4º Domingo da Páscoa – Ano A – Homilia
Evangelho: João 10,1-10
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a essa cena do Evangelho deste Domingo:
José María
Castillo
Teólogo
espanhol
PASTORES
QUE CAUSAM DANO À IGREJA
A Palestina do tempo de Jesus era
um país no qual a pecuária (gado pequeno) e a agricultura eram duas realidades
importantes. Compreende-se a frequência com que o Novo Testamento utiliza a
imagem do pastora de gado menor para explicar
como devem comportar-se os sacerdotes e os dirigentes religiosos em
geral (Mt 18,12; 25,32; At 20,28-29; 1Pd 5,2-4; Mc 14,27; Hb 13,20).
Sobretudo, para entender o alcance
do capítulo 10 de João, há que se ter presente que Jesus dirige este duro
discurso , não somente contra os «pastores de Israel» (líderes religiosos),
mas mais concretamente contra os fariseus com os quais se confrontou ao
curar o cego de nascença (João 9,19-41).
Segundo a Mishná (Quid.
IV,2; b. Samb. 25,12), o ofício de pastor não era tarefa de pobres, mas
um dos «ofícios desprezados» em Israel. A maioria deles eram fraudadores e
ladrões. Por isso, estava proibido comprar deles lã, leite ou cabritos. Nestas
condições, Jesus faz a grande denúncia pública contra os «pastores
religiosos» daquele povo, aos quais acusa de «estranhos» («allótrios»
= «alheios», «não próprios» [João 10,5]), de «ladrões» e «assaltantes» (João
10,8).
Dado que esta acusação refere-se
aos fariseus, resulta notável que Jesus qualifique com tanta dureza a
conduta moral dos pastores mais observantes dos rituais religiosos.
Por que esta denúncia? Porque os ritos são ações que, devido ao rigor na
observância das normas, se constituem um fim em si. Daí que, a primeira
coisa no comportamento do ritual religioso é o rito mesmo, não o ethos,
a conduta moral.
Isso é o que explica a mais
profunda denúncia que Jesus faz em sua acusação contra os pastores aos quais,
na verdade, não importa o rebanho, que não conhecem, nem são
conhecidos por suas ovelhas. Porém, sobretudo, são ladrões e assaltantes. A
preocupação central destes homens é cumprir as normas, observar os
ritos, serem vistos como pessoas exemplares.
O problema é que eles tornam essa
preocupação central compatível com «vidas ocultas» e «sentimentos
inconfessáveis» que são próprios de autênticos bandidos. Jesus quer dizer,
com esta acusação, que quem mais dano causa à Igreja são os «pastores» da Igreja.
Aos que São Paulo já enumera entre os responsáveis da comunidade cristã
(Efésios 4,11).
José Antonio
Pagola
Biblista
e Teólogo espanhol
NOVA RELAÇÃO COM JESUS
Nas comunidades cristãs precisamos viver uma experiência nova de Jesus
reavivando nossa relação com ele. Colocá-lo, decididamente, no centro
de nossa vida. Passar de um Jesus confessado de modo rotineiro a um Jesus
acolhido vitalmente. O evangelho de João faz algumas sugestões importantes ao
falar da relação das ovelhas com seu Pastor.
A primeira coisa é «escutar sua voz» em todo seu
frescor e originalidade. Não confundi-la com o respeito às tradições nem com a
novidade das modas. Não deixar-nos distrair nem aturdir por outras vozes
estranhas que, ainda que se escutem no interior da Igreja, não comunicam sua
Boa Notícia.
É importante nos sentirmos chamados por Jesus «por nosso nome».
Deixar-nos atrair, pessoalmente, por ele. Descobrir pouco a pouco e, cada vez
com mais alegria, que ninguém responde como ele a nossas perguntas mais
decisivas, a nossos anseios mais profundos e a nossas necessidades íntimas.
É decisivo «seguir» Jesus. A fé cristã não
consiste em acreditar em coisas sobre Jesus, mas em crer nele: viver confiando
em sua pessoa. Inspirar-nos em seu etilo de vida para orientar nossa
própria existência com lucidez e responsabilidade.
É vital caminhar tendo Jesus «adiante de nós». Não realizar
a viagem de nossa vida sozinhos. Experimentar em algum momento, ainda que de
maneira desajeitada, que é possível viver a vida a partir de sua raiz: a partir
desse Deus que se nos oferece em Jesus, mais humano, mais amigo, mais próximo e
salvador que todas as nossas teorias.
Esta relação viva com Jesus não nasce em nós de maneira automática. Vai se despertando em nosso interior de forma frágil e humilde. No
começo, é quase somente um desejo. No geral, cresce rodeada de dúvidas,
interrogações e resistências. Porém, não sei como, chega um momento em que o
contato com Jesus começa a marcar, decisivamente, a nossa vida.
Estou convencido de que o futuro da fé entre nós está se decidindo, em
boa parte, na consciência daqueles que se sentem cristãos, nestes momentos.
Neste exato momento, a fé está se reavivando ou se extinguindo em nossas
paróquias e comunidades, no coração dos sacerdotes e fiéis que as formam.
A incredulidade começa a penetrar em nós no exato momento em que nossa
relação com Jesus perde força, ou fica adormecida pela rotina, indiferença e
despreocupação. Por isso, o Papa Francisco reconheceu
que «necessitamos criar espaços motivadores e de cura... lugares onde
regenerar a fé em Jesus». Temos de escutar seu chamado.
Traduzido do espanhol por Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo.
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