MALUF APOIA PADILHA E DILMA: HÁ ALGUMA DIFERENÇA ENTRE ELES?
UM BONDE CHAMADO MALUF
Arnaldo Jabor
PAULO MALUF APOIA O PETISTA ALEXANDRE PADILHA NA DISPUTA PELO GOVERNO DE SÃO PAULO (30 DE MAIO) |
As
fotos do Maluf abraçado no Alexandre Padilha merecem uma análise semiológica.
Nelas, podemos ver o belo e dramático constrangimento do petista superando as
agruras da dignidade pequeno-burguesa para ter mais um minuto na TV. Quão
pragmático, quão tarefeiro, quão obediente o Padilha, cumprindo a estratégia do
PT! O partido não anuncia programas para S. Paulo. Mas, para vencer, precisam
de um bonde. Um bonde chamado Maluf. A antiga foto dele com Lula já foi
absorvida, mas essa foto com Padilha não chocou tanto; já nos habituamos.
Nas
fotos, Padilha faz um grande esforço para não sorrir, como se dissesse:
"Estou cumprindo ordens!". Enquanto isso, Maluf se diverte ao
afagá-lo com carinho, tentando amolecê-lo, fazendo-lhe cócegas e com tapinhas
amigos, orlados de vingança, como se dissesse: "Calma, Padilhão, a vida é
assim mesmo...".
O que
fascina em Maluf é ver como ele goza, como se orgulha de estar solto, livre,
acima de todas as provas que surgiram, um prazer perverso de se sentir um
intocável útil. Maluf não tem um resquício de culpa; ele adora sua fama de mau.
Virou um aliado indispensável ao descalabro que está se gestando: reeleição de
Dilma, Lula em 2018 e depois o infinito.
O rosto
feliz de Maluf: “Eles me desprezam, mas vêm a mim. Eles não têm a liberdade que
conquistei em anos de negações absolutas, que me trouxeram a impunidade e a
irresponsabilidade - privilégios raros. Eu sou livre!".
Nas
fotos, vemos que Maluf está simpático, Padilha é antipático; fica falso quando
tenta a simpatia. Mas não é a antipatia do rancor ou inveja; é a seriedade de
quem tem uma missão política a cumprir (qual?). O petista de carteirinha sente
um certo orgulho por sua “realpolitik” mesmo desonesta. Moralismo é coisa de
pequeno-burguês da UDN.
O gênio
Rui Falcão cunhou a frase fatal: “Isto é uma aliança de princípios!”. Pronto,
Maluf pode dizer, como já disse: "Perto do Lula eu é que sou comunista!”.
E perto de Maluf, os petistas são o quê? Quais são os princípios comuns aos
dois? Ambos usam quaisquer maracutaias para vencer? Ambos sabem negar tudo até
o fim? Ambos têm desprezo pela moral de classe média que condena roubalheiras?
Criticando os tucanos, Padilha disse que o PCC manda em S.Paulo. Como explicar
então os petistas envolvidos com doleiros e a facção criminosa, via Vargas e
Luiz Moura? Será mais uma aliança "necessária"?
Maluf
não tem missão nenhuma - só curte sua liberdade. Maluf declarou gostosamente:
"Lula é o maior estadista do País!", lembrando sua ausência na foto.
Lula não está na foto, mas sua presença está ali: é um pai carismático que
todos obedecem, é uma versão simplificada de todas as ideologias daqueles que
se dizem de “esquerda”.
Seus
seguidores dizem que a política nos obriga a sujar as mãos. Tudo bem; mas, no
caso, um pôs a mão no outro. Quem é o sujo? Os dois?
Maluf
já foi julgado em vão e é procurado pela Interpol; se pisar em Paris, cana. Os
petistas têm negócios internacionais sujos (Pasadena, etc...), mas nunca serão
julgados, principalmente agora que o Barbosão saiu, aquele que eles chamam de
"monstro" e de "negro pernóstico". Aliás, perto do
escândalo da refinaria Abreu e Lima, Pasadena é um troco - de dois bilhões
orçados, vai custar mais de 20 bilhões.
Maluf
acha que Dilma vai ganhar e a apoia porque ela (sacaneou ele) "terá mais
propaganda do que as Casas Bahia, a Petrobrás e a Caixa", como se ela
fosse um produto de varejo. Talvez ela seja.
Maluf
disse que o PT era uma nuvem de gafanhotos e Lula disse que Maluf era uma ave
de rapina. Pois a ave e os gafanhotos se perdoaram mutuamente. Maluf parece
dizer a Padilha: "Eu sou você amanhã". Padilha tenta escapar com seu
'não sorriso': "Eu não sou você hoje". Mas, é.
É uma
aliança entre corrupção privada e pública. Maluf só pensou em si, privado. O PT
criou a "corrupção revolucionária pública" - tascar a grana do povo
para o ‘bem’ do povo.
Essas
fotografias são os indícios do que vem por aí, com a vitória de Dilma, já que
seus eleitores mais pobres (grande maioria) não têm ideia do que está
acontecendo no Brasil.
Os
sinais estão no ar. Será o fim do constrangimento autoritário, será o fim das
luvas de pelica, o fim das meias-palavras, o fim das envergonhadas "defesas" da
democracia "burguesa", será a crescente bolivarianização da nossa vida. Será o
ataque imediato da liberdade de expressão e da mídia a ser ‘regulada’ do jeito
de Kirchner ou Maduro. O Lula tem repetido diuturnamente que “a imprensa é a
pior forma de oposição" e disse que vai se vingar das denúncias e verdades
que publicamos. Lula é um Maluf sindicalista que subiu na vida.
E mais:
o caráter brizolista de Dilma virá à tona. Ela pensa igual a seu antigo chefe,
que ela largou para se filiar ao PT, mas continuou fiel às suas ideias - as
mais atrapalhadas bobagens que ele teceu com cartilhas socialistas.
Escreveu
Rodrigo Constantino outro dia:
"Se
Brizola já se foi, o brizolismo continua vivo. Infelizmente. Seus filhotes
políticos governaram o Rio por muitos anos. Um dos principais ícones mais
recentes deste brizolismo é Anthony Garotinho. Sua marca é a demagogia elevada,
a retórica de luta de classes, o nacionalismo xenófobo, e a idolatria do Estado
como único meio para os fins nobres. A simbiose entre governo e máfias
sindicais tem sido outra marca do brizolismo também."
Brizola
sempre foi uma das mais virulentas vozes contrárias ao processo de desestatização.
Em abril de 1997, chegou a escrever no Jornal do Commercio: "A
privatização da Vale é um ato insano e injustificável; eu desconfio da
inteireza mental do presidente Fernando Henrique”. O discurso de Brizola contra
o suposto “entreguismo" sempre foi carregado de xenofobia, como se o
comércio mundial fosse apenas uma batalha de estrangeiros contra brasileiros.
Em
suma, como mostram as fotografias, estávamos prontos para levantar voo, quando
o mais burro regressismo tomou conta do governo. A frase que mais ouço hoje em
dia, travada de impotência, é: "Nunca vi o País assim...".
Fonte: O Estado de S. Paulo – Caderno 2 –
Terça-feira, 3 de junho de 2014 – Pg. C8 – Internet: clique aqui.
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