«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

LEGADO DA COPA: VAI SER BOM, NÃO FOI?

Marcelo Sakate e Bianca Alvarenga

Os gastos dos turistas e da festa dos torcedores favorecem o comércio, mas o legado para a economia não passará de um bem-estar efêmero e com data para terminar
Edição brasileira publicada pela editora:
Tinta Negra (2010, 312 p.)

Na defesa da realização da Copa do Mundo no Brasil em cadeia nacional de televisão, há duas semanas, a presidente Dilma enfatizou o ganho econômico: “A Copa gera negócios, injeta bilhões de reais na economia, cria empregos”. A experiência de outros países demonstra que sediar grandes eventos esportivos, como a Copa e a Olimpíada, não é, em si, garantia de ganhos econômicos duradouros. Diz o polonês Stefan Szymanski, professor de gestão do esporte da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e coautor do livro cujo título é uma combinação em inglês de futebol (soccer) e economia (economics), Soccernomics: “Os brasileiros não devem esperar um legado significativo. Em geral, projetos relacionados à Copa não produzem impactos relevantes e duradouros”.

Szymanski dá como exemplo o aumento de turistas estrangeiros no Brasil, cujos gastos não vão chegar a se equiparar às despesas para atraí-los. Com a construção e a reforma de estádios, o governo brasileiro gastou cerca de 8 bilhões de reais. Os brasileiros e os 600 000 estrangeiros devem desembolsar aqui nas quatro semanas da Copa perto de 6,7 bilhões de reais. Nada muito expressivo em relação ao PIB [Produto Interno Bruto = a soma de tudo aquilo que o país produz] anual brasileiro, de 5 trihões de reais. Empurrado pelas compras dos estrangeiros em visita ao Brasil, o consumo em bares e restaurantes neste mês e em julho deve aumentar em 3 bilhões de reais, o equivalente a 25% em relação ao mesmo período do ano passado. Adicionalmente, mais de 3 milhões de brasileiros vão viajar entre as cidades-sede, movimentação que também favorece o aumento do consumo.

No entanto, como alerta Szymanski, esses números vão acabar confirmando que existe uma tendência de superestimar as projeções. Diz o estudioso polonês: “O que mais vi em eventos anteriores em outros países foram pesquisas com exageros, bancadas por governos e setores interessados, como a indústria da construção civil ou do turismo”.

Os efeitos da Copa 2014 sobre a aviação comercial brasileira dão razão a Szymanski. A oferta de assentos realmente aumentou 10% nas rotas aéreas entre as doze cidades-sede do Mundial, mas diminuiu nos demais destinos. A explicação vem do fato de que a Copa esfriou a demanda proveniente das viagens a negócios e de participação em grades feiras, a maioria antecipada ou adiada para depois do apito final na decisão de domingo, dia 13 de julho, no Maracanã.

O impacto da Copa sobre a indústria brasileira é francamente negativo. A combinação das pardas nas fábricas durante os jogos da seleção brasileira com a queda nos pedidos explica a decisão de muitos empresários industriais de conceder férias coletivas. Mas não sejamos tão duros, avaliando a Copa apenas por seus efeitos contábeis. Szymanski concorda: “As pessoas amam ver a Copa do Mundo em seu próprio país, e essa sensação de bem-estar compensa”.

O EFEITO COPA – RESUMINDO

TURISMO

O turismo deverá atrair 6,7 bilhões de reais para a economia – um incentivo bem-vindo, mas modesto para um PIB total superior a 5 trilhões de reais.
Mais de 3 milhões de brasileiros e 600 000 estrangeiros circularão pelas cidades-sede. Cada turista do exterior deve gastar, em média, 4 150 reais, e o brasileiro, 1 355 reais. Nos primeiros quatro dias de Copa, os estrangeiros gastaram 27 milhões de dólares em compras com cartão de crédito.


EMPREGOS
Estima-se que se criarão 175 000 vagas formais temporárias. No setor de hospedagem e alimentação serão 37 000 postos, dos quais até 15% podem ser efetivados, especialmente no Nordeste.



BARES E RESTAURANTES

O faturamento em junho e julho deve aumentar 25% em relação ao mesmo período de 2013, totalizando 12 bilhões de reais. Nos dias de jogo do Brasil, a expectativa é que haja um crescimento de 70% da receita com as vendas.



INDÚSTRIA
Um terço das fabricantes de equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos vai parar durante a Copa. Algumas montadoras de carros também programaram férias coletivas. A produção industrial deverá cair nesse período.







MICROS E PEQUENAS EMPRESAS

Segundo o Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas], desde 2011, já se acertaram contratos no valor de 380 milhões de reais, com a prestação de serviços e o fornecimento de produtos a empresas maiores nas áreas de turismo, varejo, construção civil e vestuário, entre outras. A estimativa é que o montante alcance 500 milhões de reais até o fim da Copa.



AVIAÇÃO
As companhias ampliaram em 10% (645 000 assentos) a capacidade entre as doze cidades-sede. Mas a expectativa é que não haja um aumento expressivo no faturamento, por causa da queda no turismo de negócios.



Stefan Szymanski - economista polonês radicado nos Estados Unidos

ENTREVISTA – Stefan Szymanski

O polonês Stefan Szymanski é coautor do livro Soccernomics e avaliou o impacto econômico em países que organizaram Copa do Mundo e Olimpíada. A conclusão: a economia pouco ganha.

Que legado os brasileiros devem esperar da Copa do Mundo?
Stefan Szymanski: Não muito grande. A Copa e a Olimpíada falham em criar efeitos econômicos relevantes. Os investimentos na construção de estádios, por exemplo, são modestos em relação ao total do orçamento de um país como o Brasil.

Mas não existem estudos que estimam o retorno financeiro de bilhões de dólares?
Stefan Szymanski: São estudos preparados por consultorias pagas pelo governo dos países-sede ou pela indústria da construção ou do turismo. Ou seja, por organizações que terão ganhos com o evento. A maior parte dos estudos independentes mostra que o retorno é pequeno.

O que pode ser feito para ampliar esse retorno?
Stefan Szymanski: Não há muito mais a fazer. Há um ganho para os clubes brasileiros. O público nos campeonatos nacionais sobre de 15% a 20% nos cinco anos seguintes à disputa da Copa. Ela pode aumentar o apelo do campeonato brasileiro no resto do mundo. Mas não muito além disso.

Existe alguma outra forma de benefício?
Stefan Szymanski: O futebol é o esporte mais popular do mundo. As pessoas amam a ideia de ver a Copa em seu país. Elas desviam a atenção dos problemas do dia a dia. Mas, tão logo os jogos acabem, os brasileiros voltarão a demonstrar a sua insatisfação com tanto desperdício na organização [da Copa].

Fonte: Revista VEJA – Edição 2379 – Ano 47 – nº 26 – 25 de junho de 2014 – Pgs. 122-123 – Edição impressa.

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