Como nasce uma notícia falsa
Onde
conferir se a notícia é falsa ou não?
Editorial
Jornal
«O Estado de S. Paulo»
Somente o jornalismo profissional é capaz de
investigar à exaustão
os fatos na busca da verdade
O Projeto
Comprova foi uma coalizão de 24 veículos de imprensa, entre os quais o jornal
O Estado de S. Paulo, cujo objetivo era investigar a origem de
notícias falsas ou enganosas amplamente compartilhadas nas redes sociais.
Entre julho e dezembro de 2019, as redações desses veículos se debruçaram sobre
77 publicações que “viralizaram” na internet. Nada menos que 41%
delas foram consideradas enganosas, isto é, fizeram uso de fotos e vídeos
fora do contexto original, com a intenção clara de causar confusão. Além disso,
38% do total de publicações era inteiramente mentiroso, sem nenhuma
correspondência com a realidade.
Os números
impressionam, o que só confirma a extensão e a profundidade do fenômeno
conhecido como fake news [= notícias falsas], que tem desafiado o
jornalismo e a democracia.
Grupos cada
vez mais influentes têm feito campanha sistemática contra a imprensa
profissional e independente — com respaldo ou participação direta inclusive de
alguns importantes chefes de Estado mundo afora —, procurando desmoralizar o
trabalho de jornalistas e de veículos como intérpretes qualificados da
realidade. A intenção é denunciar a imprensa como integrante de uma
conspiração global destinada a acabar com as tradições e dar poder a
subversivos em geral — em especial comunistas e minorias em geral, que seriam,
segundo essa narrativa apocalíptica, os grandes sabotadores da moral
judaico-cristã ocidental. [E o pior é que há gente que
acredita nisto!!!]
Esse ataque
sistemático ao jornalismo e, por extensão, à própria noção de verdade tem como
propósito minar a democracia. Sem referências sólidas e
compartilhadas pela maioria dos cidadãos sobre o que é a realidade, resta só
a desconfiança generalizada, tornando praticamente impossível a articulação
dos consensos políticos para a implantação de políticas públicas abrangentes e
duradouras. Nesse ambiente, vicejam o populismo e soluções autoritárias.
O trabalho
do Projeto Comprova é valioso justamente porque se dedica a
restabelecer o valor da verdade dos fatos, o que se tornou crucial ante o
avanço dos liberticidas. Para esse fim, não basta simplesmente denunciar a
falsidade de uma notícia. É preciso oferecer à sociedade em geral a
possibilidade de conhecer a mecânica de uma fake news, ou seja, demonstrar como
se constrói um boato com potencial de substituir a verdade nas redes sociais.
No site
do Comprova (https://projetocomprova.com.br/),
há diversos relatos de investigações do grupo de veículos integrantes do
projeto. Em todos os casos, procura-se conhecer a origem da informação
inverídica e a trajetória do boato até ser compartilhado milhares de vezes —
processo em que adquire aura de realidade.
Um exemplo
muito interessante, do qual o jornal O Estado de S. Paulo participou, é
a investigação sobre o vídeo de um suposto navio venezuelano que estaria
despejando petróleo no litoral nordestino. As imagens foram publicadas no
dia 10 de outubro num perfil do Facebook simpático ao presidente Jair Bolsonaro
e compartilhadas quase 7 mil vezes em um só dia — o governo, na época, chegou a
sugerir que a Venezuela do ditador Nicolás Maduro estaria por trás do
vazamento.
Na
investigação do Comprova, tomou-se um frame (foto de um instante do
vídeo) e, a partir dele, a equipe procurou na internet imagens semelhantes
àquela — a chamada “busca reversa”. Outras pistas foram seguidas até que
os jornalistas encontraram o vídeo original — era de um navio ao largo de
uma praia em Portugal. Esse vídeo foi publicado em abril, antes, portanto
do acidente com petróleo na costa brasileira. Além disso, o Comprova
entrevistou o dono da página portuguesa que publicou o vídeo e obteve dele os
metadados das imagens — isto é, os dados que permitem checar o dia e o local
em que elas foram feitas —, para confirmar que era ele mesmo o autor das
imagens. O Comprova atestou a veracidade do vídeo e seu contexto
verdadeiro, demonstrando assim que a postagem do perfil bolsonarista no
Facebook era falsa.
Como se
observa, o Comprova transformou a crise causada pela onda de fake news
em oportunidade não só para explicar como uma mentira é produzida, mas
principalmente para demonstrar que somente o jornalismo profissional é capaz
de investigar exaustivamente os fatos e ir além das aparências, em busca
da verdade.
Anote aí...
Onde mais saber o que é Notícia Falsa (fake news):
1) Estadão Verifica
Você
já recebeu textos, áudios, fotos ou vídeos suspeitos no WhatsApp?
Por
sua facilidade de uso e quase onipresença nos celulares dos brasileiros, o
aplicativo é uma ferramenta muito usada na proliferação de notícias falsas.
É por
isso que o Estadão Verifica (clique aqui)
criou um canal para receber rumores dos leitores e checar os que estiverem
circulando com mais frequência.
O
número para contato e envio do material pelo WhatsApp é (11) 99263-7900.
Como o
volume de mentiras espalhadas nas redes é grande, não podemos garantir que será
possível conferir a veracidade de tudo o que nos for enviado.
No
entanto, sua colaboração é essencial para selecionar os boatos mais relevantes
e
impedir sua disseminação, melhorando o ambiente de informações
2) Agência Lupa
A Agência
Lupa (clique aqui)
é primeira do setor de checagem de fatos do Brasil a ser criada em nosso país.
Ela integra o site Folha de S. Paulo e seus trabalhos estão diretamente
ligados a fatos compartilhados pelas redes sociais.
Para
entrar em contato com a Lupa, basta mandar uma mensagem no Facebook (aqui)
diretamente para o Messenger, que o bot irá auxiliar a avaliação das
informações como verdadeiras ou falsas.
3) Fato ou Fake
Criado
pelo grupo Globo, Fato ou Fake (clique aqui)
faz a apuração de notícias falsas com
uma equipe composta por jornalistas que trabalham em veículos como Época,
Extra, G1, CBN, Época, Extra, TV Globo, GloboNews, Jornal O Globo e Valor
Econômico. Este site é responsável por verificar notícias muito compartilhadas
de assuntos gerais.
Se
você quiser fazer uma denúncia de alguma notícia falsa, pode ir à página do Facebook
do Fato ou Fake (clique aqui),
ou mandar uma mensagem para o WhatsApp, através do número (21) 97305-9827.
4) E-Farsas
Lançado
em 2001, o E-Farsas ( clique aqui)
é um dos sites de checagem de notícias mais antigo que foi criado. O site é
responsável por avaliar boatos que são espalhados diariamente pela internet.
Após a avaliação, um post é feito para que as pessoas possam ter acesso ao
conteúdo.
Para
mandar uma sugestão de notícia a ser verificada para o site, basta apenas ir na
aba de Contato do site (clique aqui).
Ou, então, faça contato pelo WhatsApp: (11) 96075-5663.
5) Fake Check
O
detector de notícias falsas Fake Check (clique aqui)
é uma plataforma que foi criada pela junção de pesquisadores da Universidade de
São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Diferentemente de uma agência, a plataforma utiliza aprendizagem de máquina e
inteligência artificial para avaliar se um texto é verdadeiro ou falso.
Para
entrar em contato com o Fake Check, basta apenas enviar uma mensagem para o bot
do WhatsApp através do número (16) 98821-2457 ou acessar esta página aqui.
6) Boatos
O Boatos
(clique aqui) é um
site criado pelo jornalista Edgard Matsuki em 2013. Seu objetivo é
publicar verificações de notícias populares na internet. Inicialmente focada em
boatos com viés de curiosidade, a plataforma foi se tornando, aos poucos,
também em um serviço voltado para o que ficou conhecido como fake news.
O trabalho é
realizado por uma equipe pequena de jornalistas: apenas quatro profissionais,
incluindo o próprio Edgar. As sugestões de notícias para checagem costumam
surgir na área de comentários de posts do site. Em geral, usuários enviam
solicitações com links de algo suspeito para recomendar a verificação.
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