«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

O COLAPSO DA VELHA ORDEM [Imperdível!]

Robert Kaplan
Analista geopolítico da Stratfor*
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A crise da Ucrânia tem algo de conclusivo, ainda que convulsivo, e levou o mundo a acreditar que ingressamos em um novo capítulo das relações internacionais. Como outros comentaristas observaram, a velha ordem entrou em colapso. Na sua visão, velha ordem corresponde ao período outrora chamado pós-Guerra Fria.

É uma fórmula chocante, porque significa que todo o sangue derramado e todas as tragédias do Afeganistão e do Iraque não foram suficientes para assinalar uma nova fase da história, ao passo que os últimos meses na Ucrânia foram. Como é possível? É que os períodos históricos evoluem de maneira muito gradativa, ao longo de muitos anos – durante uma década de lutas no Oriente Médio, por exemplo –, enquanto é possível que só nos demos contra das mudanças mais tarde, de uma hora para outra, como ocorreu quando a Rússia anexou a Crimeia.

Gostaria de definir o que os outros entendiam por “velha ordem” e também onde acho que nos encontramos atualmente. Na Ásia, a velha ordem significava o predomínio naval americano, essencialmente um universo militar unipolar no qual os chineses estavam criando uma grande economia, mas não uma grande força militar, e os japoneses continuavam entrincheirados numa mentalidade semipacifista. A ordem pós-Guerra Fria, na realidade, começou a ruir somente cindo anos depois da queda do Muro de Berlim, em meados dos anos 90, quando o desenvolvimento naval chinês foi notado concretamente.

Nas duas últimas décadas, o poderio naval chinês foi crescendo sem cessar a ponto de a ordem militar unipolar americana ceder espaço a uma ordem multipolar, enquanto os japoneses, em resposta à ameaça chinesa, abandonavam aos poucos o semipacifismo e redescobriam o nacionalismo. Em suma, a velha ordem está desmoronando, embora só recentemente tenhamos notado isto. O recente impasse chinês-vietnamita, no Mar do Sul da China, só dá mais ênfase à questão.

No Oriente Médio, o pós-Guerra Fria significou que os americanos mantiveram o Iraque de Saddam Hussein sob controle, expulsando-o do Kuwait e, em seguida, asfixiando-o com uma zona de exclusão aérea. Por sua vez, o Iraque de Saddam contribuiu para manter sob controle o Irã dos mulás. As invasões americanas do Afeganistão e do Iraque, depois de 11 de setembro de 2001, e a posterior aceitação dos EUA [Estados Unidos da América] do impasse nas duas guerras, certamente minaram a credibilidade de Washington e permitiram que o Irã expandisse sua influência geopolítica.

Mas, enquanto a Marinha e a Força Aérea americanas estiverem no Mediterrâneo, no Mar da Arábia e em outros pontos não se deve brincar totalmente com o poderia americano. De fato, no Golfo Pérsico, cuja segurança é garantida pelo poderia naval dos EUA, o transporte de combustíveis sempre foi seguro e não chegou a ser afetado pelas guerras no Iraque e no Afeganistão.

Evidentemente, o colapso de Estados e de semi-Estados, como Síria, Líbia e Iêmen, enfraqueceu a influência americana nestes países, mas enfraqueceu também a influência das grandes potências em geral. No entanto, podemos dizer que enquanto a anarquia crescia com o passar dos anos nessa parte do mundo, a capacidade dos EUA de exercerem influência foi se reduzindo. O fim da velha ordem deu-se assim, em câmara lenta.

Na Europa, a velha ordem começou a deteriorar-se no final da década passada, com o início da crise fiscal da União Europeia. Mas, como a crise foi definida durante anos pela mídia como meramente econômica, era vista naturalmente como um evento econômico, não como geopolítico, como era de fato. Na realidade, a crise enfraqueceu a influência da EU [União Europeia] nos antigos países satélites da Europa Central e Oriental, permitindo que a Rússia, de Vladimir Putin, recuperasse sua posição na região. Moscou construiu e ampliou oleodutos, gasodutos e investiu em vários projetos de infraestrutura.

No entanto, a velha ordem persistiu. Afinal, a expansão da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e da UE nos antigos países satélites e nas três repúblicas do Báltico, a suposta independência da Bielo-Rússia e a emergência de Ucrânia e Moldávia como Estados-tampão fizeram com que a Rússia se deslocasse fisicamente para o leste e fosse contida.
Essa situação persistiu inicialmente por causa do governo fraco e caótico de Boris Ieltsin na Rússia. No entanto, as coisas começaram a mudar por volta do fim do milênio, com a posse de Putin, mais competente, e a Europa, que se tornou mais dependente do gás natural russo. A anexação da Crimeia, desencadeada pela queda do regime pró-russo em Kiev, assinalou ao mundo que a Rússia não estava mais sendo contida. Por isso, todos agora se dão conta de que a velha ordem na Europa acabou também.

A crise ucraniana foi simbólica porque, enquanto a ameaça chinesa na Ásia vem sendo notada há algum tempo e a instabilidade no Oriente Médio é considerada um dado de fato, a segurança europeia foi considerada ponto pacífico por muito tempo.

Então, o que substituiu ou substituirá a velha ordem? Alguns sugeriram um sistema de potências hegemônicas regionais: EUA, na América do Norte; Brasil, na América do Sul; Alemanha, na Europa; Rússia, na Eurásia; China, na Ásia; e assim por diante. O problema desse quadro é que ele significa igualdade entre as potências hegemônicas onde ela não existe. Também pressupõe que essas potências são estáveis, quando frequentemente não são.

No Brasil, há graves problemas institucionais e agitação social. A Rússia não dominará tanto assim os mercados de energia no futuro, mesmo que sua população decline. A Alemanha é muito dependente da economia e do setor energético russos para manter uma política externa eficiente. A China se apoia sobre uma enorme bolha do crédito, que é apenas uma das suas dificuldades estruturais e econômicas. Os EUA têm seus problemas: a crescente disparidade entre pobres e ricos e assim por diante.

Em outras palavras, é possível que algumas potências hegemônicas tropecem seriamente nos próximos anos, pois Rússia e China poderão testemunhar uma séria agitação social. É mais provável que a Rússia pós-Putin se torne mais anárquica do que democrática. O mesmo pode ocorrer com a China, se o Partido Comunista acabar enfraquecendo.
Robert David Kaplan

Embora os EUA possam ser, em sentido relativo, a potência hegemônica mais forte no futuro, sua capacidade de intervir nas crises mundiais poderá, apesar de tudo, diminuir. O poderio americano depende de uma autoridade central competente em outra parte do mundo. No entanto, se a autoridade central ceder para as democracias fracas e para a anarquia, onde na realidade inexiste governo, os EUA não terão para onde se voltar para exigir ação.

Além disso, há consideráveis evidências de que o povo americano se mostra mais hesitante em respaldar a segurança em países distantes do que durante a Guerra Fria, quando se viam numa batalha existencial contra uma ideologia rival.

As elites políticas não têm dificuldade de imaginar um mundo de potências hegemônicas rivais em substituição a um sistema americano de tipo imperial, porque até um mundo de rivais hegemônicos significa algum grau de ordem e organização reconhecível. Elas têm mais dificuldade de imaginar um mundo em que ninguém esteja suficientemente apto a governar, onde impera a indeterminação, onde a própria hierarquia entrou em colapso. Essa indeterminação anárquica, combinada com tecnologia pós-moderna, pode contribuir para definir o mundo que nos espera.

Traduzido do inglês por Anna Capovilla.

* Strategic Forecasting, Inc. , mais comumente conhecida como Stratfor, é uma empresa norte-americana de inteligência global fundada em 1996 em Austin, Texas, por George Friedman, que é o presidente da empresa. Shea Morenz é presidente e diretor executivo. Fred Burton é vice-presidente de inteligência da Stratfor e Robert D. Kaplan serve como analista-chefe de geopolítica. A Stratfor apresenta-se como uma empresa de inteligência e consultoria geopolíticas, com receitas provenientes de assinaturas de seu site e de clientes corporativos. Do lado da consultoria, a empresa diz que ajuda os clientes a identificar oportunidades, tomar decisões estratégicas e gestão dos riscos políticos e de segurança (Fonte: clique aqui).

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional/Visão Global – Domingo, 1 de junho de 2014 – Pg. A19 – Edição impressa.

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