do mercado livre” (ambas frases de Pio XI).

Carvajal recorda oportunamente que Marx já sublinhara que não atacava os empresários como pessoas, senão como personificações ou confecções de um sistema cruel por estar supeditado à necessidade do máximo lucro e à concorrência feroz para obtê-lo.

É certo que, enquanto existiu o pânico à ameaça comunista, o sistema se disfarçou como o lobo de capuzinho, e aceitou reformas muito radicais como as dos impostos progressivos. Em tempos de Nixon, as grandes fortunas norte-americanas chegavam a pagar 70% de impostos. Nos anos da queda do Leste comunista e a ascensão de Reagan chegaram a baixar até 28%. É-nos explicado que, ao baixar-lhes os impostos, as grandes fortunas têm mais capital para investir e assim criam novos empregos. Não faz muitos anos que nos cansamos de ouvir essas razões em boca do então ministro Acebes, com uma sensibilidade tão pouco cristã como economicamente falsa: porque, ao baixar-lhes os impostos, o que fazem as grandes fortunas é emprestar aos governos que necessitam de dinheiro, ou investir em engenharias financeiras que resultam mais rentáveis, sacando assim mais benefícios de um dinheiro que moralmente não era seu.

Se tudo isso molesta, suavizemo-lo com dois textos papais citados pelo autor:

“a Igreja não pretende apoiar pura e simplesmente o atual estado de coisas, como se visse nisso a expressão da vontade divina, nem pode proteger por princípio o rico e o poderoso contra o pobre e o desprovido. Pelo contrário!” (Pio XII).

“As necessidades dos pobres devem ter preferência sobre os desejos dos ricos, os direitos dos trabalhadores sobre o incremento dos lucros; a defesa do ambiente sobre a expansão industrial incontrolada; uma produção que responda a exigências sociais sobre uma produção com objetivos militares” (João Paulo II).

Até papas conservadores diziam essas coisas que soam tão de esquerda. Outra coisa é que os católicos tenham feito caso disso. Eles se preocupam mais é com o preservativo...

Tradução é de Benno Dischinge.

* Livro publicado na Espanha por San Pablo, 2011, 272 págs.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - 21/07/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=45553

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