O JOVEM QUE DESEJA LIMPAR OS MARES
Guilherme Justino
Proposta para recolher lixo plástico passa por
financiamento coletivo para levantar US$ 2 milhões
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Boyan Slat - jovem estudante holandês |
Por que
navegar pelos mares tirando lixo com embarcações poluentes se uma simples
barreira pode fazer o trabalho, aproveitando o próprio movimento dos oceanos?
Foi com uma pergunta assim que Boyan
Slat , um holandês de apenas 19 anos, criou um projeto que tem a ambição de
limpar os mares do planeta. O plano começa na região conhecida como Grande
Depósito de Lixo do Pacífico, onde se concentram milhares de toneladas de
plásticos.
Sem
apoio financeiro de governos ou aporte de instituições para tentar cumprir o
objetivo, Boyan criou a fundação The Ocean Cleanup, que agora tenta
arrecadar US$ 2 milhões por meio de financiamento coletivo – e já atingiu 37%
da meta. Concentrando-se no problema dos plásticos, causadores de transtornos à
vida de aves, mamíferos e peixes — que podem chegar à cadeia alimentar humana,
já que os animais acabam ingerindo substâncias tóxicas —, o jovem imaginou que
uma série de barreiras flutuantes seria capaz de aproveitar as correntes
oceânicas para bloquear o lixo encontrado nas águas. Todos esses detritos, de
difícil acesso para qualquer veículo aquático, seriam reunidos de forma
natural, permitindo uma extração posterior eficiente.
A
principal vantagem do método, segundo o jovem, está em permitir que os mares
sigam seu fluxo normal, sem trazer prejuízos à vida marinha e, ainda assim,
juntando o material indesejável em um único local para permitir sua retirada.
Em vez de ir até o plástico, as barreiras deixam que o plástico vá até elas e,
a partir dali, passe a receber um destino adequado. Com esse método, porém, só
é possível reunir o material que fica mais próximo da superfície, nos primeiros
3 metros de profundidade.
—
Infelizmente, o plástico não vai embora sozinho. Eu me perguntei: "por que
não podemos limpar isso tudo?". Então pensei que, ao distribuir um sistema
de longos "braços flutuantes" pelo mar, os oceanos poderiam
basicamente fazer a própria limpeza — explica Boyan.
As
primeiras doações, feitas a partir de abril de 2013, viabilizaram a criação da The Ocean Cleanup [trad.: Limpeza do Oceano] e os estudos iniciais
sobre o projeto, que contam com contribuições voluntárias de pesquisadores. Com
as etapas fundamentais concluídas, chegou a hora de colocar em prática. O
próximo passo é pôr em funcionamento uma plataforma-piloto para a realização de
testes em até quatro anos, antes da implementação total do projeto. A
arrecadação para essa nova etapa começou em 3 de junho, com o objetivo de obter
US$ 2 milhões em cem dias.
Em um
evento no início do mês em Nova York para apresentar a ideia, Boyan mostrou os resultados de um
estudo de viabilidade. Em 530 páginas, o relatório procura mostrar que o
conceito, divulgado pelo jovem desde o ano passado, consiste em um método
viável para a remoção de detritos da mancha de lixo entre o Havaí e a
Califórnia, onde correntes marinhas se encontram, concentrando toneladas de
plástico e outras substâncias poluentes.
Essa "ilha de lixo" fica distante
da costa, dificultando sua retirada e a responsabilização de algum país — já
que muitos são banhados pelo oceano e nenhum fica, de fato, encarregado da
área. Outro obstáculo para a limpeza dessa mancha é que as águas ali são pouco
transitadas pela navegação mercantil e turística, criando assim um problema que
incomoda principalmente ecologistas e cientistas. A placa de sujeira existe há
muitos e muitos anos, mas foi descoberta somente em 1997.
A
própria existência de depósitos involuntários de lixo como esse no oceano
dificulta uma solução. Uma expedição programada para 2012 fracassou por conta
de incidentes causados por detritos plásticos, e um explorador francês partiu
rumo ao desconhecido no ano seguinte apenas para entender o fenômeno. Na semana
passada, o chefe da diplomacia americana pediu o desenvolvimento de uma
estratégia global.
— Como
seres humanos, não há nada que compartilhemos tão completamente quanto o oceano
que cobre cerca de três quartos do nosso planeta, afirmou o secretário de
Estado americano, John Kerry, ao abrir uma conferência sobre o tema que reuniu
chefes de governo e ministros de 80 países.
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Boyan Slat, de 19 anos, criou um sistema que promete limpar metade do Oceano Pacífico em 10 anos Foto: The Ocean Cleanup Foundation / Divulgação |
"Acreditamos
que é possível"
Boyan Slat
mergulhava na Grécia quando viu mais plástico ao seu redor do que peixes.
Decidiu que limparia parte do Pacífico. Por telefone, falou a Zero Hora sobre a ideia.
Como você decidiu agir para combater a
poluição?
Boyan Slat: Tinha
16 anos quando percebi esse problema sobre a poluição por plásticos. Fiz um
projeto na escola e, a partir daí, isso saiu de controle, eu não consegui mais
parar de pensar no assunto.
Você ouviu pessoas dizerem que uma
solução assim seria impossível?
Boyan Slat: Percebi
que muitas pessoas mencionavam que era impossível, mas, ao mesmo tempo, não
havia qualquer pesquisa para provar essa afirmação, apenas gente dizendo que
não poderia ser feito. Decidi ver por mim mesmo, e desenvolvi esse conceito há
dois anos.
Quais são os maiores obstáculos para
pôr a ideia em prática?
Boyan Slat: Há um
ano e meio, tudo estava muito parado: não havia financiamento, apenas o
dinheiro do meu bolso. Foi um período difícil, mas, em março de 2013, o
conceito se tornou viral e passamos a receber apoio. Há alguns desafios óbvios,
como descobrir se a estrutura consegue suportar tempestades ou como mantê-la no
lugar. Esse tem sido nosso foco desde o ano passado.
Também
precisamos nos preocupar com o transporte (se o navio tem de ser registrado em
algum país específico, por exemplo), se isso não interferiria no tráfego
marítimo, e investigamos se o conceito não faria mesmo mal ao ambiente. O
destino dado ao plástico foi outra preocupação, e descobrimos que o material
pode ser transformado em óleo ou aproveitado em outros produtos. Tivemos muitos
desafios, mas identificamos os problemas, inclusive com a ajuda de críticos ao
projeto, e acreditamos que é possível colocar tudo em prática.
Assista a um vídeo de divulgação e explicativo, clicando aqui.
Fonte: Jornal ZERO HORA (Porto
Alegre, RS) – Tecnologia - 24/06/2014 – 06h02 – Internet: clique aqui.
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