6º Domingo de Páscoa – Ano A – Homilia
Evangelho: João 14,15-21
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à narração do Evangelho deste Domingo:
José María
Castillo
Teólogo
espanhol
SER CÚMPLICE OU DISCÍPULO
Jesus faz, aqui, aos seus
discípulos a primeira promessa de que lhes dará um “Defensor” que lhes
acompanhará e estará sempre ao lado deles. Esse Defensor é o “Espírito da
verdade” ou o “Espírito Santo” (João 14,26). Para falar deste “Defensor”, o
texto grego utiliza o termo “paraklétos”, que significa o “chamado”
(por alguém para algo).
Daí, que este “paraklétos”
entende-se, nos escritos de João, como o que é chamado para defender os
discípulos. Portanto, interpreta-se como o “advogado de defesa” dos
seguidores de Jesus. Por isso, os autores antigos traduziram este termo grego
como o “advocatus”, o Advogado (Tertuliano, Agostinho, Cipriano).
Este Defensor – mais concretamente
– vem dizer aos cristãos, se são verdadeiramente seguidores de Jesus, pois
eles viverão de tal modo que necessitarão de um “advogado de defesa”, o
Paráclito, do qual fala de forma insistente o Quarto Evangelho (Jo 14,16s;
14,26; 15,26; 16,7-11; implicitamente também Jo 16,13-15).
É o Espírito que estará “com”, “junto a” e “nos” discípulos de Jesus.
Em outras palavras, os seguidores
de Jesus viverão de tal maneira que necessitarão constantemente de um “advogado
de defesa” junto a eles. Pois bem, aquele que necessita sempre de um advogado
para que o defenda, sem dúvida, trata-se de uma pessoa que irá se meter em
problemas, que viverá situações conflitivas e necessitará de ajuda
constante. Em uma sociedade, na qual impera a desigualdade em dignidade e
direitos, permanecer indiferente ou em silêncio é, em definitivo, fazer-se
cúmplice do sofrimento dos mais fracos.
Por isso, para ser coerente na
vida, necessitamos de uma luz e uma força, que somente nos
pode vir do Advogado Consolador, que é o Espírito de Deus. Assim,
compreende-se que a vida daquele que toma a sério o Evangelho, será inevitavelmente
uma vida sujeita a frequentes situações problemáticas em face aos poderes da “ordem
estabelecida”, que não suportam os critérios de vida, os valores e as
pautas de conduta ética que negam os valores que regem a presente “des-ordem”
em que vivemos.
Isso é, sem dúvida, um desafio que
assusta. Porém, é também uma luz de esperança para o futuro da humanidade. Porque
somente pessoas de Espírito poderão dar uma reviravolta nova à
civilização e à história.
José Antonio Pagola
Biblista
e Teólogo espanhol
O ESPÍRITO DA VERDADE
Jesus está
se despedindo de seus discípulos. Ele os vê tristes e abatidos. Logo, não mais
estarão com ele. Quem poderá preencher seu vazio? Até agora, foi ele quem
cuidou deles, defendeu-os dos escribas e fariseus, sustentou a fé fraca e
vacilante deles, foi-lhes revelando a verdade de Deus e iniciou-os em seu
projeto humanizador.
Jesus lhes
fala, apaixonadamente, do Espírito. Não os quer deixar órfãos. Ele,
mesmo, pedirá ao Pai que não os abandone que lhes dê “outro defensor” para que
“esteja sempre com eles”. Jesus o chama “o Espírito da verdade”. O
que se esconde nestas palavras de Jesus?
[1º] Este
“Espírito da verdade” não deve ser confundido com
uma doutrina. Esta verdade não há de ser buscada nos livros dos teólogos
nem nos documentos da hierarquia. É algo muito mais profundo. Jesus diz que
“vive conosco e está em nós”. É alento, força, luz, amor... que nos chega do
mistério último de Deus. Temos de acolhê-lo com coração simples e confiante.
[2º] Este
“Espírito da verdade” não nos converte em “proprietários” da verdade. Não vem
para que imponhamos aos outros a nossa fé nem para que controlemos sua
ortodoxia. Vem para não nos deixar órfãos de Jesus, e nos convida a
abrir-nos à sua verdade, escutando, acolhendo e vivendo seu Evangelho.
[3º] Este “Espírito
da verdade” não nos faz, tampouco, “guardiões” da
verdade, mas testemunhas. Nosso trabalho não é disputar,
combater nem derrotar adversários, mas viver a verdade do Evangelho e “amar
Jesus, observando seus mandamentos”.
[4º] Este
“Espírito da verdade” está no interior de cada um de nós defendendo-nos de tudo
que possa afastar-nos de Jesus. Convida-nos a abrir-nos com
simplicidade ao mistério de um Deus, Amigo da vida. Quem busca a este Deus com
honestidade e verdade não está distante dele. Jesus disse em certa
ocasião: “Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. Está
certo.
[5º] Este
“Espírito da verdade” convida-nos a viver na verdade de Jesus em
meio a uma sociedade aonde, com frequência, a mentira vem chamada de
estratégia; a exploração, de negócio; a irresponsabilidade, de tolerância; a
injustiça, ordem estabelecida; a arbitrariedade, de liberdade; a falta de
respeito, de sinceridade...
Que
sentido pode ter a Igreja de Jesus se nós deixarmos que se perca, em nossas
comunidades, o “Espírito da verdade”? Quem poderá salvá-la do autoengano, dos
desvios e da mediocridade generalizada? Quem anunciará a Boa Notícia de Jesus
numa sociedade tão necessitada de alento e esperança?
Traduzido do espanhol por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.
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