2º Domingo da Páscoa – Ano A – Homilia
Evangelho: João 20,19-31
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a narração do Evangelho deste Domingo:
Johan Konings
Biblista
e Teólogo jesuíta belga radicado no Brasil
A Igreja prolonga a missão
de Cristo
Os domingos depois da Páscoa
trazem, sobretudo nos evangelhos, o “material pascal”, as aparições de Jesus
ressuscitado. Nesta coleção situa-se também Jo 20,19-31. A liturgia até
conserva um certo realismo histórico, pois a segunda metade desta leitura situa-se
“oito dias depois”, isto é, no segundo domingo depois da morte de Cristo
(Jo 20,26). Quando se trata de estabelecer um relacionamento com a Primeira
Leitura, pode pensar no tema “reunião”. Mais evidente, porém, é o laço com a
Segunda Leitura: crer sem ver (Jo 20,29; cf. 1Pd 1,8).
O presente evangelho é a conclusão
do Evangelho de João, sobretudo os últimos versículos (vv. 30-31). Pois o
capítulo 21 de João é um apêndice, que não pertence à concepção original do
Evangelho, embora seja um texto inspirado, exatamente como o resto. Portanto,
devemos considerar Jo 20,19-31 como contraparte do começo do Evangelho.
Encontramos, de fato, o tema da revelação divina em Jesus (Jo 20,28; cf.
1,14ss.18), da fé e da vida (20,30-31; cf. 1,12-13), temas que marcam
também o elo central do quarto Evangelho (Jo 12,37-50).
A narrativa apresenta-se como um paralelismo,
vejamos:
João menciona que as portas
estavam fechadas por medo dos judeus, um motivo bem joanino (cf. 7,13;
19,38), refletindo talvez a situação dos cristãos no fim do primeiro século:
perseguição, exclusão da sinagoga etc. (cf. 9,22; 12,42-43). A alegria que os
discípulos sentem é devido ao encontro com Jesus, que aqui (e sempre
depois da Ressurreição, em João) é chamado “Senhor” (cf.
20,2.13.15.18.20.25.28).
O dom do Espírito Santo faz parte
da realização das promessas da Despedida. João desconhece a separação
temporal da Ressurreição do dom do Espírito, característica de Lucas (Lc
24,49; At 1,4; 2,1ss). Na concepção de João, o dom do Espírito depende somente
do exercício do senhorio de Jesus, isto é, da sua glorificação,
que coincide com a “morte-ressurreição”, a “exaltação” de Jesus. Aqui mostra-se
o sentido profundo de chamar o Jesus ressuscitado de “Senhor”. A ressurreição é
exercício do senhorio de Jesus.
O dom do Espírito é uma missão
para os que o recebem, prolongamento da própria missão de Jesus (v. 22,
cf. 17,18). Os discípulos terão a missão de tirar o pecado do mundo, exatamente
como Jesus (cf. 1,29.36). Isto não significa que poderão julgar
arbitrariamente. Significa que eles têm o poder de santificação pelo Espírito
Renovador.
Considerando a analogia entre a
missão dos discípulos e a de Cristo (explicitamente v. 22) e a simetria entre o
começo e o fim do evangelho, podemos dizer que agora já não é só Jesus “aquele
que batiza no Espírito Santo” (1,33) e “tira o pecado do mundo” (1,29.36), mas
que esta missão é confiada, com eficácia divina, à comunidade da Igreja.
[...]
José María Castillo
Teólogo
espanhol
Deus entra pelos sentidos
A situação do apóstolo Tomé, que
descreve este evangelho, é a situação de tantas pessoas que, como aquele
apóstolo, ao referir-se às coisas de Deus, da Religião, dizem o que ele disse: “se
não ver, não creio”. Não é um problema sem importância. No final das
contas, todos nós aprendemos por meio dos sentidos: pelo que vemos, ouvimos,
tocamos, sentimos.
Por isso, todo o “sobrenatural”,
que não está ao alcance dos sentidos, traz-nos um problema. Sobretudo, se
trata-se de algo que não é demonstrável mediante argumentos ou razões que se
possam justificar a partir do sensível.
Os sinais sensíveis do Ressuscitado
são chagas de dor e sofrimento, que se podem ver e tocar. Porém, não
somente isso. Ademais, são sinais de dor e sofrimento nos quais há vida. As
chagas de Jesus, sendo chagas de morte, se palpavam em um ser vivente. Isso,
justamente, é o que Tomé viu e apalpou. E isso é o que lhe levou a reconhecer em
Jesus o seu Senhor e seu Deus.
Deus entra pelos sentidos. Quando
nossos sentidos veem e apalpam dor e sofrimento, chagas e cicatrizes de morte.
Porém, nas que não há morte, mas vida, esperança, futuro. É
importante aplicar isso a nossas vidas e à nossa Igreja:
* O que
mostramos como evidência de que o que é Jesus é verdadeiro?
* Pode-se
apalpar em nós chagas e cicatrizes com vida e com esperança?
* E a
Igreja? O que ensina? Chagas de dor e cicatrizes de sofrimento? Ou ensina, pelo
contrário, luxo, pompa e ostentação?
Aquilo que mais prejudica a causa de Jesus é ir
pela vida ostentando poder, riqueza, privilégios, importância, ostentação (qualquer
que seja), não a dor de Jesus.
Por último, convém advertir que o
evangelho não apresenta Tomé colocando o dedo nas feridas de Jesus, nem sequer
tocando-as. Ver as feridas basta para que Tomé faça seu ato de fé (Jo
20,27-28). A bênção final, que se expressa no relato, é para aqueles
que creem simplesmente sobre a base do testemunho apostólico, sem haver
visto por si mesmos (Jo, 20,29).
O Evangelho é a melhor mensagem
para aqueles que fazem nosso ato de fé na força da vida, que vence a morte,
porque cremos na vida, no futuro da vida para sempre, inclusive, sem haver
visto, nem tocado, no “Eterno Vivente”, Jesus.
Traduzido do espanhol por Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo.
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