Mercado de trabalho torto [Impressionante!]
Editorial
O mais
recente estudo do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) a partir de dados de seu Cadastro Central de Empresas (Cempre),
referentes a 2012, ajuda a dimensionar a imensa
presença do Estado na economia, demonstra o erro do processo de desindustrialização
em curso no País e comprova que a
estratégia de desenvolvimento que privilegia o consumo estimula setores que
geram emprego de baixa qualidade.
O Cempre reúne informações sobre todas as
empresas e organizações devidamente registradas no País, incluindo as das
diversas esferas de governo, além de pessoas físicas e entidades sem fins
lucrativos. Suas conclusões traçam, portanto, um perfil bastante abrangente do
estado do mercado de trabalho nacional - e revelam os erros causados pelo voluntarismo
estatal como política de empregos e salários.
Embora
responda por apenas 0,4% das organizações registradas no Cempre, a administração pública paga nada menos que
29,8% dos salários e outras remunerações de todo o Brasil. A distorção é
ainda mais clara quando se observa que os
servidores de carreira estável, além de ganharem mais que seus pares na
iniciativa privada, não correm risco de demissão, privilégio que a
sociedade é obrigada a bancar.
A média salarial dos empregos estatais
atingiu R$ 2.723,29, contra R$ 1.722,71 pagos pelas empresas privadas e R$
1.943,16 na média geral do País. O setor estatal concentra também o maior
porcentual de empregados com nível superior, saltando de 35,8% em 2009 para
41,3% em 2012. No mercado em geral, apenas 17,7% têm diploma universitário -
uma alta de 6% em relação a 2011, mas ainda assim muito inferior ao que se
verifica no serviço público.
O
estudo indica ainda que as organizações estatais, mesmo tendo baixa
participação, empregaram 17,2% do pessoal ocupado total e 19,9% do pessoal
ocupado assalariado. Isso significa que órgãos
e empresas do governo federal, dos Estados e dos municípios em geral são
grandes e generosos empregadores, um sintoma do gigantismo estatal no
Brasil.
Como
comparação, o setor de comércio (incluindo
"reparação de veículos automotores e motocicletas"), que aparece como o maior empregador pelo terceiro ano
consecutivo, responde por 41,8% das
empresas registradas, mas emprega
somente 22,2% do pessoal ocupado total e 19,1% do pessoal ocupado assalariado.
Já a indústria de transformação, que vem
definhando nos últimos anos, representa
apenas 8,4% das empresas, enquanto emprega
16,7% do pessoal ocupado total e 17,9% do pessoal ocupado assalariado.
Mesmo enfraquecido, portanto, o setor
ainda consegue empregar proporcionalmente mais que o comércio e paga salários
melhores - a participação da indústria na massa salarial é de 19,1%, contra
12,1% do varejo.
Mas
esse fôlego está claramente no fim, fruto de investimentos erráticos e da inexistência
de uma política industrial digna desse nome. Tal situação começa a condenar
a indústria de transformação a um papel menor na economia, sem que o processo
de industrialização tenha cumprido sua missão, qual seja, a de elevar a renda
per capita a um nível sustentável, como ocorreu nos países desenvolvidos,
fazendo florescer um robusto setor de serviços.
É nesse
cenário que declina o setor
manufatureiro e predominam as exportações de produtos primários [minérios,
produtos agrícolas e carnes]. Como sintoma desse fenômeno, o estudo do IBGE
mostra que foram justamente os salários da indústria
extrativa que tiveram o maior crescimento real entre 2008 e 2012, na casa
de 44,5%, contra 9,2% na indústria de transformação.
Outro
sinal evidente da desindustrialização é a baixa
geração de empregos no setor. Dos
7,8 milhões de novas vagas abertas entre 2008 e 2012, segundo o Cempre, quase metade (49,9%) se concentrou no
comércio, na construção e nas atividades administrativas e serviços
complementares. Já a indústria de transformação gerou apenas 4,3% do total,
a menor de todas as fatias.
Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e
Informações – Segunda-feira, 2 de junho de 2014 – Pg. A3 –
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