Papa Francisco entrevistado
“O
que eu peço às pessoas é que levem os idosos e os jovens sob suas asas, que
levem a história sob suas asas, as pessoas carentes sob suas asas”
Austen Ivereigh
The
Tablet
07-04-2020
Em uma entrevista exclusiva ao The Tablet – a
sua primeira para uma publicação britânica – Papa Francisco fala que essa
extraordinária Quaresma e Tempo Pascal pode ser um momento de criatividade e
conversão para a Igreja, para o mundo e para toda a criação
PAPA FRANCISCO Ora diante do crucifixo da igreja de San Marcello al Corso, Roma Bênção Urbi et Orbi, 27 de março de 2020 |
Próximo ao
final de março, sugeri ao Papa Francisco que este poderia ser um bom momento
para se dirigir ao mundo da língua inglesa: a pandemia que tanto afetou a
Itália e a Espanha estava chegando ao Reino Unido, aos Estados Unidos e à
Austrália. Sem compromisso com nada, ele me pediu para que lhe enviasse
algumas questões. Eu escolhi seis temas, cada um com uma série de questões
que ele poderia responder ou não, conforme ele quisesse. Uma semana depois,
recebi o comunicado de que ele escreveu algumas reflexões em resposta às
questões.
A entrevista
é de Austen Ivereigh, autor da biografia do Papa Francisco, intitulada,
em português, “O Grande Reformador”.
A
entrevista também é publicada por Commonweal, Estados Unidos, e pelo
jornal ABC, Espanha.
Eis a
entrevista.
A
primeira questão foi sobre como ele estava vivenciando a pandemia e o lockdown,
ambos na residência Santa Marta e na administração do Vaticano (“a Cúria”),
mais amplamente, tanto na prática quanto na espiritualidade.
Papa
Francisco: A Cúria está tentando fazer o seu trabalho, e vive
normalmente, se organizando em escalas, para que não estejam todos presentes ao
mesmo tempo. Isso tem funcionado bem. Nós estamos aplicando as medidas
recomendadas pelas autoridades de saúde. Aqui na residência Santa Marta nós
temos duas escalas para as refeições, o que nos ajuda a amenizar o impacto.
Todos trabalham em seus escritórios ou salas, usando a tecnologia. Todos estão
trabalhando; não há infectados aqui.
Como eu
estou vivendo a espiritualidade? Eu estou rezando mais, porque eu sinto que
devo. E eu penso no povo. Isso é o que me preocupa: o povo. Pensando
no povo, isso me faz bem, isso tira a preocupação de mim. Claro, eu tenho
minhas áreas de egoísmo. Nas terças-feiras meu confessor vem, e cuido dessas
coisas.
Eu penso
nas minhas responsabilidades de agora e o que virá depois. O que
será do meu serviço como bispo de Roma, como chefe da Igreja, depois disso? O depois
já está começando a ser revelado como trágico e doloroso, é por isso que
nós precisamos pensar sobre isso já. O Dicastério para o Serviço do
Desenvolvimento Humano Integral vem trabalhando nisso, e está se reunindo
comigo.
Minha maior
preocupação – ao menos o que vem através da minha oração – é como acompanhar
e estar próximo do povo de Deus. É devido a isso o streaming ao vivo
da missa às 7h da manhã, celebrada todos os dias, que está sendo apreciado e
seguido por muitas pessoas, assim como a benção do dia 27 de março na Praça São
Pedro. Por isso, também, que as atividades de caridade da Esmolaria Apostólica
atendem aos doentes e aos famintos.
Eu estou
vivendo este como um tempo de grande incerteza. Este é o tempo para
inventar, para a criatividade.
Foto da capa de uma das edições em língua portuguesa do romance citado na entrevista |
Na
segunda questão, eu referenciei uma novela do século XIX, muito querida pelo Papa
Francisco, a qual ele recentemente mencionou: I Promessi Sposi (Os
noivos), de Alessandro Manzoni. A novela centra-se sobre a praga de Milão em
1630. Aqui estão vários personagens clericais: o covarde dom Abbondio, o santo
cardeal Borromeo e os frei capuchinhos que servem aos lazarentos, em uma
espécie de hospital de campanha, no qual os infectados estão rigorosamente
longe dos saudáveis. Sob a luz da novela, como o Papa Francisco vê a missão da
Igreja no contexto da covid-19?
Papa
Francisco: O cardeal Federico Borromeo realmente é um herói da praga de
Milão. Porém, em um dos capítulos, ele saúda a cidade, mas com a janela da
carruagem fechada para proteger a si mesmo. Ele não se sai bem com o povo. O
povo de Deus precisa do seu pastor próximo a eles, não superprotegendo a si
mesmo. O povo de Deus necessita dos seus pastores fazendo autosacrifício,
como os Capuchinhos, estando próximos.
A
criatividade dos cristãos precisa mostrar novos horizontes, abrindo as janelas,
abrindo a transcendência em direção a Deus e ao povo e criando novas formas de
estar em casa. Não é fácil estar confinado na sua casa. O que me vem à mente é
um verso de Eneida em meio à derrota: o conselho é não desistir, mas salvar
a si mesmo para os tempos melhores, por isso relembrar o que aconteceu
naqueles tempos nos ajudará. Cuidem-se para um futuro que virá. E lembrar no
futuro o que aconteceu fará bem a você.
Cuide do
agora, pelo bem de amanhã. Sempre criativamente, com uma criatividade simples,
capaz de inventar algo novo a cada dia. Dentro de casa, isso não é difícil de
descobrir, mas não fuja, não se refugie no escapismo, que neste momento
não é útil para você.
Minha
terceira questão foi sobre políticas governamentais em resposta à crise. Embora
a quarentena da população seja um sinal de que alguns governos estão dispostos
a sacrificar o bem-estar econômico em benefício das pessoas vulneráveis, sugeri
que também estivesse expondo níveis de exclusão considerados normais e
aceitáveis até agora.
Papa
Francisco: É verdade que vários governos adotaram medidas exemplares
para defender a população com base em prioridades claras. Mas estamos
percebendo que todo o nosso pensamento, goste ou não, foi moldado em torno da
economia. No mundo das finanças, parecia normal sacrificar [pessoas],
praticar uma política da cultura descartável, do começo ao fim da vida. Estou
pensando, por exemplo, na seleção pré-natal. Hoje em dia, é muito incomum
conhecer pessoas com Síndrome de Down nas ruas; quando o tomógrafo os detecta,
eles são descartados. É uma cultura de eutanásia, legal ou secreta, na
qual os idosos estão recebendo medicamentos, mas só até certo ponto.
O que vem à
mente é a encíclica Humanae Vitae do papa Paulo VI. A grande controvérsia
da época era sobre a pílula [contraceptiva], mas o que as pessoas não percebiam
era a força profética da encíclica, que previa o neomalthusianismo que
estava começando a acontecer em todo o mundo. Paulo VI soou o alarme sobre
essa onda de neomalthusianismo. Vemos isso na maneira como as pessoas são
selecionadas de acordo com sua utilidade ou produtividade: a cultura do
descarte.
Agora
mesmo, os sem-teto continuam sem-teto. Uma foto apareceu no outro dia de
um estacionamento em Las Vegas, onde eles foram colocados em quarentena. E os
hotéis estavam vazios. Mas os sem-teto não podem ir a um hotel. Essa é a
cultura do descarte na prática.
AUSTRÁLIA Em chamas no final do ano passado |
Fiquei
curioso para saber se o Papa viu a crise e a devastação econômica como uma
chance de uma conversão ecológica, de reavaliar prioridades e estilos de vida.
Perguntei-lhe concretamente se era possível ver no futuro uma economia que –
para usar suas palavras – era mais “humana” e menos “líquida”.
Papa
Francisco: Há uma expressão em espanhol: “Deus sempre perdoa, nós
perdoamos às vezes, mas a natureza nunca perdoa”. Não respondemos às
catástrofes parciais. Quem agora fala dos incêndios na Austrália, ou lembra
que há 18 meses um barco poderia atravessar o Polo Norte porque todas as
geleiras haviam derretido? Quem fala agora das inundações? Não sei se é a
vingança da natureza, mas certamente são as respostas da natureza.
Temos uma
memória seletiva. Eu quero me debruçar sobre este ponto. Fiquei
impressionado com a comemoração do septuagésimo aniversário do desembarque na
Normandia, com a presença de pessoas dos mais altos níveis de cultura e
política. Foi uma grande festa. É verdade que marcou o início do fim da
ditadura, mas ninguém parecia se lembrar dos 10 mil jovens que permaneceram
naquela praia.
Quando fui
a Redipuglia, pelo centenário da Primeira Guerra Mundial, vi um belo monumento
e nomes em uma pedra, mas foi isso. Eu chorei, pensando na frase de Bento XV: inutile
strage (“massacre sem sentido”). O mesmo aconteceu comigo em Anzio no Dia
de Finados, pensando em todos os soldados norte-americanos enterrados lá, cada
um deles com uma família e como qualquer um deles poderia ter sido eu.
Neste
momento na Europa, quando começamos a ouvir discursos populistas e testemunhar
decisões políticas desse tipo seletivo, é muito fácil lembrar os discursos
de Hitler em 1933, que não eram tão diferentes dos discursos de alguns
políticos europeus atualmente.
O que vem à
mente é outro versículo de Virgílio: [forsan et haec olim] meminisse
iubavit [“talvez um dia seja bom lembrar dessas coisas”]. Precisamos
recuperar nossa memória porque a memória virá em nosso auxílio. Não é a
primeira praga da humanidade, as outras tornaram-se meras anedotas. Nós
precisamos lembrar de nossas raízes, de nossa tradição repleta de memórias.
Nos exercícios espirituais de Santo Inácio, na Primeira Semana, bem como na
“Contemplação para alcançar o Amor”, na quarta semana, são completamente
lembrados. É uma conversão através da memória.
Essa crise
está afetando a todos nós, ricos e pobres, e colocando em foco a hipocrisia.
Estou preocupado com a hipocrisia de certas personalidades políticas que
falam em enfrentar a crise, no problema da fome no mundo, mas que, entretanto,
fabricam armas. Este é um momento para ser convertido a partir desse tipo de
hipocrisia funcional. É hora de integridade. Ou somos coerentes com nossas
crenças ou perdemos tudo.
Você me
pergunta sobre conversão. Toda crise contém perigo e oportunidade: a
oportunidade de sair do perigo. Hoje acredito que temos que diminuir nossa
taxa de produção e consumo (Laudato Si’, 191) e aprender a entender
e contemplar o mundo natural. Precisamos nos reconectar com nosso ambiente
real. Esta é a oportunidade de conversão.
Sim, vejo
sinais precoces de uma economia menos líquida, mais humana. Mas não vamos
perder nossa memória depois que tudo isso tiver passado, não vamos arquivá-la e
voltar para onde estávamos. Este é o momento de dar o passo decisivo, de
passar do uso e mau uso da natureza para a contemplação. Perdemos a
dimensão contemplativa; temos que recuperá-la neste momento.
E por falar
em contemplação, gostaria de me debruçar sobre um ponto. Este é o momento de
olhar para os pobres. Jesus diz que sempre teremos os pobres conosco, e é
verdade. Eles são uma realidade que não podemos negar. Mas os pobres estão
escondidos, porque a pobreza é tímida. Recentemente, em Roma, no meio da
quarentena, um policial disse a um homem: “Você não pode estar na rua, vá
para casa”. A resposta foi: “Não tenho casa. Eu moro na rua”. Descobrir
o enorme número de pessoas que estão à margem. E não as vemos, porque a
pobreza é tímida. Eles estão lá, mas nós não os vemos: eles se tornaram
parte da paisagem; são coisas.
Santa
Teresa de Calcutá os viu e teve a coragem de embarcar em uma jornada de
conversão. “Ver os pobres” significa restaurar sua humanidade. Eles não
são coisas, não são descartáveis; eles são pessoas. Não podemos
nos contentar com uma política de bem-estar como a que temos para animais
resgatados. Muitas vezes tratamos os pobres como animais resgatados. Não
podemos nos contentar com uma política de bem-estar parcial.
Vou me
atrever a oferecer alguns conselhos. Este é o momento de ir ao subterrâneo.
Estou pensando no romance curto de Dostoiévski, Memórias do Subsolo. Os
funcionários daquele hospital prisional ficaram tão acostumados que tratavam
seus pobres presos como coisas. E, vendo a forma como era tratado alguém que
acabara de morrer, o que estava na cama ao lado lhes diz: “Basta! Ele também
teve uma mãe!”. Precisamos dizer isso a nós mesmos com frequência: aquela
pobre pessoa teve uma mãe que o criou com amor. Ao decorrer da vida não sabemos
o que acontece. Mas é bom pensar no amor que ele recebeu pela esperança de sua
mãe.
Nós
desempoderamos os pobres. Não lhes damos o direito de sonhar com suas mães. Eles
não sabem o que é carinho; muitos vivem das drogas. E vê-los pode nos
ajudar a descobrir a piedade, as “pietás”, que apontam para Deus e para
o próximo.
"PIETÀ" - retratando Maria segurando o corpo de Jesus Famosa escultura em mármore do artista italiano Michelangelo (1499) Basílica de São Pedro - Vaticano |
Desçamos ao
subterrâneo e passemos do mundo hipervirtual e sem carne para o sofrimento
da carne dos pobres. Esta é a conversão que temos que passar. E se não
começarmos por aí, não haverá conversão.
Hoje estou
pensando nos santos que moram ao lado. Eles são heróis: médicos, voluntários,
irmãs religiosas, padres, lojistas – todos cumprindo seu dever para que a
sociedade possa continuar funcionando. Quantos médicos e enfermeiros
morreram! Quantas irmãs religiosas morreram! Todos servindo. O que me vem à
mente é algo dito pelo alfaiate, na minha opinião, um dos personagens com maior
integridade em Os noivos. Ele diz: “O Senhor não deixa seus milagres
pela metade”. Se tomarmos consciência desse milagre dos santos da porta ao
lado, se pudermos seguir seus rastros, o milagre terminará bem, para o bem de
todos. Deus não deixa as coisas pela metade. Somos nós que fazemos isso.
O que
estamos vivendo agora é um lugar de metanoia (conversão), e temos
a chance de começar. Então, não vamos deixar escapar isso, e vamos seguir em
frente.
Minha
quinta questão é centrada nos efeitos da crise sobre a Igreja e a necessidade
de repensar nossas formas de operar. Ele vê emergir uma Igreja mais
missionária, mais criativa, menos preocupada com as instituições, a partir
disso? Estamos vendo uma nova forma de “Igreja nas casas”?
Papa Francisco: Menos
apegado às instituições? Eu diria menos apegado a certas maneiras de pensar.
Porque a Igreja é instituição. A tentação é sonhar com uma igreja
desinstitucionalizada, uma igreja gnóstica sem instituições ou sujeita a
instituições fixas, que seria uma igreja pelagiana. Quem faz a Igreja é o
Espírito Santo, que não é gnóstico, nem pelagiano. É o Espírito Santo que
institucionaliza a Igreja, de uma maneira alternativa e complementar, porque o
Espírito Santo provoca desordem através dos carismas, mas daí a desordem cria
harmonia.
Uma igreja
que é livre não é uma igreja anárquica, porque a liberdade é um presente de
Deus. Uma igreja institucional significa uma igreja institucionalizada pelo
Espírito Santo.
Uma tensão
entre desordem e harmonia: esta é a Igreja que deve sair da crise. Temos que
aprender a viver em uma igreja que existe na tensão entre harmonia e desordem
provocada pelo Espírito Santo. Se você me perguntar qual livro de teologia pode
melhor ajudá-lo a entender isso, seriam os Atos dos Apóstolos. Lá
você verá como o Espírito Santo desinstitucionaliza o que não é mais útil e
institucionaliza o futuro da Igreja. Essa é a Igreja que precisa sair da
crise.
Cerca de
uma semana atrás, um bispo italiano, um tanto perturbado, me ligou. Ele andava
pelos hospitais querendo dar absolvição àqueles dentro das enfermarias do
corredor do hospital. Mas ele conversou com advogados canônicos que lhe
disseram que não, que a absolvição só poderia ser dada em contato direto. “O
que você acha, padre?”, me perguntou. Eu disse a ele: “Bispo, cumpra seu
dever sacerdotal”. E o bispo disse “Grazie, ho capito” (“Obrigado,
eu entendi”). Descobri depois que ele estava dando absolvição por todo lugar.
Esta é a liberdade
do Espírito no meio de uma crise, não uma Igreja fechada em instituições.
Isso não significa que o direito canônico não seja importante: é, ajuda e, por
favor, façamos bom uso dele, é para o nosso bem. Mas o cânone final diz que
toda a lei canônica é para a salvação das almas, e é isso que abre a porta
para sairmos em momentos de dificuldade para trazer o consolo de Deus.
Você me
pergunta sobre uma “igreja local”. Temos que responder ao nosso confinamento
com toda a nossa criatividade. Podemos ficar deprimidos e alienados –
através da mídia que pode nos tirar da realidade – ou podemos ser criativos. Em
casa, precisamos de uma criatividade apostólica, uma criatividade
despida de tantas coisas inúteis, mas com um desejo de expressar nossa fé na comunidade,
como povo de Deus. Então: estar preso, mas ansioso, com aquela memória que
anseia e gera esperança – é isso que nos ajudará a escapar de nosso
confinamento.
Por
fim, pergunto ao Papa Francisco como está sendo o chamado para viver essa
Quaresma e Tempo Pascal extraordinários. Perguntei se ele tinha uma mensagem
particular aos idosos que estão sofrendo com o autoisolamento, para os jovens
confinados, e para aqueles que encaram a pobreza como resultado da crise.
Papa
Francisco: Você fala dos idosos isolados: solidão e distância. Quantos
idosos existem cujos filhos não vão visitá-los em tempos normais! Lembro-me
de Buenos Aires, quando visitava as casas de idosos, e perguntava: como está
sua família? Bem, bem! Eles vêm? Sim, sempre! Então a enfermeira me chamava de
lado e dizia que os filhos não os viam há seis meses. Solidão e abandono...
distância.
No entanto,
os idosos continuam a ser nossas raízes. E eles devem falar com os
jovens. Essa tensão entre jovens e idosos deve sempre ser resolvida no encontro
entre si. Porque o jovem é broto e folhagem, mas sem raízes, não pode dar
frutos. Os idosos são as raízes. Hoje eu diria a eles: sei que sentem que a
morte está próxima e têm medo, mas procurem outro lugar, lembrem-se de seus
filhos e não parem de sonhar. É isso que Deus pede de vocês: sonhar (Joel
3,1).
O que eu
diria aos jovens? Tenha a coragem de olhar para o futuro e ser profético.
Que os sonhos dos velhos correspondam às suas profecias - também Joel 3,1.
Aqueles que
foram empobrecidos pela crise estão hoje desprovidos, são
adicionados como mais um número de desprovidos de todos os tempos, homens e
mulheres cujo status é “desprovido”. Eles perderam tudo ou vão perder tudo. Que
significado a miséria tem para mim, à luz do Evangelho? Significa entrar no
mundo dos necessitados, entender que quem já teve, não o tem mais. O que eu
peço às pessoas é que levem os idosos e os jovens sob suas asas,
que levem a história sob suas asas, as pessoas carentes sob suas
asas.
O que vem à
mente agora é outro verso de Virgílio, no final do Livro 2 da Eneida,
quando Eneias, após a derrota em Troia, perdeu tudo. Dois caminhos estão diante
dele: permanecer ali para chorar e acabar com sua vida, ou seguir o que estava
em seu coração, subir a montanha e deixar a guerra para trás. É um verso
bonito: Cessi, et sublato montem genitore petivi (“Dei lugar ao
destino e, carregando meu pai nos ombros, fui para a montanha”).
É isso que
todos temos que fazer agora, hoje: levar conosco as raízes de nossas
tradições e fazer o caminho, subir a montanha.
Traduzido
do inglês por Wagner Fernandes de Azevedo.
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