Imoralidade social
“É
impossível uma sociedade que consiga naturalizar estas mortes como
a
brasileira naturaliza”
Morris
Kachani
Inconsciente
Coletivo – Vozes de nosso tempo
VLADIMIR SAFATLE,
filósofo, escritor e professor de Filosofia
da USP
analisa as reações das pessoas diante da
pandemia da Covid-19
Medo.
Violência.
Melancolia
social difusa.
Desamparo.
Estrutura
de afetos políticos.
Solidariedade.
Emancipação.
Desejo.
A partir
destas palavras-chave, o filósofo Vladimir Safatle, professor
livre-docente da Universidade de São Paulo [USP], desenvolve um olhar próprio
sobre como a pandemia evolui no país. Que pode ser resumido em duas
palavras: imoralidade social.
Assista
ao vídeo com a entrevista,
clicando
sobre a imagem abaixo:
“A substância
ética de um povo é definida pela maneira como ele se relaciona com a
morte. Uma relação com a morte que é marcada:
* pela
INDIFERENÇA,
* pela
INCAPACIDADE COMPLETA DE RESPEITO com relação a aquele que não conheço,
é de uma imoralidade
social sem precedentes. A morte define questões vinculadas à memória,
universalidade e respeito. É impossível uma sociedade que consiga naturalizar
estas mortes como a brasileira naturaliza”.
“Talvez a
experiência social da pandemia mostre, que a proposição “meu corpo, minhas
regras” é errada. O corpo não é meu. Ele também é um veículo de contágio
que interfere na vida do outro. O que eu decido, afeta a vida do outro.
Se é isso, alguma coisa mudou”.
“A função
do Estado é não só administrar a vida, como também organizar a morte e o
desaparecimento. A gente como sociedade escravocrata sabe o que isso significa.
Dividimos em dois estamentos. Tem aqueles que alcançam a condição de pessoa,
em que a morte tem luto, tem dolo, tem narrativa, história, tristeza. E tem o
outro, que é um número só. A gente conhece essa lógica. Ela funda a
sociedade brasileira. Ela foi generalizada agora, só que com um elemento a
mais. É a lógica suicidária. As pessoas que fazem carreata na frente de
hospitais querem admitir a lógica sacrificial”.
“O Estado
brasileiro se coloca como porta-voz deste tipo de afeto, o que deixa marcas na
sociedade. Discursos que nunca imaginávamos ouvir, se naturalizam.
A situação é cada vez mais calamitosa do ponto de vista de convivência social”.
“Nós
brasileiros fracassamos na nossa construção como sociedade civil. Não se
trata de masoquismo social. Este é um exercício fundamental para que possamos
medir o tamanho das tarefas que nos aguardam daqui para frente”.
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