Bolsonaro testou positivo
Ruy Castro
Jornalista
e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson
Rodrigues
Mas assintomático.
Isso explicaria por que ele pode saracotear à
vontade
Bolsonaro lança perdigotos ao falar no Palácio da Alvorada Foto: Joédson Alves - 27.mar.2020/EFE |
Já que faz
os exames e não mostra os resultados, toda suposição é válida. Eis uma. O
teste de Jair Bolsonaro para a Covid-19 deu resultado positivo no dia 12 de
março. Positivo, mas assintomático. Significa que ele pegou o
coronavírus, mas este não o afetou e, 15 dias depois, estava teoricamente
imunizado. Os outros dois exames a que se submeteu confirmaram o resultado.
Isso
explicaria que Bolsonaro possa saracotear à vontade, tirar ouro do nariz e
despejar perdigotos em sua claque – sabe que não contaminará nem
será contaminado. Passa por valente e mostra que "tinha razão". O
fato de que seu exemplo pode levar a milhares de mortes longe dali não lhe diz
nada. "Terão mortes", ele já admitiu, esfaqueando a língua.
"Paciência", resignou-se. Veremos o que dirá quando essas mortes
começarem a se dar em massa entre seus eleitores – será como se os tivesse
contaminado um a um.
Mas esqueça
o Contaminador nº 1, que estimula o povo a apostar a vida enquanto a dele está
garantida pela imunidade física e presidencial. Pense nos que, por
arrogância ou ingenuidade, estão desprezando o confinamento.
Ao sair para passear, comprar cerveja
ou bater papo com a turma na esquina estão esbofeteando um profissional
da saúde — que, neste exato momento, trabalha nas mais dramáticas condições e
arrisca sua vida por eles.
O mesmo sujeito
leviano e insensível que se julga invulnerável pode vir a lamentar a
falta de médicos — que também se contaminam — no posto a que precisará
recorrer quando chegar a sua vez.
É duro
saber que o vírus de que tais idiotas serão portadores atingirá
médicos, assistentes, enfermeiros, anestesistas, faxineiros e até motoristas de
ambulância, por mais protegidos que estejam.
Não será
preciso esperar o fim do pesadelo para que os profissionais da saúde sejam
alçados, sem discussão, à única categoria a lhes fazer justiça – a de santos
modernos.
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