Ascensão do Senhor – Ano A – Homilia
Evangelho: Mateus 28,16-20
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à narração do Evangelho deste Domingo:
José María
Castillo
Teólogo
espanhol
A PROPOSTA DA ASCENSÃO AOS
CRISTÃOS
A festa da Ascensão do Senhor costuma
ser explicada a partir do relato do livro de Atos dos Apóstolos, como exaltação
às alturas da glória, coisa que se faz na expressão literária da elevação
aos céus (Atos 1,9-11). Segundo essa interpretação, a Ascensão é um
deslocamento do “terreno” ao “celestial”, do âmbito do “humano” ao “divino”. E
assim é como, com frequência, costuma-se explicar aos fiéis. E é assim que
muitas pessoas imaginam, a partir de uma representação tão ingênua quanto
falsa.
O final do evangelho de Mateus vê todo
este assunto de outra maneira. Porque o tema, no qual centra a
sua atenção, não é a “exaltação do divino”, mas a “universalização do
cristão”. Aquilo que o Ressuscitado de Mateus propõe é que foi a ele a quem
foi dado “pleno poder no céu e na terra” (Mateus 28,18).
Isso foi redigido assim, depois da
destruição de Jerusalém e da consequente dispersão do povo judeu, no ano 70.
Quando a tensão entre cristãos e judeus aumentava. E quando as comunidades
cristãs não passavam de grupos reduzidos e com escassa presença no Império.
Pois bem, entre tanta tensão e divisões religiosas, há motivos para
perguntar-se se este final do evangelho de Mateus responde ao que Jesus,
realmente, quis. Ou então, melhor ainda, se este final do evangelho de
Mateus não é senão a projeção de um desejo. O desejo de converter-se na
religião universal, que se impõe às demais religiões e que, com o passar do
tempo, foi – com o papado – o prolongamento do pretendido imperialismo
universal de Roma.
Agora, em assuntos de “religião”, as
pretensões de universalidade se traduzem inevitavelmente em violência, em
divisões, enfrentamentos, conflitos, desejos de dominação e prepotência. Um
“deus”, que pretende ser universal, por isso mesmo, pretende igualmente anular
aos demais “deuses”, fruto de culturas milenares e constitutivas da
identidade de milhões de seres humanos.
* Não seria
mais razoável entender e viver a experiência religiosa como a entendeu e a
viveu o Jesus terreno?
* Não seria,
por isso mesmo, mais lógico viver a fé em Jesus como fé na bondade, no
respeito, na tolerância, na ajuda de todos para todos, sejam quais forem as
formas concretas de crenças e práticas religiosas que cada povo e cada cultura
vive em concreto?
Eis aqui uma das questões mais
sérias que nos propõe a festa da Ascensão do Senhor.
José Antonio
Pagola
Biblista
e Teólogo espanhol
FAZER DISCÍPULOS DE JESUS
Mateus descreve a despedida de Jesus traçando as linhas de força que
guiarão para sempre o Seus discípulos, os traços que deverão marcar sua
Igreja para cumprir fielmente a Sua missão.
O ponto de partida é a Galileia. Aí os convoca Jesus. A
ressurreição não os deve levar a esquecer o vivido com Ele na Galileia. Aí o
escutaram:
* falar de Deus com parábolas
comovedoras.
* Ali o viram aliviando o
sofrimento,
* oferecendo o perdão de Deus
e
* acolhendo os mais
esquecidos.
É isto precisamente o que deverão continuar a transmitir.
Entre os discípulos que rodeiam Jesus ressuscitado, há «crentes» e há
quem «hesita». O narrador é realista. Os discípulos «prostram-se». Sem
dúvida, querem acreditar, mas em alguns desperta a dúvida e a indecisão. Talvez
estejam assustados, não podem captar tudo o que aquilo significa. Mateus
conhece a fé frágil das comunidades cristãs. Se não contassem com Jesus,
logo se apagariam.
Jesus «aproxima-se» e entra em contato com eles. Ele tem a força e o poder que a eles lhes falta. O Ressuscitado
recebeu do Pai a autoridade do Filho de Deus com «pleno poder no céu e na
terra». Se se apoiam Nele, não vacilarão.
Jesus indica-lhes com precisão qual deve ser a sua missão. Não é
propriamente «ensinar doutrina», não é apenas «anunciar o Ressuscitado». Sem
dúvida, os discípulos de Jesus terão de cuidar de diversos aspectos:
* «dar testemunho do
Ressuscitado»,
* «proclamar o evangelho»,
* «implantar comunidades», mas
tudo estará finalmente orientado para um objetivo:
* «fazer discípulos» de Jesus.
Esta é a
nossa missão:
fazer
«seguidores» de Jesus que conheçam a Sua mensagem,
que se sintonizem com o Seu projeto,
que
aprendam a viver como Ele e
que
reproduzam, hoje, a Sua presença no mundo.
Atividades tão fundamentais como o batismo, o compromisso de aderir a
Jesus e o ensino de «tudo o que é ordenado» por Ele são vias para aprender a
ser Seus discípulos. Jesus promete-lhes a Sua presença e ajuda constante.
Não estarão sós nem desamparados. Nem mesmo que sejam poucos. Nem mesmo que
sejam apenas dois ou três.
Assim é a comunidade cristã. A força do Ressuscitado é sustentada com o
Seu Espírito. Tudo está orientado para aprender e ensinar a viver como
Jesus e a partir de Jesus.
Ele continua vivo nas Suas comunidades. Continua
conosco e entre nós, curando, perdoando, acolhendo… salvando.
Traduzido do espanhol por Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo e Antonio Manuel Álvarez Perez.
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