A solidariedade salva a humanidade
Palavra de nosso pastor
Dom José Reginado Andrietta
Bispo
Diocesano de Jales – SP
Se a economia deve estar a serviço da vida,
cabe-nos primeiro sobreviver, defendendo juntos esse direito para todos, sem
distinção
A Covid-19
está abalando o mundo pela rapidez que se propaga e a alta letalidade que
provoca. A insegurança e o medo globalizam-se, sacudindo em tudo a vida de
todos. De repente, as contradições de nossa sociedade desvelam-se.
Economias potentes, como do Brasil, demonstram que pouco servem para sustentar
os trabalhadores que lutam para sobreviver, necessitados, agora, do
isolamento social. Pouco servem sequer para sustentar os pequenos
empresários ameaçados de falência.
Neste
momento, se os serviços não essenciais forem retomados, rompendo a quarentena,
quais vantagens teremos, se favorecerá o aumento vertiginoso de infectados a um
nível muitíssimo superior à capacidade de atendimento do sistema de saúde? A
consequência será mais desastrosa, tanto para pobres como ricos, afinal o vírus
não escolhe classe social. Se a economia deve estar a serviço da vida,
cabe-nos primeiro sobreviver, defendendo juntos esse direito para todos, sem
distinção.
Essa
pandemia afeta sobretudo os mais vulneráveis, especialmente idosos,
a quem devemos dedicar cuidado prioritário. Com eles convivemos. Circularmos
livremente, crendo ser possível manter somente eles e outros com comorbidades,
isolados, é ignorar o quanto eles dependem de nós e o quanto dependemos deles. Profissionais
da saúde, sobretudo do sistema público, tão sucateado, estão em condições
também vulneráveis. Eles defendem a vida dos demais, sem suficiente defesa.
Governantes
insensatos de muitos países, que retardaram o isolamento social, pouco fazendo
para sustentá-lo, favoreceram um número altíssimo de mortes e mais ruína
econômica por serem obrigados, agora, a alongarem a quarentena. Como garantir,
então, no Brasil a sustentabilidade do isolamento social horizontal, pouco
ainda respeitado? A conscientização e o controle do Estado têm sido
fundamentais, mas insuficientes por causa da precariedade de condições da
maioria da população.
Cabe ao
Estado subsidiar economicamente:
* os
desempregados,
* os
afastados temporariamente do trabalho,
* os
autônomos informais,
* os setores
marginalizados e
* os
microempreendedores, como meio de sustentabilidade ao isolamento social.
Essa
solidariedade, a ser exercida pelo Estado, deve implicar o setor privado,
especialmente de grande porte. É questão de justiça, pois, a título de exemplo,
os cinco homens mais ricos do Brasil têm tanto dinheiro quanto a metade dos
mais pobres, juntos.
Os gestores
públicos devem, nesta situação de calamidade, promover uma distribuição mais
justa das riquezas e taxar as grandes fortunas, em função do combate à
pandemia. A Doutrina Social da Igreja urge-lhes essa tarefa. É significativa
nesse sentido, a afirmação do Papa Bento XVI,
na Encíclica Deus é Amor:
“A justa ordem da sociedade e do Estado é dever
central da política.
Um Estado que não se regesse segundo a justiça,
reduzir-se-ia
a um grande bando de ladrões, como disse
Agostinho”.
Apreensivos
com a pandemia, almejamos paz. Ela depende de nossa corresponsabilidade e de
nossa luta em favor do que é justo. Santo Agostinho assim
o diz: “É bom desejar a paz, mas, se não se realiza a justiça, esse desejo
converte-se em mentira”, e completa com palavras propícias para a Páscoa,
sobretudo deste ano: “enquanto houver vontade de lutar, haverá esperança de
vencer”. Unamo-nos, pois, solidariamente, em Cristo, em defesa da vida,
afinal a solidariedade salva a humanidade.
Comentários
Postar um comentário