Quem pode parar Bolsonaro
Tabata Amaral
Cientista
política, astrofísica e deputada federal pelo PDT-SP.
Formada
em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito
Entre os cúmplices da tragédia estarão o
fisiologismo político,
os militares e os omissos
TABATA AMARAL |
Em 2018,
durante a convenção partidária do PSL, o deputado federal Eduardo Bolsonaro
advertiu os seus aliados: “mais difícil do que chegar lá é se manter lá
(...). Em 2019, quando o couro comer, quero saber se vocês vão se deixar
seduzir pelo discurso do centrão ou vão se
manter firmes com Bolsonaro”.
Hoje, quase
dois anos depois, estamos diante de um presidente que, por ser refém da sua
própria ignorância, se mostra incapaz de conduzir o país diante da pior crise
da nossa geração.
E não se enganem, a ignorância é tão corrosiva e prejudicial
quanto
a corrupção, a incompetência e a má fé.
Acuado e
sem força para pautar o Congresso, foi o próprio presidente, e não seus
aliados, quem não demorou a correr em busca do apoio do grupo que, em suas
falas, ele tanto condenou.
“Não
queremos negociar nada”, disse Bolsonaro em um ato pró-intervenção militar
no dia 19 de abril, dias antes de ele começar a negociar cargos com
representantes do que há de mais fisiológico na política nacional.
Foi assim
que Roberto Jefferson, mensaleiro condenado por
corrupção, passou a ser um dos principais defensores do discurso autoritário de
Bolsonaro. Em suas publicações recentes, o presidente nacional do PTB urgiu a
demissão de todos os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a cassação de
concessões de rádio e televisão das empresas do grupo Globo, e também postou
uma foto segurando um fuzil, junto com os slogans do governo Bolsonaro.
Suas
palavras são graves, e eu as denunciei ao Ministério Público.
ROBERTO JEFFERSON Presidente do PTB - Nome mais expressivo da tal "velha política" Agora, aliado e defensor de Jair Bolsonaro, quem diria?! |
Enquanto Bolsonaro
celebra sua união com o que há de mais atrasado na política brasileira e não
poupa esforços para impedir que as graves acusações feitas contra ele sejam
investigadas, mais de 15 mil vidas já foram perdidas para a Covid-19.
Para se
manter no poder, ele distribui cargos para seus novos aliados, desidrata
ministros quando eles insistem em seguir consensos científicos ou ferem a
vaidade do presidente e age como se o Estado brasileiro fosse a sua casa.
Estamos nos tornando o país da pós-verdade,
com a pior resposta à pandemia.
Milhares de pessoas morrerão do vírus e
outras ainda de fome
E, entre os
cúmplices dessa tragédia, estarão não só aqueles que, em troca de cargos,
decidiram fechar os olhos ao que está acontecendo, mas também os militares,
pois a ditadura da ignorância vem envolvendo e apequenando também as Forças
Armadas.
Foram
décadas para que essas instituições voltassem a ter credibilidade e agora
vemos generais da ativa se prestando ao serviço de defender o indefensável.
Bolsonaro
não está brincando. Aqueles que decidiram ignorar seus arroubos autoritários e
ofensas aos direitos humanos por décadas não achavam que ele chegaria um dia à
Presidência da República, mas cá estamos. Da mesma forma, muitos insistem em
passar panos quentes e dizem que a possibilidade de golpe é remota, mas, menos
de 40 anos atrás, vivíamos sob um governo autoritário.
Além disso,
é ingênuo acreditar que qualquer solução para a crise poderá vir de
Bolsonaro, quando ele insiste em ser parte do problema. Essa pode ser uma
das nossas últimas oportunidades de deixarmos divergências ideológicas de
lado e nos unirmos em prol da nossa democracia e da vida dos brasileiros.
Em
entrevista ao jornal O Globo, no último sábado (16 de maio), o deputado
federal Marcelo Freixo fez um apelo às forças democráticas do nosso país. Eu
faço coro à sua fala e espero que todo cidadão e político do campo democrático
o façam também.
As gerações
futuras não perdoarão quem se omitir neste momento, seja por
covardia, seja por vaidade.
Comentários
Postar um comentário