Vigília Pascal na Noite Santa – Homilia

Evangelho: Mateus 28,1-10

1 Depois do sábado, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro.
2 De repente, houve um grande tremor de terra: o anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, retirou a pedra e sentou-se nela.
3 Sua aparência era como um relâmpago, e suas vestes eram brancas como a neve.
4 Os guardas ficaram com tanto medo do anjo, que tremeram, e ficaram como mortos.
5 Então o anjo disse às mulheres: «Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado.
6 Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito! Vinde ver o lugar em que ele estava.
7 Ide depressa contar aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos, e que vai à vossa frente para a Galileia. Lá vós o vereis. É o que tenho a dizer-vos.»
8 As mulheres partiram depressa do sepulcro. Estavam com medo, mas correram com grande alegria, para dar a notícia aos discípulos.
9 De repente, Jesus foi ao encontro delas, e disse: «Alegrai-vos!» As mulheres aproximaram-se, e prostraram-se diante de Jesus, abraçando seus pés.
10 Então Jesus disse a elas: «Não tenhais medo. Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão.»
 Jesus Ressuscitado – Igreja da Pompeia
José María Castillo
Teólogo espanhol

A vida é mais forte!

A ressurreição significa que Jesus é o grande argumento, que o cristianismo oferece à humanidade, para mostrar que a vida é mais forte que a morte. O Ressuscitado nos diz, segundo a fé dos cristãos, que, além de todas as evidências que se nos impõem, a morte não tem a última palavra no destino dos humanos. Não estamos destinados ao fracasso e à corrupção, mas à vida e à felicidade.

A ressurreição não é o retorno de Jesus a esta vida. Jesus não volta mais a esta terra, nem entre de novo na história humana, nem o que acontece é que Jesus «revive». Não. Jesus «ressuscita». Isto é, transcende o espaço e o tempo. Por isso, transcende as condições d’«esta vida». E, assim, inaugura as condições de «outra vida».

Nada sabemos, nem podemos saber, do que é ou como é essa nova vida. A única coisa que podemos dizer é que se trata da «plenitude da vida». Ou seja, é uma vida sem limitações e que, portanto, preenche todos os anseios de vida que os humanos sentem, ainda que nem sempre nos damos conta que tais anseios estão em nós.

Tudo isso quer dizer, obviamente, que a ressurreição não é um «acontecimento histórico», mas que é uma realidade que se situa «além da história». A ressurreição aconteceu. Como é lógico, isso não é conhecível pela razão ou pelos sentidos. Isto somente é alcançável pela fé. É, portanto, algo exposto sempre à obscuridade, à dúvida, aos sentimentos de insegurança. Por isso, a fé na ressurreição (a de Jesus e a nossa) é o cume da fé cristã.
Assembléia de Deus Madureira - Estiva Gerbi: EBD - O ministério de ...
José Antonio Pagola
Biblista e teólogo espanhol

É preciso voltar para a Galileia

Os evangelhos recolheram a recordação de umas mulheres admiráveis que, ao amanhecer do sábado, aproximaram-se do sepulcro onde foi enterrado Jesus. Não conseguem esquecê-lo. Continuam amando-0 mais que tudo. Enquanto isso, os homens fugiram e permanecem, talvez, escondidos.

A mensagem que escutam ao chegar ao túmulo é de uma importância excepcional. O evangelho mais antigo diz assim: «Procurais Jesus de Nazaré, o crucificado? Não está aqui. Ressuscitou.» É um erro buscar Jesus no mundo da morte. Está vivo para sempre. Jamais o encontraremos onde a vida esteja morta.

Não podemos esquecer. Se desejarmos encontrar com Cristo ressuscitado, cheio de vida e força criadora, não devemos buscá-lo numa religião morta, reduzida ao cumprimento externo de preceitos e ritos rotineiros, ou numa fé apagada que se sustenta em tópicos ou fórmulas gastas, vazias de amor vivo a Jesus.

Então, onde podemos encontrá-l0? As mulheres recebem esta tarefa: «Agora, ide dizer a seus discípulos e a Pedro: Ele vai adiante de vós para a Galileia. Ali o vereis». Por que se deve voltar para a Galileia para ver o Ressuscitado? Que sentido profundo se encerra neste convite? O que ele diz aos cristãos de hoje?

Na Galileia escutou-se, pela primeira vez e com toda a pureza, a Boa Notícia de Deus e o projeto humanizador do Pai. Se não voltarmos a escutá-lo hoje com o coração simples e aberto, nos alimentaremos de doutrinas veneráveis, porém não conheceremos a alegria do Evangelho de Jesus, capaz de “ressuscitar” nossa fé.

Às margens do lago da Galileia, Jesus começou a chamar seus primeiros seguidores para ensinar-lhes a viver com seu estilo de vida, a colaborar com ele na grande tarefa de tornar a vida mais humana. Hoje, Jesus continua chamando. Se não ouvimos seu chamado e ele não “for adiante de nós”, para onde se dirigirá o cristianismo?

Pelos caminhos da Galileia foi se gestando a primeira comunidade de Jesus. Seus seguidores vivem junto com ele uma experiência única. Sua presença preenche tudo. Ele é o centro. Com ele aprendem a viver acolhendo, perdoando, curando a vida e despertando a confiança no amor insondável de Deus.

Se não colocarmos, o quanto antes, Jesus no centro de nossas comunidades,
jamais experimentaremos sua presença em nosso meio.

Se voltarmos para a Galileia, a “presença invisível” de Jesus ressuscitado adquirirá traços humanos ao ler os relatos evangélicos, e sua “presença silenciosa” recobrará voz concreta ao escutar suas palavras de estímulo.

Voltemos para a Galileia a fim de vermos Jesus Ressuscitado!

Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fontes: CASTILLO, José María. La religión de Jesús: Comentario al evangelio diario 2020. Bilbao: Desclée De Brouwer, 2019, páginas 136-137; e PAGOLA, José Antonio. La Buena Noticia de Jesús – Ciclo A. Boadilla del Monte (Madrid): PPC, 2016, páginas 95-97.

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