POR QUE O BRASILEIRO PAROU DE ACREDITAR?
O "MISTÉRIO" DESFEITO
Não conseguindo tapar o sol com peneira, mas tentando achar
uma sombra para se proteger dos seus raios, nos últimos tempos a presidente
Dilma Rousseff e o seu padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, deram de tratar
como um mistério insondável a "difusa inquietação" dos brasileiros
com tudo e mais alguma coisa. É bem verdade, concedem, que o País não está no
melhor dos mundos. Mas, apressam-se a reparar, o mundo lá fora também não está
uma maravilha, principalmente o chamado Primeiro Mundo, cujos problemas econômicos,
aliás, são a causa de nossa menos que perfeita situação.
Fechando o círculo, alegam que, ainda assim, as coisas estão
de longe melhores do que eram antes de serem eleitos e de resgatarem da pobreza
milhões de brasileiros. Em suma, o pessimismo que paira sobre o País como uma
nuvem disforme não tem causas reais, objetivas, mensuráveis. Vai ver, acusa
Lula, é coisa insuflada pela mídia, no seu papel de partido de oposição e no
afã de ver o relógio da história andar para trás, com a tomada do poder pelas
forças que pregam abertamente a adoção de "medidas impopulares". Pena
que os descontentes os desmintam quando se lhes pede para dizer o que pensam,
sem lhes perguntar como votariam se a eleição fosse hoje.
Foi o que fez o respeitado Pew Research Center, um dos
principais institutos de pesquisa dos Estados Unidos, que a partir de 2010 tem
tomado o pulso das populações de 82 países, entre eles o Brasil. A mais recente
sondagem que a entidade realizou no País ouviu 1.003 pessoas entre 10 e 30 de
abril. O resultado espantou os próprios patrocinadores do levantamento. "O
nível de frustração expressado pelos brasileiros em relação à direção de seu
país, sua economia e seus líderes não tem paralelo em anos recentes",
afirma o Pew. Foi como se o Brasil tivesse passado por uma crise ou ruptura
institucional, a exemplo do Egito, comenta Juliana Horowitz, a responsável pelo
trabalho.
O núcleo da mudança, que dá origem à comparação, foi a
multiplicação dos insatisfeitos com a situação do Brasil. No ano passado, eram
55% dos entrevistados, praticamente o mesmo índice de 2012 (nos primeiros meses
do governo Dilma, eram 46%). São agora 72%, grosso modo 3 em 4 brasileiros. De
"difuso", o descontentamento não tem nada. As pessoas estão zangadas
- e sabem perfeitamente com o que:
- Com o estado "ruim" da economia, para começar, responderam 67% (ante 36% em abril de 2013).
- Ou, trocando em miúdos, com a inflação. A carestia foi citada como o maior problema do País por 85% dos ouvidos
- superando a criminalidade e o atendimento médico (83%).
- E surpreendentes 72% destacaram a falta de empregos.
- Em face da corrupção, por exemplo, Dilma foi criticada por 86% da amostra.
- Ela também foi reprovada no quesito "preparação para a Copa do Mundo", por 2 em cada 3 entrevistados. O público condena a própria "Copa das Copas" que a presidente prevê com temerário otimismo.
- O torneio é "ruim" para o Brasil, julgam 61% das pessoas, porque "tira dinheiro dos serviços públicos".
- Metade desse contingente (32%) discorda, porque a Copa "cria empregos". No "país do futebol" é pouco torcedor.
- 51% disseram ter uma opinião favorável sobre ela;
- 49%, o contrário. (A margem de erro do levantamento é de 3,8 pontos.)
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