«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

QUE PAÍS É ESSE?

DEVORANDO A ESFINGE

Lya Luft
Escritora
Esfinge de Gizé - Egito (África)

A Esfinge, essa senhora pouco simpática, devorava quem não adivinhasse as charadas que propunha. Acabou desmascarada pelo rei Édipo (vejam tragédias gregas), e de raiva se lançou num precipício. A ideia de uma Esfinge brasileira a nos encher a paciência me ocorreu para construir um artigo apenas questionando enigmas brasileiros atuais (devoraremos a moça antes que ela acabe conosco?):
  • Com a falência de tantas instituições respeitáveis, como ter a necessária confiança no nosso Judiciário, que não pune a grande maioria dos crimes ou infrações, prende aqui e solta ali - não por haver policiais ruins, mas leis abstrusas e descumpridas? Tratamos assassinos de 16 anos como crianças de escola primária, nunca chamados de assassinos, mas de infratores. Conduzidos a uma utópica ressocialização, serão soltos em no máximo três anos, para cumprir seu desejo, anunciado por um rapazote de 15 anos apontando a arma para um amigo meu, que lhe perguntou por que fazia aquilo: "Hoje a gente tá a fim de matar alguém". Meu amigo não morreu porque na hora a arma falhou.
  • Como ainda acreditar em qualquer instituição, aliás, se na mais importante delas (o Supremo Tribunal Federal) um ministro decide soltar doze figurões condenados por crimes graves e comprovados, mas, no dia seguinte, arrependido, deixa todos na prisão, menos um - por acaso, o chamado "homem-bomba", do qual dizem que, "se ele explodir, o governo implode"?
  • Como ter esperança neste país dito civilizado, se o ensino é um dos itens mais esquecidos pelos governos e há milhares de crianças sem escola, outras tentando aprender sentadas no chão de terra batida onde também dormem porque a distância até sua casa é demasiada, com os donos da casa, professor e professora, preocupados porque ali tem "muita cobra e escorpião que são um perigo"? Como valorizar o estudo se pelo menos em uma das capitais grande parte das escolas públicas ainda não recebeu os livros escolares, estando nós já em junho, e em tantas outras pelo país faltam professores? Como entusiasmar os alunos pelo estudo, se a cada dia as coisas são mais facilitadas, e praticamente é preciso um esforço heroico para ser reprovado, pois considera-se que todos têm o mesmo direito a um diploma de ensino médio ou superior, tenham capacidade ou não, tenham se esforçado ou não?
  • Como ser saudável se nos postos de saúde e hospitais públicos falta tudo - menos médico, ou, se isso ocorre, é porque o profissional se desesperou com a impossibilidade de dar atendimento humano aos doentes -, desde água tratada até panos limpos, estetoscópio, aspirina, maca, luz elétrica, aparelhos básicos?
  • Como transportar nossos produtos se a estrutura rodoviária é lendariamente péssima? Como chegar ao trabalho se as greves, justas ou não, são nossa rotina diária? Como nos transportarmos a nós, se mulheres com crianças ao colo, velhos e frágeis caminham quilômetros até chegar em casa, exaustos depois de um dia de trabalho, ônibus são impedidos de rodar e líderes proferem palavras vazias?
  • Como confiar em autoridades desmoralizadas que solenemente bradam "Não toleraremos violência ou vandalismo", enquanto dezenas de veículos, lojas, agências bancárias e farmácias são destruídas nessa mesma hora? Onde ficaram seriedade e esperança?
  • Por que, neste país convulsionado por greves e manifestações constantes, surge essa oposição à Copa? São os gastos com arenas faraônicas contrastando com casebres, favelas, barracas de lona ou mesmo bancos de praça em que tantos vivem? O protesto de professores contra os jogadores da seleção brasileira na saída de um hotel no Rio, e na chegada à Granja Comary, com ameaça de outros mais, indica que não haverá trégua, durante a Copa e depois, para a indignação do povo a exigir soluções eternamente adiadas?

Senhora Esfinge, se houver respostas, a senhora estará devorada. Mas, se continuarmos ignorados e descrentes, seremos engolidos sem piedade pela nossa própria exausta indignação.

Fonte: Revista VEJA – Edição 2376 – Ano 47 – nº 23 – 4 de junho de 2014 – Pg. 22 – Edição impressa.

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